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Saúde mental de pessoas LGB ainda é mais vulnerável, apesar de avanços

Os impactos da discriminação e da exclusão social podem ser mais duradouros do que se imagina - iStock
Os impactos da discriminação e da exclusão social podem ser mais duradouros do que se imagina - iStock

Redação Publicado em 17/02/2021, às 17h00

Pessoas lésbicas, gays e bissexuais (LGB) são mais propensas a apresentar transtornos de saúde mental e relatar uso indevido de álcool ou drogas ilícitas quando comparadas aos heterossexuais. É o que mostra uma pesquisa da Universidade College London (UCL), em colaboração com a Universidade de East Anglia, publicada na revista Psychological Medicine.

O estudo chama atenção para o fato de que, apesar dos avanços, nos últimos anos, para combater estigmas e garantir os direitos de gays, lésbicas e bissexuais, essa população continua sofrendo mais. E isso se traduz em risco mais alto de ansiedade, depressão e uso de substâncias psicoativas, como drogas e álcool. A população trans não foi incluída nessa análise. 

De acordo com Michael King, professor de psiquiatria da UCL e autor do estudo, os resultados indicam que os efeitos do estigma e da exclusão social baseada na orientação sexual podem ser mais duradouros e sutis do que aparentam. “Apesar da maior aceitação pública e das mudanças legais para garantir a igualdade, a experiência vivida por uma proporção de pessoas LGB permanece negativa”. 

Descobertas

A pesquisa analisou os dados dos Inquéritos de Morbidade Psiquiátrica Adulta (APMS) de 2007 e 2014 com uma amostra de 10.433 pessoas entre 16 e 64 anos na Inglaterra. Os documentos contêm diversas informações relacionadas à orientação sexual, transtornos mentais e uso de álcool e drogas ilícitas. Além disso, também foram registradas experiências de bullying, discriminação, identificação religiosa e abuso sexual infantil. 

Após a análise, os pesquisadores notaram que não houve nenhuma mudança significativa, ou seja, nenhuma redução nas taxas de transtornos mentais no período analisado, indicando que pessoas LGB permancem com maior risco de apresentar saúde mental mais fragilizada em comparação aos heterossexuais

De acordo com os dados, a prevalência de depressão e transtornos de ansiedade entre bissexuais foi de 40% e, para lésbicas e gays, foi de 28%, proporções significativamente superiores a observada em heteressexuais (16%).

A análise também mostrou qu o uso de drogas ilícitas também é mais comum entre bissexuais (37%) e entre lésbicas e gays (25%), do que entre heteressexuais (10,5%). O mesmo padrão foi observado nas taxas de consumo indevido de álcool: 37% entre lésbicas e gays, 31% entre bissexuais, e 24% entre heterossexuais.

Para os autores, a prevalência mais alta de problemas de saúde mental é algo bem conhecido por quem estuda o tema, mas é preocupante perceber que esses números permanecem altos, e que essa população permanece mais vulnerável apesar de algumas mudanças sociais terem ocorrido no país. 

O estudo evidenciou que a exposição ao bullying e à discriminação podem ajudar a explicar a predominância de transtornos relacionados à saúde mental observada em mulheres lésbicas e homens gays, mas a associação não foi encontrada para os bissexuais. 

Em contrapartida, não foram encontrados indícios, pelo menos neste estudo, que sustentem a contribuição de diferenças religiosas ou experiências de abuso sexual infantil na associação entre sexualidade e problemas de saúde mental

Como mudar? 

Diante desse cenário, os autores enfatizam a necessidade de ações governamentais para garantir a equidade nos serviços de saúde e assistência social. Eles destacam, ainda, a importância de conscientizar e capacitar os profissionais de saúde, para que o bem-estar e a saúde mental de minorias sexuais sejam levadas em conta.

Os pesquisadores também acreditam ser essencial que as escolas possam intervir mais cedo, implementando ambientes de apoio para estudantes LGB.

Além disso, a adoção de estratégias antidiscriminação em instituições de saúde, como o uso de imagens positivas de indivíduos pertencentes a minorias sexuais em materiais de marketing, também podem auxiliar nesse objetivo.

“O que precisamos fazer agora não é apenas continuar monitorando a saúde de populações de minorias sexuais como padrão, mas também projetar estudos com o intuito de entender o que causa essas desigualdades e desenvolver intervenções para reduzi-las" comenta a coautora Joanna Semlyen. 

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