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Síndrome do “coração partido” tem aumentado entre mulheres mais velhas

A síndrome pode ser desencadeada por um evento estressante, como morte, separação ou traição - iStock
A síndrome pode ser desencadeada por um evento estressante, como morte, separação ou traição - iStock

Redação Publicado em 14/10/2021, às 17h00

Um novo estudo publicado no Journal of the American Heart Association (JAHA) sugere que mulheres de meia-idade e mais velhas estão sendo diagnosticadas com a rara cardiomiopatia conhecida como “síndrome do coração partido” – ou de Takotsubo – com mais frequência e até dez vezes mais do que homens e mulheres mais jovens de qualquer idade. 

Além disso, a pesquisa diz ainda que a condição tornou-se mais comum e tem a sua incidência aumentada constantemente desde antes da pandemia de Covid-19. Segundo os autores, embora todo o contexto de isolamento social tenha imposto muitos desafios e estressores, os dados mostram que o número de diagnósticos de Takotsubo estava subindo antes do surto de saúde pública. 

O que é a “síndrome do coração partido”?

A “síndrome do coração partido” ou de Takotsubo é uma cardiopatia rara que foi descrita pela primeira vez por médicos japoneses em 1990. O nome escolhido é o mesmo dado pelos pescadores para a armadilha usada para capturar polvos (tako = polvo; tsubo = jarra ou vaso). Na síndrome, parte do coração ganha esse mesmo formato. 

A condição apresenta sintomas que se assemelham a um infarto, podendo levar a uma insuficiência cardíaca severa e, em alguns casos, até ser fatal. Mas, em geral, ela é tratável e a recuperação pode ser completa dentro de semanas e com um baixo risco de reincidência. 

Entre os principais sintomas estão: aperto no peito, dificuldade para respirar, tonturas e vômitos, perda do apetite e dor no estômago. Além disso, raiva, tristeza profunda ou depressão, dificuldade para dormir, cansaço excessivo, perda da autoestima e sentimentos negativos também podem ser sinais da presença da síndrome. 

Existem alguns fatores que predispõem uma pessoa a desenvolver a doença, como depressão, saúde mental debilitada e doenças cardíacas. Mas indivíduos saudáveis também estão suscetíveis e as mulheres são consideradas mais vulneráveis.

As causas ainda estão em estudo, mas são relacionadas a um evento estressante: morte, separação, traição, distanciamento, rejeição ou, até mesmo, uma surpresa boa, como ganhar na loteria. 

Todas estas situações provocam um aumento da produção de hormônios do estresse, como o cortisol, e podem gerar contração exagerada de alguns vasos cardíacos, causando danos ao coração. 

Não existe um tratamento específico. Em casos mais graves, são utilizados os mesmos medicamentos para insuficiência grave associada ao infarto e também apoio psicológico ou psiquiátrico. 

Por isso, a recomendação é evitar o estresse, um dos fatores que podem desencadear a síndrome. Contato social, mesmo à distância, atividades físicas e relaxamento podem ajudar a diminuir a tensão. 

Confira:

83,3% dos casos são mulheres de meia-idade

Os pesquisadores usaram dados hospitalares nacionais coletados de mais de 135.000 mulheres e homens estadunidenses com diagnóstico da síndrome de Takotsubo entre 2006 e 2017. 

Embora o fato de as mulheres serem mais vulneráveis já ser uma informação conhecida, os resultados também revelaram que os casos têm aumentado entre mulheres de 50 a 74 anos.

As principais descobertas incluem: 

  • Dos 135.463 diagnósticos documentados, a incidência anual aumentou constantemente em ambos os sexos, com as mulheres contribuindo com a maioria dos casos (83,3%), especialmente aqueles com mais de 50 anos;
  • Foi observado ainda um aumento significativamente maior da incidência entre mulheres de meia-idade e mulheres mais velhas em comparação com as mais jovens;
  • Para cada diagnóstico adicional de Takotsubo em mulheres mais jovens — ou homens de todas as faixas etárias — houve 10 casos a mais diagnosticados para mulheres de meia-idade e seis adicionais para mulheres mais velhas.

Mais pesquisas são necessárias

De acordo com os autores do estudo, a forma como o cérebro e o sistema nervoso respondem a diferentes tipos de estressores é algo que muda à medida que as mulheres envelhecem. Assim, é provável que haja um ponto de inflexão, logo após a meia-idade, no qual uma resposta excessiva ao estresse pode impactar o coração. 

Apesar de os profissionais de saúde já discutirem há tempos sobre como a conexão entre estresse e o risco de doenças cardíacas é extremamente importante, ainda há muito para analisar. 

Para eles, o estudo ajuda a esclarecer que mulheres de uma determinada faixa etária estão desproporcionalmente em maior risco de cardiomiopatia por estresse e que estes riscos têm aumentado significativamente. 

Essa ascensão pode ser causada pelo aumento da vulnerabilidade em decorrência da idade ou por mudanças no meio ambiente. Por isso, mais trabalho e pesquisas são necessários para desvendar os influenciadores deste fato. 

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