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Dermatite atópica pode estar associada à depressão e ansiedade

Pode haver um ciclo de estresse psicológico, aumento da inflamação e erupções cutâneas em pessoas com eczema - iStock
Pode haver um ciclo de estresse psicológico, aumento da inflamação e erupções cutâneas em pessoas com eczema - iStock

Redação Publicado em 19/04/2022, às 11h00

Uma revisão de estudos mostra que a dermatite atópica, também chamada de eczema, está associada a um aumento de 63% na chance de desenvolver depressão ou ansiedade. O trabalho foi conduzido por pesquisadores da Universidade Médica de Kunming, em Yuxi, na China.

A equipe analisou dados de 20 estudos de boa qualidade que incluíram um total de 141.910 pessoas com eczema e 4.736.222 controles que não tinham a doença. Segundo os resultados,  publicados na revista PLOS One, o eczema está associado a um aumento de 64% no risco de depressão, isoladamente, e de 68% no risco de ansiedade.

Segundo a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), eczema é um tipo de dermatose que se caracteriza por apresentar vários tipos de lesões. Pode ser agudo, subagudo ou crônico. A versão aguda tem lesões que começam com marcas avermelhadas com bolhinhas de água na superfície que, ao se romperem, eliminam um líquido claro, o que caracteriza a fase subaguda do eczema. Já na fase crônica, a secreção começa a secar, levando à formação de crostas. Nessa etapa, se observa também o aumento da espessura da pele. O paciente pode ter eczema agudo, agudo/subagudo, subagudo/crônico ou só crônico. Assim, não é necessário o mesmo paciente ter todas as fases de um eczema para se fazer o diagnóstico da dermatose.

De acordo com a Associação Nacional do Eczema, nos EUA, 31,6 milhões de pessoas têm algum tipo de eczema naquele país, o que representa cerca de 10% da população. A prevalência de dermatite atópica entre crianças norte-americanas aumentou de 8% em 1997 para cerca de 12%. Muitos estudos descobriram que o eczema aumenta o risco de ansiedade e depressão, mas as estimativas do tamanho do risco tendem a variar muito.

Confira:

Causas possíveis

Os autores especulam que a coceira, as interrupções do sono e o isolamento social estimulado pela condição podem aumentar o risco de depressão ou ansiedade de um indivíduo. Eles acreditam que o estigma pode ocorrer porque, muitas vezes, as lesões ocorrem em áreas visíveis do corpo, como rosto, pescoço e mãos. Os relacionamentos íntimos também podem ser mais difíceis para quem tem a doença. 

Médicos dizem que é extremamente importante abordar a saúde mental dos pacientes porque o estresse pode causar surtos ou piorar os sintomas existentes. Tratar esse aspecto juntamente com os sintomas físicos é crucial para maximizar os benefícios do tratamento.

Os autores da análise enfatizam que os mecanismos fisiológicos que ligam o eczema e a saúde mental permanecem obscuros. Mas eles observam que, segundo alguns estudos, pode haver causas fisiológicas compartilhadas, como estresse oxidativo e inflamação. Também citam pesquisas em um modelo de eczema em camundongos, que descobriram que os animais apresentavam comportamentos semelhantes à ansiedade e depressão. Os cientistas por trás deste estudo mostraram que os comportamentos estavam associados a mudanças em partes de seus cérebros envolvidas no processamento de recompensas.

Outro estudo descobriu que o antidepressivo fluoxetina reduziu os sintomas da dermatite atópica em camundongos e, ao mesmo tempo, aliviou sintomas semelhantes à ansiedade. A droga pareceu suprimir tanto o estresse psicológico quanto as respostas inflamatórias. Em humanos, ensaios clínicos demonstraram que um medicamento chamado dupilumab, que inibe as moléculas de sinalização imunológica, não apenas melhora o eczema, mas também reduz a ansiedade ou a depressão.

Ciclo de estresse e crises

Pode haver um ciclo de estresse psicológico, aumento da inflamação e erupções cutâneas em pessoas com eczema. A associação Nacional do Eczema diz que questões hormonais associadas à dermatite atópica podem afetar os sistemas nervoso e imunológico e as próprias células da pele. Isso aumenta a inflamação e interrompe a função de barreira da pele.

Ao mesmo tempo, o estresse psicológico pode inibir o reparo da pele. A organização diz que pessoas com dermatite atópica, especialmente crianças e adolescentes, podem enfrentar a estigmatização de seus pares. Estresse e ansiedade podem aumentar a produção de moléculas inflamatórias, como histaminas, que por sua vez causam coceira. Coçar pode danificar a pele e exacerbar a inflamação.

Em uma pesquisa da Associação Nacional do Eczema no Reino Unido, 74% das pessoas relataram que o problema teve um impacto negativo em sua saúde mental e 66% disseram que levava a sentimentos de solidão e isolamento social. Menos da metade desses indivíduos disse ter recebido apoio psicológico profissional para ajudar a gerenciar esses problemas.

Jovens são os mais afetados

As crianças com eczema são particularmente vulneráveis à estigmatização, isolamento social e problemas de autoestima. Em um vídeo sobre eczema e saúde mental do Serviço Nacional de Saúde (NHS) no Reino Unido, um garoto declarou que é importante falar com as pessoas sobre pele, se você não estiver se sentindo muito bem. “Converse com as pessoas porque elas precisam saber que você não está se sentindo bem. Se você se cercar de pessoas positivas, nunca ouvirá um comentário ruim, sempre terá alguém cuidando de você”, disse o adolescente.

Além de pedir ajuda a outras pessoas, a Associação Nacional do Eczema recomenda manter um diário e técnicas de alívio do estresse, como caminhada, atenção plena e yoga.

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