Saiba quais infusões usar ou evitar à noite, e quando buscar tratamento médico
Tatiana Pronin Publicado em 03/10/2025, às 11h00
Ao enfrentar dificuldades para relaxar ou pegar no sono, muita gente logo pensa em apostar num chá. Esse hábito ganhou espaço como um ritual de relaxamento, capaz de acalmar corpo e mente após um dia agitado. Mas essas bebidas são realmente capazes de contribuir para o relaxamento e para um sono mais reparador?
De acordo com o médico Paulo Reis, otorrinolaringologista especialista em Medicina do Sono e coordenador científico do grupo Bonviv Brasil, sim, mas com ressalvas. “Alguns chás podem colaborar com o relaxamento e ajudar na criação de um ritual noturno que prepara o corpo para o sono. O simples ato de tomar uma bebida quente, desacelerar e desligar das telas já contribui para o bem-estar”, diz o médico.
Porém, é importante ressaltar que cada pessoa possui uma sensibilidade própria e, para alguns, o benefício pode ser mais psicológico do que fisiológico.
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Nem todo chá é indicado para ser ingerido antes de dormir. Infusões que contêm cafeína devem ser evitadas no período noturno, o que inclui:
“A cafeína pode atrapalhar o adormecer e prejudicar a qualidade do sono, inclusive em pessoas que não se consideram ‘sensíveis’ a estimulantes”, avisa o médico.
A recomendação é optar sempre pelos chás feitos de folhas, flores ou frutos livres de cafeína. Entre algumas boas dicas estão as seguintes ervas:
“Essas plantas apresentam compostos naturais associados à redução da ansiedade leve e promoção do relaxamento”, explica o especialista.
Algumas evidências científicas apontam a valeriana, por exemplo, como capaz de melhorar o sono em casos leves de insônia. Já o capim-limão é conhecido por suas propriedades relaxantes e pode ajudar a aliviar sintomas leves de ansiedade e promover uma sensação de calma, facilitando o sono. O médico também relata que combinações de tulsi, ashwagandha (Withania somnifera) e camomila são utilizadas há muitos anos na ayurveda e têm demonstrado melhora da qualidade do sono em estudos em humanos.
Porém, vale ressaltar que, habitualmente, o uso desses chás não traz um efeito instantâneo. “O ideal é consumi-los regularmente, por várias semanas, para notar a melhora progressiva na qualidade do sono e sempre sob orientação profissional”, reforça o especialista.
Além disso, é importante ressaltar que as evidências do uso de chás como estratégia no tratamento da insônia ou da ansiedade são, em geral, limitadas e modestas. “Algumas pesquisas mostram benefícios leves com certos chás, como camomila e valeriana, mas não substituem tratamentos médicos quando há insônia ou ansiedade persistente. A ciência apoia o uso dos chás como complemento em casos leves, mas reforça que a eficácia é muito inferior, por exemplo, à de terapias comportamentais ou medicamentos prescritos por profissionais de saúde”, pontua.
Embora sejam naturais, os chás não devem ser usados de maneira indiscriminada. “Alguns chás podem interagir com medicamentos ou causar desconfortos, como irritação gástrica. O consumo exagerado de valeriana, por exemplo, pode provocar sonolência excessiva”, comenta Reis.
Além disso, grávidas, lactantes e portadores de doenças crônicas devem ter cuidado redobrado e buscar orientação profissional antes de incluir chás regularmente à rotina.
“Por fim, vale reforçar que problemas persistentes de sono ou ansiedade podem ser sintomas de condições de saúde mais graves, como depressão, distúrbios do sono e disfunções hormonais. E embora chás possam ajudar a relaxar e aliviar a insônia leve, eles não tratam a causa-raiz de distúrbios do sono mais graves e ainda podem ‘abafar’ o problema, atrasando diagnósticos importantes. Por isso, se o quadro persistir, é fundamental procurar um especialista para uma avaliação completa e um tratamento eficaz”, finaliza.
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