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Pesquisa sugere que Covid-19 pode causar dificuldade de concentração

Apesar de assustadores, os efeitos adversos da doença podem ser revertidos - iStock
Apesar de assustadores, os efeitos adversos da doença podem ser revertidos - iStock

Redação Publicado em 04/03/2021, às 12h19

Já é sabido que a Covid-19 causa alguns sintomas, como a perda de olfato, que podem perdurar até depois da cura. Porém, segundo uma pesquisa recente realizada pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (Incor), da Faculdade de Medicina da USP, os efeitos da doença vão muito além disso.

Como foi a pesquisa?

A primeira fase do estudo foi feita com 185 pessoas, entre março e setembro de 2020 (porém, atualmente, já são 430 pacientes em acompanhamento).

Para realizá-lo, a neuropsicóloga responsável pelo estudo, Lívia Stocco, usou o jogo digital MentalPlus®, criado por ela mesma, em 2010, para avaliar pessoas que tiveram Covid-19 em diferentes estágios, idades e classes econômicas. “Este jogo nasceu para detectar possíveis disfunções neurológicas em pacientes que eram prejudicados após o uso de anestesia geral profunda. Esse mecanismo não só avalia como ajuda na reabilitação. Então decidi usar o MentalPlus® na pesquisa com pessoas que tiveram sintomas ou que testaram positivo para Covid-19. O resultado foi impactante: independentemente do grau da doença, da faixa etária ou do nível de escolaridade, os pacientes que tiveram sintomas podem sofrer de disfunção cognitiva”.

O que foi descoberto?

Os resultados mostraram que 80% dos pacientes observados tiveram maior dificuldade de concentração ou atenção, perda de memória ou dificuldade para lembrar das coisas, problemas com a compreensão ou entendimento, dificuldades com o julgamento e raciocínio, problemas na execução de várias tarefas e mudanças comportamentais e emocionais.

Além disso, o estudo ainda mostrou uma diminuição da capacidade visuoperceptiva, que faz com que haja menor coordenação motora. Tal fato pode resultar em maior número de acidentes decorrentes de quedas.

“Em uma pessoa saudável, essa função [cognitiva] faz com que ela planeje o dia e busque estratégias para atenuar problemas, por exemplo. Se a pessoa perde essa função ou se ela ficar comprometida, isso pode interferir no trabalho e nas relações sociais, e, com isso, levar à depressão, ansiedade, angústia e agressividade”, comenta Lívia.

Segundo ela, esse tipo de situação ocorre porque o vírus entra pelas vias aéreas, compromete o pulmão e, com isso, baixa o nível de oxigênio. “A dessaturação de oxigênio vai para o cérebro,acomete o sistema nervoso central e afeta as funções cognitivas”.

O que fazer?

Apesar de ser uma notícia um tanto quanto assustadora, Lívia afirma que esses efeitos colaterais podem ser revertidos por meio de exercícios cognitivos. “Quanto mais cedo tiver início a terapia cognitiva, mais rápida será a recuperação e, consequentemente, menores os prejuízos mental, emocional, físico e social para essas pessoas”, ressalta.