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Ele (a) quer te fazer mal ou só tem posição política diferente da sua?

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Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h55 - Atualizado às 23h53

Você já pode ter se perguntado, alguma vez, se não estava sendo “paranoico” ao desconfiar que alguém poderia estar fazendo algo só para te prejudicar. Ou provavelmente já usou esse termo para se referir a alguém. Exageros à parte, esse tipo de sensação, que é importante para a nossa defesa e sobrevivência, muitas vezes gera conflitos desnecessários e doentis.

A paranoia intensa pode ser sintoma de alguns transtornos mentais, como a esquizofrenia, ou de personalidade. Indivíduos diagnosticados com o transtorno de personalidade paranoide, além de suspeitar sempre da fidelidade dos outros, costumam guardar rancor, reagir com raiva, e ter resistência para se abrir com os outros, inclusive profissionais de saúde.  Essas características também podem aparecer em outros transtornos, como os de personalidade antissocial, borderline ou narcisista. Qualquer que seja o caso, essa suspeita constante traz enormes prejuízos para os relacionamentos e para a vida social.

Pesquisadores da Universidade College London, no Reino Unido, descobriram que a tendência a achar que alguém está tentando nos prejudicar aumenta quando interagimos com alguém que tem um status social mais elevado, ou quando o outro tem crenças políticas muito diferentes das nossas.

O experimento, descrito no Royal Society Open Science, contou com mais de 2.000 participantes. Cada um respondeu a questionários que envolviam perguntas sobre status socioeconômico, crenças políticas e também traços de personalidade. Depois, os indivíduos foram selecionados para interagir com um parceiro com status parecido ou diferente.

As duplas participaram do “jogo do ditador”, um tipo de teste bastante usado por psicólogos e economistas em pesquisas sobre comportamento. Um líder recebeu uma pequena parcela em dinheiro e teve que decidir se dividia o valor com o parceiro ou fica com tudo, enquanto o outro tinha que justificar a decisão tomada.

As pessoas que estavam com um parceiro que tinha status social mais elevado ou crenças políticas divergentes foram mais propensas a achar que a decisão tinha sido tomada para lhe causar danos, e não por interesse próprio. Os pesquisadores perceberam que essa tendência se manteve mesmo entre os participantes que não apresentavam traços paranoides.

Segundo os autores do estudo, os resultados podem ajudar a explicar como a sensação de exclusão social pode alimentar o sintoma e os transtornos associados a ele. Numa época em que a internet permite a interação com tanta gente que pensa e vive de forma diferente, os dados também podem servir de alerta para quem anda desconfiado além da conta.