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Para que servem as amizades? Pesquisa traz algumas pistas

Ambas as faixas etárias analisadas apresentaram níveis mais baixos de estresse ao trabalharem com pessoas conhecidas - iStock
Ambas as faixas etárias analisadas apresentaram níveis mais baixos de estresse ao trabalharem com pessoas conhecidas - iStock

Redação Publicado em 01/07/2021, às 15h00

Um novo estudo da Universidade de Illinois (Estados Unidos) determinou diferenças fundamentais na forma como diferentes faixas etárias se comunicam, bem como um componente conversacional que resiste ao teste do tempo: a amizade. 

Publicado no Journal of Women, o estudo deu ênfase aos vínculos entre pessoas do sexo feminino com objetivo de compreender melhor o impacto da amizade na eficiência da comunicação e na resposta ao cortisol – hormônio do estresse – durante a resolução de problemas. 

Duas hipóteses, uma pergunta 

Para começar, os autores definiram duas hipóteses. A primeira referia-se ao cuidar e fazer amizade, o que desafia a oposição tradicionalmente masculina de “luta ou fuga”. Assim, de acordo com os achados, as mulheres desenvolveram um mecanismo alternativo em resposta ao estresse, isto é, para lidar com ele, elas podem fazer amizade com colegas do sexo feminino. 

A segunda hipótese abordava a questão da seletividade socioemocional, que procura um “corte” social à medida que os humanos avançam na idade e buscam círculos de amigos mais íntimos e de maior qualidade.  

Com essas duas teorias em mãos, a equipe envolvida fundiu ambas em uma única pergunta: ao longo da vida das mulheres, como as tendências de “cuidar e fazer amizade”, bem como selecionar socialmente essas amizades, estão refletidas na comunicação

Confira:

Familiares e desconhecidos

Foi testado um grupo de 32 mulheres, sendo 16 idosas entre 62 e 79 anos e 16 jovens adultas de 18 a 25 anos. Cada participante foi emparelhada com um amigo (um parceiro de conversa “familiar” ou um desconhecido). 

As duplas passaram por uma série de desafios de conversação. Em uma das situações, por exemplo, a mulher orientava a parceira a organizar um conjunto de quebra-cabeça em uma ordem que só ela conseguia ver. O problema é que as formas eram todas abstratas, sendo as aparências propositalmente difíceis de descrever. 

Com o exercício, foi possível quantificar a eficiência de cada conversa: parceiras que alcançaram o arranjo em menos palavras foram consideradas mais eficientes e pares que precisaram falar mais para completar a tarefa foram classificados como menos eficientes. 

Jovens vs idosas 

Os pesquisadores descobriram que, embora os pares de jovens adultas se comunicassem de uma forma mais eficaz quando a dupla era familiar do que as mulheres mais velhas, se comunicavam de maneira menos eficiente com desconhecidos. 

Em comparação, os pares de mulheres idosas demonstraram certa facilidade ao articular os quebra-cabeças abstratos tanto para os “amigos” como para os “estranhos”. 

Segundo os autores, uma tarefa de comunicação referencial – ou seja, que tem como objetivo informar algo – requer que a pessoa saiba de onde a outra vem. Assim, parece que as jovens adultas são um pouco mais hesitantes em tentar fazer isso enquanto as mais velhas têm mais facilidade em realizar com estranhos. 

Esse fenômeno não tinha sido previsto com base na hipótese de seletividade socioemocional, que acreditava em uma correlação entre idade e isolamento social. Os autores explicaram que, mesmo que os idosos optem por passar mais tempo com pessoas que importam para si, eles também têm habilidades sociais para interagir com indivíduos desconhecidos se e quando quiserem. 

Impacto no cortisol

A equipe envolvida na pesquisa também mediu o hormônio do cortisol para quantificar e comparar os níveis de estresse das participantes ao longo do teste. Em ambas as faixas etárias, as que trabalharam com parceiros familiares apresentaram níveis mais baixos do que as que realizaram a atividade com desconhecidos. 

De acordo com os pesquisadores, muitos estudos anteriores sobre “cuidar e fazer amizade” eram concentrados em mulheres jovens. Portanto, os achados mostram que essa é uma tendência permanente até o fim da vida, sendo possível observar que a amizade tem o mesmo efeito ao longo dos anos. Ou seja, parceiros familiares e amizade amortecem o estresse, e isso é preservado com a idade. 

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