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Crise de ansiedade coletiva? Entenda o fenômeno

A ansiedade é uma reação diante de algum perigo iminente, e essa ameaça nem sempre é real - iStock
A ansiedade é uma reação diante de algum perigo iminente, e essa ameaça nem sempre é real - iStock

Redação Publicado em 13/04/2022, às 11h00

Estamos vivendo um momento complicado em relação à saúde mental, e os dados não mentem. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país com o maior índice de incidência de ansiedade, com 9,3% da população.

O assunto veio à tona com ainda mais força recentemente, quando um grupo de alunos de uma escola no Recife (PE) foi atendido por conta de sintomas de crises de ansiedade. Os estudantes relataram falta de ar e taquicardia, e precisaram receber atendimento dos profissionais do Samu. Segundo a Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco, eles não foram encaminhados a hospitais.

Todos os alunos estavam doentes? 

Não necessariamente. Em reportagem à Agência Brasil, o psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília Raphael Boechat explica que crises de ansiedade não são sinônimos de doenças. O episódio é um mecanismo de defesa utilizado pelas pessoas diante de algum perigo iminente.

A reação pode acontecer em decorrência de um perigo real, como a presença de um agressor ou uma situação de estresse, ou de uma preocupação com riscos imaginários, como o medo de um ataque.

Quando ansiedade passa a ser doença?

O especialista explica que a síndrome de ansiedade pode evoluir para uma doença quando essas situações passam a ser frequentes e têm a intensidade aumentada. Outro sintoma de que o quadro evoluiu para uma situação mais grave é a ocorrência de crises sem um motivo desencadeador.

Segundo o psiquiatra, as causas desse tipo de síndrome são diversas. “Normalmente são causas diversas. Elas incluem estresse do ambiente, privação de sono e uso de substâncias estimulantes como cafeína, energéticos, bebidas alcóolicas, drogas ilícitas como cocaína”, afirma o profissional.

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Segundo o professor da UnB, também podem existir motivos de natureza genética. “Um aspecto muito importante é a questão ambiental. O estresse dos tempos modernos influencia no surgimento de diferentes tipos de ansiedade”, acrescenta.

Eventuais tratamentos dependem do tipo de ansiedade de cada pessoa. Raphael Boechat argumenta que, em casos isolados, pode não haver necessidade. Contudo, se os episódios ganham uma frequência, é importante buscar ajuda profissional.

De acordo com o psiquiatra, existem diferentes tipos de tratamentos, de naturezas psicoterápicas, farmacológicas ou de alteração de estilo de vida. Ele alerta que embora haja no senso comum uma associação a remédios fortes para esses casos, esse não é o único caminho.

“Um bom tratamento não envolve esses produtos, na maioria dos casos. Mas deve ser tratado, porque se não houver tratamento o caso começa a se agravar, a pessoa pode evitar convívio social e pode desenvolver quadros depressivos”, destaca.

Quanto ao caso dos alunos da escola no Recife, Boechat observa que não há nos documentos internacionais de psiquiatria a previsão de diagnóstico de ansiedade coletiva, e que esse tipo de episódio é muito raro.

“Temos que ponderar que estamos tratando de jovens e eles são muito influenciados por outros. Possivelmente havia fator de estresse, isso gerou ansiedade em alguns e pode ter contaminado outros. Isso é mais provável”, ressalta o psiquiatra.

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