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Setembro Amarelo: como identificar e ajudar alguém que sofre

“Ombro amigo” também pode ser fundamental para incentivar a pessoa a buscar ajuda especializada - iStock
“Ombro amigo” também pode ser fundamental para incentivar a pessoa a buscar ajuda especializada - iStock

Falar sobre as nossas emoções é fundamental. E isso é algo que precisa ser reiterado em qualquer época do ano, e não apenas neste Setembro Amarelo, mês escolhido para chamar atenção sobre a saúde mental e a prevenção ao suicídio.

É importante lembrar que entre o desejo de acabar com a dor e a vontade de viver, existe a possibilidade de buscar ajuda e desenvolver condições internas de lidar com o sofrimento.

Fatores de risco para o suicídio

As taxas de suicídio no país são mais altas para os homens, pois eles tendem a utilizar meios mais letais. Mas as mulheres tentam mais vezes, segundo as estatísticas. Os índices também são mais altos na população LGBTQIA+, por causa do preconceito e de questões culturais.

Segundo pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. 

Estudos indicam que quase 97% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtornos de personalidade e abuso de álcool ou drogas. Mas existem diversos fatores envolvidos nessa relação, como a gravidade dos sintomas, questões culturais, ausência de tratamento e impulsividade, entre outros.

Também há outros problemas e condições que aumentam o risco de alguém pensar em morrer, como discriminação, bullying, sofrimento no trabalho, perda de emprego, exposição a agrotóxicos, crises políticas e econômicas, conflitos familiares, perda de alguém querido, doenças crônicas dolorosas ou incapacitantes e acesso a meios letais, como armas ou venenos.

Confira:

Como identificar o risco

Estima-se que 90% dos suicídios podem ser prevenidos. Por isso é importante perder o medo e oferecer ajuda. Muitas vezes, ter com quem falar, colocar o sofrimento para fora e poder contar com um “ombro amigo” fazem toda a diferença.

Como muitas dessas tragédias acontecem por impulso, no desespero, esse tempo para ser ouvido, ouvir e pensar podem mudar o destino de muita gente. Esse “ombro amigo” também pode ser fundamental para incentivar a pessoa a buscar ajuda especializada, na suspeita de um transtorno mental.

A maioria das pessoas expressa a ideação suicida de alguma maneira, seja de maneira sutil (com palavras ou imagens mais sombrias nas redes sociais, abandono de atividades, isolamento ou mudanças de comportamento), ou de forma mais explícita (com frases como “a vida perdeu o sentido pra mim” e “eu sou um peso para os outros”, ou até elaboração de testamento).

Para resumir, veja algumas atitudes merecem atenção:

Mudanças repentinas de comportamento ou personalidade (a pessoa de repente fica mais calada, passa a se isolar, ou parece mais agitada do que de costume, etc.);

Mudanças no desempenho (o jovem começa a ir mal na escola, o adulto começa a faltar ou tem queda de produtividade no trabalho, etc.);

Palavras, desenhos ou expressões que demonstram falta de esperança, pessimismo, sensações de vazio ou de culpa (isso pode se manifestar até nas redes sociais que a pessoa utiliza, com postagens de textos, imagens ou vídeos mais sombrios);

Perda de interesse em atividades que antes eram rotina (a pessoa deixa de ir à igreja, abandona a atividade física ou o hobby, etc.);

Falta de autocuidado ou mudanças na aparência (a pessoa deixa de fazer a barba ou cortar o cabelo, não toma mais banho todo dia, engorda ou emagrece, etc.);

Uso mais intenso de álcool, cigarro ou drogas;

Sinais de automutilação, como marcas de cortes ou queimaduras no corpo;

Falar com mais frequência sobre temas relacionados à morte, fazer testamento ou seguro de vida, começar a doar pertences;

Como ajudar

O mais importante é demonstrar disposição para ouvir sem julgamentos. Muitas vezes, as pessoas tentam ajudar com frases como “eu já passei por coisa pior”, “agradeça pelo que você tem de bom” ou “levanta a cabeça”, mas isso só aumenta a sensação de culpa ou de impotência diante do sofrimento.

Nos sites e páginas do CVV, do Ministério da Saúde e da campanha Setembro Amarelo, entre outros, é possível encontrar cartilhas com informações valiosas para quem quer ajudar, mas não sabe como. Se você suspeitar de uma emergência, não hesite: ligue para o SAMU (192), ou leve a pessoa para um serviço de emergência (em pronto-socorros, hospitais ou numa UPA 24H). Para indicação de locais para atendimento gratuito em psiquiatria, consulte o site da campanha: www.setembroamarelo.com.

Veja outras recomendações para ajudar a proteger uma pessoa que está em sofrimento intenso:

- Acompanhe a pessoa ao psiquiatra ou psicólogo. 
- Não deixe a pessoa sozinha, com as portas trancadas. 
- Não deixe a pessoa próxima de meios letais, isso reduz o risco imediato.
- Acredite em ameaças.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin