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Psicose: conheça sintomas, tipos diferentes e tratamentos

Um episódio psicótico pode durar apenas algumas semanas, ou ser parte de um transtorno de caráter crônico - iStock
Um episódio psicótico pode durar apenas algumas semanas, ou ser parte de um transtorno de caráter crônico - iStock

A psicose refere-se a um conjunto de sintomas que afetam a mente, onde há algum grau de perda de contato com a realidade. Durante um episódio psicótico, popularmente chamado de “surto psicótico”,  há uma perturbação dos pensamentos e das percepções de uma pessoa, e ela pode ter dificuldade em reconhecer o que é real e o que não é.

É difícil saber o número exato de pessoas que experimentam psicose. Estudos estimam que entre 15 e 100 pessoas a cada 100.000 desenvolvem psicose a cada ano.

A psicose geralmente começa a se manifestar no fim da adolescência ou início da vida adulta. No entanto, as pessoas podem experimentar um episódio psicótico antes disso, ou mais tarde, como parte de muitos transtornos e doenças que envolvem o quadro. É o caso, por exemplo, de adultos mais velhos com distúrbios neurológicos como demência ou Parkinson.

Sinais e sintomas

Pessoas com psicose podem experimentar um ou mais dos seguintes sintomas:

- delírios (crenças falsas, por exemplo, a de que pessoas na TV estão enviando mensagens especiais para elas ou que outros estão tentando prejudicá-las)

- alucinações (ver ou ouvir coisas que outros não veem ou ouvem, como ouvir vozes mandando fazer algo ou criticando-as).

- discurso incoerente ou sem sentido, ou comportamentos inadequados para a situação

- sintomas negativos (falta de emoção, lentidão, desinteresse, falta de autocuidado)

- catatonia (ou “congelamento”, com imobilidade motora e ausência de comunicação, pode ocorrer em alguns casos graves)

Sinais de alerta para o desenvolvimento de um episódio psicótico

Em geral, a pessoa apresenta mudanças em seu comportamento antes que a psicose se desenvolva. Sinais de alerta comportamentais para psicose incluem:

- Desconfiança, ideias paranoicas ou desconforto com os outros

- Dificuldade em pensar claramente e logicamente

- Isolamento social e passar muito tempo sozinho

- Ideias incomuns ou excessivamente intensas, sentimentos estranhos ou falta de sentimentos

- Declínio na higiene ou nos cuidados pessoais

- Problemas de sono, incluindo dificuldade em dormir e redução do tempo de sono

- Dificuldade em distinguir a realidade da fantasia

- Fala confusa ou dificuldade de comunicação

- Queda repentina nas notas ou desempenho no trabalho

Além desses sintomas, uma pessoa com psicose também pode experimentar mudanças mais gerais no comportamento, que incluem:

- Alterações emocionais

- Ansiedade

- Falta de motivação

- Dificuldade para “funcionar” no dia a dia

Risco para si ou para os outros

Em alguns casos, uma pessoa que experimenta um episódio psicótico pode se comportar de maneira confusa e imprevisível e pode se prejudicar ou tornar-se ameaçadora ou violenta com os outros.

O risco de violência e suicídio diminui muito com o tratamento para psicose, por isso é importante buscar ajuda o quanto antes.

O que causa psicose?

Não há uma causa única da psicose. O quadro parece resultar de uma combinação complexa de risco genético, diferenças no desenvolvimento cerebral e exposição a estressores ou traumas.

A psicose pode ser tanto um sintoma de uma doença mental, como esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressão grave. No entanto, uma pessoa pode experimentar psicose e nunca ser diagnosticada com esquizofrenia ou qualquer outro distúrbio.

Evidências sugerem que certos neurotransmissores, como a dopamina, o glutamato, o GABA e a acetilcolina, estão envolvidos nos sintomas psicóticos.

Para adultos, os sintomas de psicose podem ocorrer devido a alguma condição física ou mental que surge mais tarde na vida, como por exenmplo: lúpus (uma doença autoimune), HIV/Aids, doenças da tireoide, epilepsia, sífilis, tumores cerebrais, doença de Parkinson, doença de Alzheimer e outras demências.

Outras possíveis causas de psicose incluem privação de sono, certos medicamentos prescritos e o uso indevido de álcool ou drogas, como maconha, LSD ou anfetaminas.

Uma doença mental como esquizofrenia geralmente é diagnosticada somente depois que todas essas outras causas são excluídas.

Tipos de psicose

Assim, dependendo da causa/origem dos sintomas, a psicose pode ser classificada como:

- Psicose pós-parto (um tipo grave de depressão pós-parto que surge alguns dias ou semana após o parto)

- Psicose bipolar (associada ao transtorno bipolar, em geral nas fases de mania)

- Depressão psicótica (os sintomas se somam aos da depressão maior)

- Psicose induzida por substâncias (como álcool ou drogas)

- Psicose por mixedema (provocada por hipotireoidismo)

- Psicose de Korsakoff (também chamada de encefalopatia de Wernicke, é provocada por deficiência de vitamina B1)

Quadro psicótico agudo ou transitório

A psicose também pode ser classificada de acordo com a duração e intensidade dos sintomas. Em alguns casos, os sintomas são intensos e duram poucas semanas. Em geral, estão associados a algum estresse agudo, uso de substâncias ou privação de sono. Em outros casos, os sintomas fazem parte de uma condição de caráter mais crônico, que vai demandar um tratamento mais duradouro.                    

Diagnóstico

Um profissional de saúde mental qualificado (como um psicólogo, psiquiatra ou assistente social) pode fornecer um um diagnóstico preciso após uma conversa com o paciente e familiares ou cuidadores, avaliação dos sintomas e histórico. Na maioria das vezes, precisa ser levada ao profissional de saúde, por não perceber com clareza o que está acontecendo. 

Tratamento

Um psicólogo, psiquiatra ou assistente social qualificado pode fazer um diagnóstico e ajudar a desenvolver um plano de tratamento, com medicamentos, terapia e outras medidas.

Estudos têm mostrado que é comum uma pessoa ter sintomas psicóticos por mais de um ano antes de receber tratamento. Reduzir essa duração de psicose não tratada é crítico porque o tratamento precoce muitas vezes significa uma melhor recuperação.

O tratamento geralmente inclui medicamentos antipsicóticos. Existem vários tipos diferentes de remédios e eles têm diferentes efeitos colaterais, por isso é importante trabalhar em parceria com o profissional de saúde para determinar o medicamento mais eficaz com o menor número de efeitos colaterais.

O tratamento também frequentemente inclui outros elementos, como a terapia e o suporte familiar, que são fundamentais para ajudar o paciente e as pessoas que convivem com ela a diagnosticar precocemente novos episódios.

Procure ajuda

As pessoas têm melhores resultados quando todo esse cuidado especializado coordenado começa o mais cedo possível após o surgimento dos sintomas psicóticos.

Se você perceber que está passando por essas mudanças de comportamento ou notar em um amigo ou membro da família e elas começarem a se intensificar ou não desaparecerem, procure um profissional de saúde.

Unidades básicas de saúde (UBS), centros de atenção psicossocial (CAPS), unidades de pronto atendimento (UPA), prontos-socorros hospitalares (PS), serviços de atendimento móvel de urgência (SAMU) estão preparados para atender pessoas que estejam num episódio psicótico. Em casos graves, em que há risco para a própria pessoa ou para outras, pode haver a necessidade de internação em hospital geral ou especializado. 

Fontes: CID-11; National Institutes of Health (NIH) / National Institute of Mental Health – EUA; Healthline, WebMD, Dr. Jairo Bouer

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin