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Bebês prematuros sentem menos dor quando ouvem a voz da mãe

Causa para isso pode ser a oxitocina liberada - iStock
Causa para isso pode ser a oxitocina liberada - iStock

Redação Publicado em 27/08/2021, às 11h00

Quando um bebê nasce prematuro, ele pode ser submetido a alguns procedimentos desagradáveis, que podem gerar dor. No entanto, há uma forma de suavizar essa situação!

Uma equipe da Universidade de Genebra (Unige), em colaboração com o Hospital Parini, da Itália, e a Universidade do Vale de Aosta, observou que quando a mãe falava com o bebê no momento da intervenção médica, os sinais do bebê à expressão da dor diminuíram e o nível de oxitocina – o hormônio envolvido em conexão com outras pessoas e também ligado ao estresse – aumentou significativamente, o que pode atestar um melhor controle da dor. Esses resultados, a serem lidos na revista Scientific Reports, demonstram a importância da presença dos pais junto aos bebês prematuros, que são submetidos a intenso estresse desde o nascimento.

O que acontece com os prematuros?

Assim que nascem antes das 37 semanas de gestação, os bebês prematuros são separados de seus pais e colocados em uma incubadora, geralmente em terapia intensiva. Eles têm que passar por intervenções médicas diárias, como em alguns casos intubação, coleta de sangue e tubo de alimentação. Tudo isso tem impactos potenciais no desenvolvimento e controle da dor. Mas a dificuldade é que nem sempre é possível aliviar o desconforto com analgésicos farmacêuticos, pois os efeitos colaterais de curto e longo prazo sobre o desenvolvimento neurológico podem ser significativos. Por isso, existem outras formas de ajudar o bebê, como envolvimento, contenção, soluções açucaradas ou sucção não nutritiva com bico.

No entanto, há vários anos, estudos mostram que a presença da mãe ou do pai tem um efeito real calmante na criança, principalmente por meio das modulações emocionais da voz. É por isso que a equipe de Didier Grandjean, professor titular da Seção de Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPSE) e do Centro Suíço de Ciências Afetivas (Cisa) da Unige, tem se interessado pelo contato vocal precoce entre a mãe e o bebê prematuro, no impacto da voz materna no manejo da dor decorrente das práticas rotineiras necessárias ao acompanhamento dos bebês e nos mecanismos psicológicos e cerebrais que estariam envolvidos.

Para testar essa hipótese, os cientistas acompanharam 20 bebês prematuros no Hospital Parini, na Itália, e pediram às mães para estarem presentes durante o exame de sangue diário, que é feito com a extração de algumas gotas de sangue do calcanhar. “Focamos este estudo na voz materna, porque nos primeiros dias de vida é mais difícil a presença do pai, devido às condições de trabalho que nem sempre permitem dias de folga”, afirma Manuela Filippa, investigadora do grupo de Didier Grandjean e primeira autora do estudo.

Confira:

A pesquisa foi realizada em três fases ao longo de três dias, permitindo a comparação: uma primeira injeção foi administrada sem a presença da mãe, uma segunda com a mãe conversando com o bebê e uma terceira com a mãe cantando para o bebê. A ordem dessas condições mudou aleatoriamente. “Para o estudo, a mãe começou a falar ou cantar cinco minutos antes da injeção, durante a injeção e após o procedimento”, diz a pesquisadora de Genebra. Também medimos a intensidade da voz, de forma a cobrir o ruído circundante, visto que a terapia intensiva costuma ser ruidosa devido aos dispositivos médicos.

Sinais de expressão de dor significativamente reduzidos

Primeiro, a equipe de pesquisa observou se a dor do bebê diminuía na presença da mãe. Para isso, eles usaram o Perfil de Dor do Bebê Pré-termo (PIPP, sigla do termo em inglês), que estabelece uma grade de codificação entre 0 e 21 para expressões faciais e parâmetros fisiológicos (batimentos cardíacos, oxigenação), que atestam as sensações dolorosas do bebê. “Para codificar o comportamento dos bebês prematuros, filmamos cada exame de sangue e julgamos os vídeos ‘cegos’, por pessoal treinado, sem som, para não saber se a mãe estava presente ou não”, nota Didier Grandjean.

Os resultados são significativos: o PIPP é 4,5 quando a mãe está ausente e cai para 3 quando a mãe fala com o bebê. “Quando a mãe canta, o PIPP é 3,8. Essa diferença com a voz falada pode ser explicada pelo fato de a mãe adaptar menos suas entonações vocais ao que ela percebe no bebê quando ela canta, pois fica de certa forma constrangida pela estrutura melódica, o que não acontece quando ela fala”, enfatiza a professora de Genebra.

A voz materna induz um aumento na oxitocina

Os cientistas então observaram o que muda no bebê quando ouve a mãe falar. “Rapidamente nos voltamos para a oxitocina, o chamado hormônio de fixação, que estudos anteriores já relacionaram ao estresse, separação entre apego e dor”, explica Manuela Filippa. Usando uma amostra de saliva antes de a mãe falar ou cantar e depois de extrair o sangue, a equipe de pesquisa descobriu que os níveis de oxitocina aumentaram de 0,8 picogramas por mililitro para 1,4 quando a mãe falou. “Em termos de oxitocina, é um aumento significativo”, diz ela.

Esses resultados mostram o impacto positivo da presença da mãe quando bebês prematuros são submetidos a procedimentos médicos dolorosos. “Demonstramos aqui a importância de aproximar pais e filhos, sobretudo no delicado contexto dos cuidados intensivos”, destaca Manuela Filippa. “Além disso, os pais desempenham um papel protetor aqui e podem agir e se sentir envolvidos em ajudar seu filho a ser o melhor possível, o que fortalece os laços de apego essenciais que são dados como garantidos no nascimento a termo”, conclui Didier Grandjean.

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