Redação Publicado em 03/03/2022, às 12h00
O chá verde é uma bebida popular consumida em todo o mundo. Nos últimos anos, também ganhou popularidade como uma bebida saudável. Ele é derivado das folhas da planta Camellia sinensis e vem em diversas variedades. Pode ser apreciado quente, frio ou mesmo em pó, e é reconhecido por seu alto teor de antioxidantes e benefícios à saúde.
Porém, em fevereiro passado, uma enfermeira morreu em virtude de uma hepatite fulminante após tomar um chá emagrecedor que misturava várias ervas, entre elas o chá verde. Uma das médicas que a tratou comentou que, olhando o rótulo do produto consumido, era possível identificar ervas conhecidas por serem hepatotóxicas, ou seja, prejudiciais ao fígado. E que a mais conhecida era exatamente o chá verde. Segundo ela, há vários relatos e papers que mostram casos de hepatite fulminante causada por uso de chá verde.
Então, como tudo o mais, o consumo exagerado de chá verde pode fazer mal e até ser perigoso? Quanto beber para obter benefícios sem correr riscos?
O chá verde é repleto de nutrientes e compostos vegetais que podem ter efeitos positivos para a saúde. Isso inclui potentes antioxidantes chamados catequinas, que podem ajudar a proteger contra o câncer. De fato, vários estudos mostram que as pessoas que bebem chá verde são significativamente menos propensas a ter muitos tipos desta doença, em comparação com aquelas que não bebem.
Os cânceres contra os quais o chá verde pode ajudar a proteger incluem o de próstata e de mama, que são os dois tipos mais comuns em homens e mulheres, respectivamente. Além disso, vários estudos indicam que o chá verde pode diminuir o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e doenças cardíacas. Outros possíveis benefícios de beber chá verde incluem suporte ao sistema imunológico, melhora da função cerebral, melhora da saúde bucal e menor risco de artrite, Alzheimer e Parkinson.
Há evidências, de fato, que beber chá verde pode ajudar a perder peso. A cafeína e as catequinas que ele contém demonstraram aumentar o metabolismo e aumentar a queima de gordura. No geral, os estudos indicam que o consumo pode ajudar a queimar 75 a 100 calorias adicionais por dia. Embora isso possa parecer uma pequena quantidade, pode contribuir para uma perda de peso significativa a longo prazo.
“É preciso sempre lembrar que nenhum alimento ou substância isolada é capaz de promover perda de peso apenas por seu efeito”, diz a nutricionista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Paula Caroline de Fabio. O alerta vale para qualquer item e inclui o chá verde, que conquistou uma legião de consumidores por conta de sua fama emagrecedora. “Ele tem uma leve ação termogênica e antioxidante e ajuda na queima de gordura corporal quando aliado a uma alimentação equilibrada e atividade física regular”, comenta. “Porém, o uso em doses concentradas ou prolongadas pode causar inúmeras consequências ao organismo”, reforça.
Estudos que exploram os benefícios do chá verde mostram evidências conflitantes sobre exatamente quanto você deve beber por dia. Alguns mostram benefícios para a saúde em pessoas que bebem apenas uma xícara por dia, enquanto outros estudos consideram cinco ou mais xícaras por dia como ideais. O chá verde pode ajudar a diminuir o risco de várias doenças. No entanto, a quantidade ideal para beber pode depender da doença.
Câncer bucal:em um grande estudo observacional, as mulheres que bebiam de três a quatro xícaras de chá verde diariamente eram as menos propensas a desenvolver câncer oral.
Câncer de próstata:grande estudo observacional descobriu que homens que bebiam cinco ou mais xícaras de chá verde diariamente tinham um risco menor de desenvolver câncer de próstata, em comparação com aqueles que bebiam menos de uma xícara por dia.
Câncer de estômago:outro grande estudo observacional mostrou um risco reduzido de câncer de estômago em mulheres que consumiram cinco ou mais xícaras de chá verde por dia.
Câncer de mama:dois estudos observacionais mostraram recorrências reduzidas de câncer de mama em mulheres que bebiam mais de três xícaras de chá verde diariamente.
Câncer de pâncreas: estudo observacional descobriu que beber cinco ou mais xícaras de chá verde por dia estava associado a uma diminuição do risco de câncer de pâncreas.
Diabetes: em um estudo observacional retrospectivo, pessoas que consumiram seis ou mais xícaras de chá verde diariamente tiveram um risco 33% menor de desenvolver diabetes tipo 2, em comparação com aquelas que consumiram menos de uma xícara por semana.
