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Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono: uma ameaça não tão silenciosa

Em conjunto com as apneias, o ronco é extremamente comum - iStock
Em conjunto com as apneias, o ronco é extremamente comum - iStock

Conrado Borges* Publicado em 05/04/2022, às 13h30

Uma fala muito comum que ouço no consultório é: “venho me sentindo muito cansado (ou cansada), “tenho me esquecido de compromissos”, “me esqueço do nome das pessoas”, “não consigo mais me concentrar no meu trabalho como antigamente”, “minha esposa briga comigo porque eu durmo em qualquer lugar”, “tenho me sentido muito irritado”, “minha cabeça dói de manhã”, e por aí vai!

Quando a vida está de cabeças para o ar

Essas queixas frequentemente saem da boca de pessoas jovens ou de meia idade e têm diversas origens! Não pretendo conversar aqui sobre cada uma delas. Quero, sim, apontar para um problema de saúde cada vez mais comum na população, que tem tratamento efetivo e que pode prevenir diversas doenças sérias de ocorrerem. O nome é Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (ou SAOS).

O que é Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono?

Definimos a SAOS como um distúrbio respiratório que acontece exclusivamente enquanto a pessoa dorme. Nas fases mais profundas do sono, o ar fica preso nos pulmões, deixando a pessoa em apneia (sem ar) por períodos variáveis. Em conjunto com as apneias, o ronco é extremamente comum. Esses episódios de apneia se repetem inúmeras vezes ao longo da noite e levam a pessoa a despertar muito rapidamente. Chamamos isso de microdespertares.

Os microdespertares podem se repetir dezenas de vezes por hora. Imagine o impacto na qualidade do sono, quando alguém acorda tantas vezes!

Quais problemas a SAOS causa?

Não só a qualidade do sono é impactada, mas também a vida durante o dia é fortemente prejudicada. Tente lembrar o que aconteceu na última vez em que você passou a noite em claro ou dormiu poucas horas. No dia seguinte deve ter ficado meio grogue, pegando no sono a todo momento, com dificuldade de concentração, irritado/a e com menor auto-controle, o que impactou, por exemplo, na quantidade e na qualidade dos alimentos que você ingeriu.

Agora pense esse mesmo impacto se repetindo diariamente por anos e anos a fio! É o que acontece com pessoas com SAOS! Essas pessoas começam a ter dificuldades cognitivas frequentes, tem maior risco de sofrer acidentes de trânsito, estão mais sujeitas a depressão e ansiedade. Mas as repercussões estão longe de serem somente neuropsiquiátricas! Essas pessoas ganham mais peso do que a média da população, têm pressão e colesterol mais altos, apresentando risco mais elevado de doenças graves como infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e AVC.

O que causa a SAOS?

A essa altura, depois de toda essa revelação, você deve estar se perguntando: mas o que causa a SAOS? Como fazer para evitar? A resposta não é tão simples, já que a causa da SAOS não é um fator isolado, mas, sim, uma combinação de vários elementos.

Os dois mais importantes são a idade e o peso. Idades mais avançadas estão associadas a uma maior incidência de SAOS, assim como sobrepeso e, de maneira mais contundente, obesidade. Essas situações diminuem o espaço para a saída de ar especialmente na região do pescoço e da orofaringe. O peso é o fator modificável mais importante de todos!

Temos outros fatores de maior risco de SAOS, como a anatomia da orofaringe e do nariz, o diâmetro do pescoço, o tamanho da mandíbula, a conformação da arcada dentária, entre outros.

Confira:

Como descobrir se o meu problema é realmente SAOS?

Se você acha que esse pode ser o seu caso, minha sugestão é que você agende sem tardar uma consulta com um médico de confiança. Médicos de diversas especialidades, como neurologistas, otorrinolaringologistas, pneumologistas, entre outros, estão aptos a fazer o diagnóstico e indicar o tratamento mais apropriado para você. Uma consulta inicial é imprescindível para que o diagnóstico seja feito corretamente.

A principal arma diagnóstica é a polissonografia. É um exame no qual o paciente é monitorizado durante toda a noite. Contudo, não deve ser realizada sem solicitação médica, pois tem diversas variações, que devem ser escolhidas de acordo com as características do paciente.

E o tratamento?

O tratamento é assunto para outro dia, mas saiba que temos opções extremamente eficazes no tratamento dessa condição, que trazem uma melhora dramática na qualidade de vida de muitos pacientes! Tenha certeza de que vale a pena!

Se você identificou algumas das características relatadas aqui em si mesmo ou em alguém conhecido, não deixe de procurar uma consulta médica.

Estou à sua disposição para qualquer dúvida! Espero que esse texto tenha sido útil.

Um grande abraço e até a próxima.

*Sobre o autor: Conrado Borges

Médico do Hospital Sírio-Libanês, Professor do grupo Estratégia Med,

Doutorando em Neurologia HC-FMUSP, Especializado em Neurologia

Cognitiva e do Comportamento pelo HC-FMUSP, Residência Médica em Neurologia pelo Hospital de Clínicas da UFPR e colunista do Portal Trevoo. excellereneuro.com/blogscientia