Doutor Jairo
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Micose e outros problemas de pele na virilha e região genital do homem

Micose na virilha é uma causa comum de coceira na região; se não tratada logo, pode atingir outras áreas - iStock
Micose na virilha é uma causa comum de coceira na região; se não tratada logo, pode atingir outras áreas - iStock

Lesões de pele que afetam a região pélvica, genitais e glúteos nos homens são bastante comuns e podem ter inúmeras causas.

Citarei, a seguir, as principais queixas que vemos na prática do consultório de dermatologia.

Micose (tinea ou tinha)

Doença de pele  muito comum, a micose é causada por  um grupo de fungos que estão presentes em quase todos os ambientes e, quando encontra o meio favorável (pele úmida e quente), começa a crescer e gerar lesões que, em geral, apresentam-se na pele em forma de placas avermelhadas e descamativas, de aspecto rendilhado ou formando desenhos nas forma de arcos, e que costumam coçar bastante.

Quando não tratada rapidamente, pode atingir outras áreas como as coxas,  glúteos, genitais e púbis.

O diagnóstico é feito através do exame dermatológico. 

Quando a lesão é pequena, somente o  tratamento tópico com cremes ou loções cremosas antifúngicas já podem ser suficientes para curar o paciente. Medicamentos que contenham isoconazol, fenticonazol, ciclopirox, econazol e clotrimazol são bastante utilizados e eficazes.

Porém, nos casos extensos, com muitas lesões, o tratamento via oral é indicado associadamente ao tratamento tópico. As principais drogas utilizadas são o itraconazol, a terbinafina, a griseofulvina e o fluconazol. Entretanto, estas medicações nunca devem ser utilizadas por conta própria  sem acompanhamento médico, que especificará dosagem e tempo adequado de uso.

Medidas de higiene são fundamentais e devem ser seguidas à risca para a cura completa. Isso inclui:

- Manter a área sempre seca, antes e após o banho, ou seja, enxugar-se devidamente e sempre manter a região seca. Não permanecer, portanto, com roupas molhadas ou úmidas de suor por muito tempo, após exercícios físicos, banhos de mar, piscina, etc.

- Tomar banho à noite. Vejo muitos pacientes que relatam tomar banho somente pela manhã, e esse é um hábito muito inadequado para nós, que moramos em um país tropical. Durante o dia suamos e o suor se acumula nas regiões de dobras (pescoço, axilas, virilhas e glúteos) e nas áreas cobertas (axilas, virilhas, glúteos e pés). A pessoa que não higieniza o corpo através do banho noturno vai dormir com o corpo úmido, favorecendo o crescimento de todo tipo de germe.

Se para você é imprescindível tomar banho de manhã, “para acordar”, tome 2 banhos e que o banho da manhã seja bem breve.  Resumindo: vá dormir limpinho! E isso vale para as mulheres também!

Confira:

Xerose cutânea

Ao contrário da descrição acima, muitos homens apresentam a região pélvica ressecada. A pele seca pode ocorrer devido a diferentes fatores. Podemos destacar o genético, ou seja, a pessoa já nasce com tendência ao ressecamento de pele; doenças que ressecam a pele, como a dermatite atópica; ou maus tratos na região, como por exemplo, uso excessivo de sabões, buchas, falta de hidratação ou utilização exagerada de tecidos sintéticos, que podem levar à desidratação dessa área e consequente aparecimento de lesões, acompanhadas, ou não, de coceira.

No caso da xerose cutânea as lesões podem surgir em toda virilha, glúteos e até mesmo na bolsa escrotal. Em geral, o prurido é intenso.

O tratamento é indicado após a realização de diagnóstico correto, portanto, caso à caso, e a orientação  de aplicação de hidratantes, utilização de antialérgicos, aplicação de cremes anti-inflamatórios, ingesta adequada de água e cuidados com banhos, podem ser medidas curativas ou de controle eficaz para esses casos.

Ftiríase pubiana ou pediculose pubiana (chato)

Considerada uma IST (infecção sexualmente transmissível), a pediculose pubiana é causada por um inseto (piolho) e transmitida através do contato sexual. O piolho coloca seus ovos nas hastes dos pelos pubianos e suga o sangue da pessoa infectada cerca de 4 a 5 vezes ao dia, levando a quadros variados de irritação dapele e prurido intenso.

A área pubiana é a mais frequentemente afetada, porém, pode-se encontrar parasitas nos pelos do abdome, região perianal, axilas, barba e bigodes.

O tratamento mais fácil é a retirada dos pelos da região e posterior aplicação de loções ou xampu à base de permetrina, ou lindano, e ivermectina oral.

Por se tratar de uma IST, em geral é solicitado ao paciente a realização de exames sanguíneos para investigar a possibilidade de outras doenças transmitidas através do contato sexual.

Alergias

Sabonetes, sabões para lavar roupas, lâmina de barbear para quem depila a região ou outras substâncias podem causar quadros alérgicos ou de dermatite de contato na região pélvica. Em geral, o paciente apresenta lesões avermelhadas, muitas vezes escoriadas e com crostas, e, às vezes, com espessamento de pele, descamação e até sangramento.

Deve-se investigar a possível causa e afastamento do agente causador da alergia. Muitas vezes, em casos, extensos tratamentos via sistêmica com corticoides são necessários para controle das  lesões, além,  de hidratação e cremes com corticoides. Porem, é importante frisar que os corticoides tópicos nunca devem ser utilizados por longos períodos nessas áreas, pois podem causar inúmeros efeitos colaterais, desde aparecimento de estrias, afinamento da pele até aumento da pressão sanguínea e indução de diabetes. Por isso, nunca se automedique!

Problemas de origem psicológica

Escoriação neurótica ou dermatite factícia são problemas de origem psicológica que podem levar a quadros de irritação e prurido nessa área. Por ser uma região bastante sensível, um pequeno estímulo pruriginoso pode levar a quadros de coceira neurótica, em homens suscetíveis, causando muita irritação local sem causa aparente.

Assim, além do tratamento adequado das lesões, suporte psicológico deve ser realizado após o descarte de todas as causas clínicas (já citadas acima). Dessa forma, uma equipe mutidisciplinar composta por psicólogo ou psiquiatra e o dermatologista podem resolver o problema deste paciente.

Lilian Akemi Ota

Lilian Akemi Ota

Médica dermatologista de São Paulo, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica e da American Academy of Dermatology. @lilian_ota