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Parto humanizado: conheça as principais características da prática

A necessidade de algum tipo de recurso, desde que seja indicado, não descaracteriza o parto humanizado - iStock
A necessidade de algum tipo de recurso, desde que seja indicado, não descaracteriza o parto humanizado - iStock

Milena Alvarez Publicado em 28/09/2021, às 18h30

É provável que, para muitas mulheres, quando pensam em um parto humanizado, venha à cabeça a imagem de um parto que acontece dentro de uma banheira e sem anestesia. Entretanto, o parto humanizado não se resume a parir no hospital ou em casa, dentro ou fora da água.

O parto humanizado é um conceito, não um tipo de parto. Então, ele é a associação entre respeitar as características e expectativas da paciente com a prática clínica baseada nas melhores evidências científicas. Tudo isso para colocar a mulher como centro de todo o cuidado”, explica a ginecologista e obstetra Maria Virginia de Oliveira. 

Em outras palavras, o termo “humanizado” não está relacionado à via de parto em si, mas à forma como a mulher é assistida, com as suas vontades e decisões ouvidas e respeitadas.

Todo parto normal é um parto humanizado? 

Essa é uma ideia comum e equivocada. Nem todo parto normal/vaginal é humanizado, da mesma forma que uma cesárea pode ser realizada de forma humanizada

De acordo com Maria Virginia, alguns partos vaginais podem ser extremamente violentos e utilizarem recursos que são desnecessários, como é o caso da episiotomia (corte feito para ampliar o canal de parto). Em contrapartida, apesar da cesárea ser um procedimento cirúrgico, é totalmente possível que ela seja feita com humanização: 

“Gosto de chamar de cesáreas ‘respeitosas’, em que mesmo dentro de determinado contexto e justificando-se a necessidade do ato cirúrgico, você ainda consegue colocar a mulher como o centro de toda a atenção e com alguns cuidados, como: contato pele a pele precoce, baixa luminosidade e controle de temperatura da sala”, comenta. 

O que caracteriza um parto humanizado?

Na verdade, explica a especialista, existem mais condutas específicas que não tornam o parto humanizado do que o contrário. São práticas rotineiras, sistematizadas e feitas para todas as mulheres sem nenhum tipo de critério. Veja alguns exemplos: 

  • Lavagem de intestino (com o objetivo de evitar que a mulher evacue durante o parto);
  • Obrigar a mulher a ter o bebê na posição litotômica (ela deita de barriga para cima e as pernas ficam levantadas);
  • Orientar a mulher sobre qual o momento que ela deve fazer força; 
  • Fazer a episiotomia (corte na vagina) em todas as mulheres.

Segundo Maria Virginia, no caso da orientação sobre o momento de fazer a força de empurrar no parto vaginal, por exemplo, o ideal é a mulher esperar ter a vontade espontânea, conhecida como “puxo”. “Manejar o parto fazendo a paciente empurrar com orientações pode aumentar as chances de ter lacerações”. 

O que a grande maioria das pessoas confunde é acreditar que o parto humanizado é sempre um parto natural, ou seja, sem usar nenhum tipo de recurso. Entretanto, existem alguns métodos que, quando são necessários, não descaracterizam o parto humanizado. Alguns exemplos são a utilização do vácuo extrator, do fórceps ou mesmo a realização da cesárea. 

Confira:

Esses recursos serão utilizados quando tiverem uma indicação e não será por isso que deixará de ser humanizado. Até porque, a violência obstétrica também pode acontecer por omissão, ou seja, uma mulher precisar de determinado recurso e o médico não utilizá-lo”, comenta a especialista. 

Infelizmente, o parto humanizado no Brasil ainda é elitista. Essa não é a realidade da maioria das maternidades, sejam públicas ou privadas, já que a grande parte dos profissionais que realiza esse tipo de assistência faz atendimentos particulares e, consequentemente, muitas mulheres não têm condições de pagar. Além disso, falta estrutura adequada, como salas que oferecem privacidade às pacientes. 

Quais os benefícios do parto humanizado? 

Um dos principais benefícios do parto humanizado é o fato de a mulher ser uma figura ativa, ser colocada no centro do cuidado e ter seus desejos respeitados. Maria Virginia ressalta que, nesse contexto, “a mulher não é um agente passivo, ela é uma protagonista da sua história de parto”

No parto humanizado, a paciente precisa ter liberdade para se movimentar da forma que achar mais conveniente, pode comer e ingerir líquidos durante o processo, além de parir na posição que for mais confortável: cócoras, de lado ou quatro apoios, por exemplo. 

Geralmente, também fazemos contato pele a pele do bebê com a mãe logo após o nascimento e esperamos o cordão parar de pulsar. Tudo isso deve ser respeitado – obviamente, desde que ambos estejam bem”, explica. 

Também é importante pontuar que o menor número de intervenções possível resulta em uma recuperação melhor para mãe e bebê. Em um parto normal e humanizado, por exemplo, existem menos riscos de hemorragia, infecção, óbito materno e neonatal, problemas respiratórios no bebê, entre outros pontos positivos. 

Assim, pensando em um recorte que o parto é algo fisiológico e que a assistência humanizada prioriza o que tem mais evidências de benefícios – no caso, o parto normal em comparação à cesárea – a humanização do ato de parir protege tanto a mulher quanto o bebê de possíveis complicações.

“Aquela cesárea marcada, por exemplo, pode trazer o bebê ao mundo prematuramente por um erro de cálculo. Quando a mulher entra em trabalho de parto, essa criança dá o sinal de que está pronta para vir. Mesmo se a mulher não quiser ter um parto vaginal, o ideal é esperar entrar em trabalho de parto”, recomenda Maria Virginia. 

Vale lembrar que, até algum tempo atrás, o Brasil era campeão mundial nas taxas de realização de cesáreas. Atualmente, o país ocupa o segundo lugar, com índice acima de 55% do total de partos, perdendo apenas para a República Dominicana (58,1%).