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Transtornos de personalidade: conheça os tipos e seus sintomas

Ter um transtorno de personalidade traz enorme sofrimento e prejuízos à vida da pessoa - Freepik
Ter um transtorno de personalidade traz enorme sofrimento e prejuízos à vida da pessoa - Freepik

Anderson José Publicado em 17/02/2021, às 19h27 - Atualizado em 19/02/2021, às 19h27

A personalidade dos indivíduos é formada na primeira infância entre os 2 e os 14 anos de idade. Porém, independente da ordem cronológica, é fato que na vida adulta a personalidade está formada e ela se baseia no conjunto de características físicas, sociais e até genéticas da maneira como nos comportamentos socialmente e nas relações com os outros. Ter um transtorno de personalidade, portanto, significa possuir um certo tipo de comportamento social não esperado em determinados contextos e situações.

Por ser um transtorno, ele causa sofrimento mental e acarreta os mais variados prejuízos àquele indivíduo que possui essa condição psiquiátrica. Vale ressaltar que todos nós temos traços que se encontram em um ou outro transtorno, no entanto, o transtorno de personalidade não é uma característica temporária, mas sim persistente, já que se faz presente em todos os aspectos da vida do paciente, desde a relação consigo até a forma como os outros o veem.

Como é feito o diagnóstico?

O médico psiquiatra, durante a avaliação psíquica e história do paciente, deve levar em consideração os pontos abaixo:

  • A característica da personalidade deve ser permanente;
  • As características estão presentes em tudo o que o paciente faz;
  • Começa a se manifestar de forma mais acentuada entre o final da adolescência e o início da vida adulta;
  • Para diagnóstico de menores de 18 anos deve-se considerar a existência de sintomas há, pelo menos, 1 ano. Contudo, transtornos de personalidade só podem ser diagnosticados em maiores de idade.

O transtorno de personalidade é um padrão que pode se manifestar nas ações do paciente e, sobretudo, nas áreas de cognição, afetividade, relacionamento interpessoal e no controle de seus impulsos. Isso não pode ser atribuído a efeitos colaterais causados por uso de medicamentos ou coisa do tipo, já que é um traço persistente da personalidade daquela pessoa e que pode coexistir com outras doenças psiquiátricas como ansiedade e depressão.

Tipos de transtorno de personalidade

São vários os transtornos de personalidade e alguns deles possuem algumas características em comum. A seguir, dividiremos os transtornos por grupos tanto para facilitar o entendimento, como para seguir a divisão feita pelos psiquiatras.

GRUPO A: Paranoide, Esquizoide e Esquizotípica

PARANOIDE (CID 10 - F60.0)

Principais sinais e sintomas:

- Não consegue confiar nos outros;

- Guarda rancor;

- Suspeita da fidelidade do companheiro ou companheira;

- Enxerga maldade onde não há;

- Acha que sempre estão tramando contra ele.

O próprio nome do transtorno pode suscitar suas características, já que é uma pessoa que monta paranoias na cabeça e, dado os pontos acima listados, é de difícil convivência.

ESQUIZOIDE (CID 10 - F60.1)

Principais sinais e sintomas:

- Evita relações com os outros e até com a família;

- Se afasta das pessoas e prefere fazer atividades solitárias;

- Prefere ficar e se manter distante dos demais;

- Não tem amigos, confidentes e reage de maneira indiferente quando recebe algum elogio e/ou crítica;

- Não tem interesse sexual.

São pessoas com dificuldade de conviver com outras pessoas e busca o máximo de afastamento possível dos outros, assim, também não se envolve afetivamente tampouco de forma íntima com os demais.

ESQUIZOTÍPICA (CID 10 - F21)

Principais sinais e sintomas:

- Capacidade reduzida para construir relacionamentos íntimos;

- Tem muitas ilusões e pensamentos extremamente elaborados, metafóricos e de difícil compreensão;

- Possui comportamento excêntrico e acha que estão falando dele o tempo todo;

- Não responde de maneira adequada a afetos, ou seja, em situações onde é esperado que o indivíduo fique triste, ele fica alegre e vice versa;

- Não tem laços de amizade;

- Desenvolve ansiedade social excessiva que está relacionada a construção de temores paranoides.

É uma mistura do traço paranoide com o esquizoide e nutre comportamento considerado estranho e excêntrico. Cerca de 50% desses pacientes também têm depressão, além de poderem apresentar transtorno psicótico.

GRUPO B: Antissocial, Borderline, Histriônica e Narcisista

ANTISSOCIAL (CID 10 - F60.2)

Principais sinais e sintomas:

- Desconsidera e viola os direitos alheios;

- Não se ajusta às normas sociais e legais;

- É capaz de trapacear, mentir e ser falso para obter aquilo que deseja;

- É impulsivo, já que não faz muitos planos;

- É irresponsável e negligente por não presar nem por sua segurança tampouco a dos outros;

- Possui elevada irritação e agressividade;

- Não tem remorso daquilo que faz.

Este tipo de transtorno já foi chamado de psicopatia e sociopatia. É mais comum em homens e o diagnóstico só é fechado em maiores de idade, no entanto, antes dos 15 anos de idade do paciente esse comportamento já apresenta traços, mas, uma vez diagnosticada, essa condição pode melhorar com o passar dos anos a partir do envelhecimento do paciente e do acúmulo de experiências e situações vividas.

BORDERLINE (CID 10 - F60.3)

Principais sinais e sintomas:

- Instável nas relações interpessoais, na autoimagem e nos afetos;

- A impulsividade é marcante;

- Teme abandono e se esforça para que isso não ocorra por mais que haja um risco real ou fantasioso de acontecer;

- Tem uma percepção de si alterada marcando uma perturbação de identidade;

- Automutila-se como forma de extravasar o sofrimento psíquico;

- Sentimento de vazio crônico;

- Sente raiva e reage de forma impulsiva da mesma forma às vezes por ideação paranoide;

Também conhecido como Transtorno de Personalidade Limítrofe, já que a pessoa vai do oito a oitenta em fração de segundos. Em geral, esse quadro é mais prevalente nas mulheres e meninas adolescentes. Nesses casos, deve-se pesquisar antecedentes de traumas como abusos, abandono parental e conflitos familiares (vivência de brigas, agressões e situações do gênero na família). É muito comum ter comorbidades associadas como a depressão e ansiedade.  

HISTRIÔNICA (CID 10 – F60.4)

Principais sinais e sintomas:

- Busca ser o foco das atenções;

- É uma pessoa emocional que busca ser vista o tempo todo;

- Apesar de emocional, expressa isso de forma superficial;

- Tenta usar da aparência física para chamar a atenção;

- Faz discursos com o intuito de impressionar aqueles que ouvem;

- Autodramatização (teatralidade) são recursos utilizados pelo indivíduo a fim de se tornar o centro das atenções;

- Força intimidade achando que é íntimo de uma pessoa sem que isso exista;

- É uma pessoa intensa demais e com facilidade na construção de amizades, porém, apresenta dificuldade de mantê-las com o tempo.

O transtorno de personalidade histriônico é o diagnóstico diferencial do transtorno de Borderline. A diferença é que aqui também há a necessidade de atenção e medo do abandono, no entanto, no Borderline há, além disso, a raiva e a autodestruição.

NARCISISTA (CID 10 – F60.8)

Principais sinais e sintomas:

- Pessoa deslumbrada;

- Acredita que é um ser especial;

- Apresenta necessidade de admiração e acha que deve ser admirada, pois é grandiosa;

- Falta de empatia pelos outros;

- Acha que tem mais direitos que os demais;

- Fantasias de sucesso e supervalorização de conquistas;

- Quer atenção o tempo todo, mas para ter sua superioridade vista;

- É explorador das relações por achar que ninguém, além dele, é digno de admiração e sucesso.

- Demonstra comportamento arrogante e invejoso;

Já ouviu alguém falar “Sabe com quem você está falando?” Pois bem, esse é um traço importante de pessoas com esse tipo de transtorno de personalidade.  Apesar das características listadas, o narcisista tem autoestima frágil e é extremamente sensível a críticas e derrotas. Isso leva a retraimento social e humor deprimido, porque a pessoa passa a sofrer, já que ninguém quer mais conviver com ela.

GRUPO C: Evitativa, Dependente, Obssessivo-Compulsivo

EVITATIVA (CID 10 – F60.6)

Principais sinais e sintomas:

- Sentimento de inadequação social;

- Tem inibição social elevada a ponto de não querer nenhum tipo de relação com as outras pessoas;

- Se considera incapaz e “menos” que os outros;

- Acha que todos o avaliam negativamente;

- Evita realizar atividades em que possa ser criticado ou avaliado negativamente;

- Se envolve apenas com aqueles que já conhece e o avaliam de forma positiva;

- Reluta em assumir riscos por medo do fracasso.

Esse tipo de transtorno, como os demais, pode coexistir com outras comorbidades psiquiátricas, mas neste caso é a fobia social por evitar contato. São pessoas que têm muito medo e são ansiosas, por isso preferem ficar sozinhas.

DEPENDENTE (CID 10 – F60.7)

Principais sinais e sintomas:

- Possui necessidade excessiva de cuidado e amparo;

- Apresenta comportamento de submissão;

- É incapaz de tomar decisões;

- Precisa que outros assumam suas responsabilidades;

- Se sente incapaz de resolver problemas;

- Não consegue manifestar desacordo diante daquele que se considera dependente;

- Não tem autonomia para iniciar projetos;

- Se considera incapaz de cuidar de si e, por isso, teme ficar sozinho;

- Teme separações e, na ausência de alguém, busca com urgência novos relacionamentos.

Essa condição de dependência dos demais não pode ser confundida com relacionamentos abusivos onde a mulher, por exemplo, não consegue sair daquela situação conflituosa por inúmeros fatores financeiros, patrimoniais, emocionais entre outros. No caso do transtorno dependente, a pessoa não quer ficar sozinha por se considerar incapaz de cuidar de si e viver só.

OBSESSIVO-COMPULSIVO* (CID 10 – F60.5)

Principais sinais e sintomas:

- Preocupação excessiva com ordem e cumprimento de regras;

- Buscam perfeição em tudo o que fazem;

- Prezam tanto pelos detalhes que não conseguem executar aquilo que foi planejado;

- Dedicam-se demais ao trabalho;

- Não conseguem trabalhar em equipe por acreditar que só ele consegue realizar as tarefas com perfeição;

- É rígido, teimoso e, muitas vezes, assume postura arrogante;

- Tem um estilo miserável de gastos, economizando tudo o que pode para necessidades futuras;

- Por vezes acumula objetos por ser incapaz de se desfazer deles.

*Não é TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), embora possa coexistir com esse transtorno de personalidade.

Prevalência

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 700 milhões de pessoas têm algum tipo de transtorno de personalidade no mundo.

Vale lembrar que é comum a existência de comorbidades, ou seja, o indivíduo afetado desenvolve outros transtornos, como a depressão, por exemplo. O Brasil o país com a maior prevalência de depressão na América Latina, com mais de 6% da população no ano de 2020.

Tratamento e prevenção

Os transtornos de personalidade são difícil diagnóstico, já que compartilham muitas características a outros quadros. Nesse sentido, a família do paciente pode ajudar não apenas no momento do diagnóstico, mas sobretudo para que o tratamento seja eficiente e capaz de devolver a qualidade de vida daquele indivíduo.

Os medicamentos utilizados no tratamento desses transtornos são comuns àqueles que o psiquiatra indica no tratamento da depressão e também da ansiedade, pois são comuns estarem associados.

Além do tratamento farmacológico, a psicoterapia pode ser bastante resolutiva se feita de maneira periódica e com profissional capacitado.