Doença cardíaca: uma análise de nove estudos descobriu que as pessoas que consumiam de uma a três xícaras de chá verde diariamente tinham um risco menor de ataque cardíaco e derrame, em comparação com aquelas que bebiam menos de uma xícara.
Com base nos estudos acima, é ideal beber de três a cinco xícaras de chá verde por dia. No entanto, é importante notar que alguns estudos não encontraram nenhuma associação entre o consumo de chá verde e o risco de doenças, portanto, esses efeitos podem variar de pessoa para pessoa.
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A cafeína e as catequinas do chá verde são bem conhecidas por seus benefícios à saúde, mas também podem causar efeitos colaterais para algumas pessoas, especialmente em grandes doses.
Consumir muita cafeína pode aumentar a sensação de ansiedade, interferir no sono e causar dores de estômago e dores de cabeça em algumas pessoas. Consumir grandes quantidades de cafeína durante a gravidez pode até aumentar o risco de defeitos congênitos e aborto espontâneo.
Com base em pesquisas atuais, todos, incluindo mulheres grávidas, não devem consumir mais de 300 mg de cafeína por dia. No entanto, uma revisão analisou mais de 400 estudos e descobriu que adultos saudáveis que consumiram até 400 mg de cafeína por dia não apresentaram efeitos adversos. A quantidade de cafeína em uma xícara de chá verde varia de acordo com a quantidade de chá usada e o tempo de infusão das folhas.
Um estudo descobriu que o teor de cafeína de 1 grama de chá verde variou de 11 a 20 mg. Uma única porção é geralmente medida em 1 colher de sopa (2 gramas) de folhas de chá por 1 xícara (240 ml) de água. Supondo que cada xícara de chá seja de aproximadamente 240 ml, isso significa que a xícara média de chá verde contém cerca de 22 a 40 mg de cafeína.
As catequinas do chá verde podem reduzir sua capacidade de absorver o ferro dos alimentos. De fato, consumir catequinas em grandes quantidades pode levar à anemia por deficiência de ferro. Embora beber chá verde regularmente não seja uma preocupação para a maioria dos indivíduos saudáveis, aqueles em risco de deficiência de ferro devem considerar beber chá entre as refeições e esperar pelo menos uma hora após a refeição para usar a bebida.
Bebês, crianças pequenas, mulheres grávidas ou menstruadas, além de indivíduos com sangramento interno ou em diálise têm um risco aumentado de deficiência de ferro.
As catequinas do chá verde também podem interferir em certos medicamentos e diminuir sua eficácia. Por exemplo, estudos indicam que o chá verde pode inibir a eficácia de certos remédios para o coração e pressão arterial.
Beber chá verde ainda pode diminuir os efeitos de certos medicamentos usados para tratar ansiedade e depressão. Os efeitos tóxicos são mais comuns quando as pessoas tomam suplementos de chá verde, que têm uma concentração muito maior de catequinas do que o próprio chá verde.
Outros problemas derivados do consumo excessivo da bebida são irritações na mucosa do estômago e irritabilidade. Para quem se vale de doses concentradas do produto, como as encontradas em cápsulas, o risco é ainda maior. Quando mantido o consumo por períodos longos, há chances de desenvolvimento de reações inflamatórias, de colestase – ou seja, interrupção do fluxo da vesícula -, e até de acúmulo de gordura no fígado e necrose.
“Por ser uma bebida natural, muitos não associam a ela o potencial de problemas. Mas tudo em excesso gera riscos, inclusive produtos naturais. É preciso atenção. Os chás não são capazes de fazer milagres e precisam ser usados com cautela”, destaca Paula.
Para acessar os benefícios do chá verde sem colocar a saúde em risco, a dica é respeitar a quantidade máxima de consumo diário – algo como dois copos de chá solúvel ou cerca de 10 gramas de erva preparados em 200 ml de água. Outro ponto essencial é checar a procedência do produto. “Substâncias sem armazenamento e extração corretos provocam o desenvolvimento de fatores tóxicos no fígado. Por isso, a indicação é consultar sempre um profissional habilitado para compreender se esta é uma opção saudável”, explica a especialista. Por último, ela chama atenção para os grupos que devem evitar a bebida:
Pessoas com doenças e alterações no fígado como hepatites, cirroses e esteatose hepática que abusam de bebidas alcoólicas e fazem uso de medicamentos hepatóxicos não devem consumir do chá verde. E vale sempre lembrar que o ideal é que não haja consumo por idosos, crianças e gestantes”.
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