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Terapia para insônia pode evitar depressão grave em idosos

Aproximadamente 40% dos brasileiros sofrem com algum distúrbio do sono, entre eles a insônia - iStock
Aproximadamente 40% dos brasileiros sofrem com algum distúrbio do sono, entre eles a insônia - iStock

Redação Publicado em 26/11/2021, às 17h00

Um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade da Califórnia (Estados Unidos) descobriu que a Terapia Cognitivo-Comportamental para insônia (TCC-I) é capaz de prevenir a depressão grave em adultos com mais de 60 anos, diminuindo a probabilidade em mais de 50%. 

Segundo a equipe, as descobertas, publicadas na revista JAMA Psychiatry, poderiam avançar os esforços de saúde pública para tratar efetivamente a insônia e prevenir o transtorno da depressão grave em idosos, uma população crescente que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), chegará a 2 bilhões de pessoas até 2050, o equivalente a um quinto da população mundial.

A depressão e a insônia 

Milhares de pessoas sofrem com a depressão ao redor do mundo, em todas as faixas etárias. Um estudo divulgado em outubro pela revista The Lancet apontou que, só em 2020, foram registrados 53 milhões de novos casos da doença.

Quando a condição chega mais tarde na vida, ela gera ainda mais preocupações por ser capaz de aumentar o risco de condições de saúde, como doenças cardíacas, pressão alta, declínio cognitivo e suicídio. 

Apesar de sua prevalência na população – especialmente entre os mais velhos –, a depressão, muitas vezes, não é diagnosticada e tratada. E, mesmo entre aqueles que recebem tratamento, apenas um terço melhora ou consegue remissão.

Da mesma forma, a insônia também tem alta incidência. Segundo a OMS, 40% dos brasileiros sofrem com algum tipo de distúrbio do sono. Inclusive, dados mostram que pessoas que convivem com essa condição têm mais do que o dobro de risco de desenvolver uma depressão grave.

Embora vários medicamentos para o sono sejam frequentemente usados para tratar a insônia, eles fornecem apenas alívio temporário e representam um risco para efeitos colaterais diurnos, como sonolência prolongada, dor de cabeça e dependência. 

Assim, a TCC-I aparece em primeiro lugar na lista de tratamentos recomendados para pessoas que sofrem com a insônia. Esse tipo de abordagem normalmente gira em torno de, com a ajuda de um terapeuta, conseguir identificar e mudar padrões de pensamento, respostas emocionais e comportamentos.

TCC-I vs. Terapia de educação do sono

Para descobrir como a TCC-I pode beneficiar o tratamento da insônia e, consequentemente, evitar sintomas depressivos, os pesquisadores entrevistaram 291 adultos de 60 anos ou mais com insônia, mas que não tinham experimentado depressão nos últimos 12 meses ou mais. 

Cada participante recebeu, aleatoriamente, a TCC-I por um psicólogo treinado, enquanto outros seguiram a terapia de educação do sono, que inclui instruções sobre hábitos saudáveis e o impacto do estresse no sono.

Confira:

Todos frequentaram sessões semanais de grupo com duração de 120 minutos durante dois meses e, em seguida, passaram por acompanhamento por três anos.

Ao longo de 36 meses de rastreamento, os participantes preencheram questionários mensais para triagem de sintomas de depressão e/ou de insônia e foram entrevistados a cada seis meses para determinar se havia ou não ocorrido um episódio de depressão clínica.

51% menos risco de depressão

Os principais achados do estudo mostraram que a depressão ocorreu em 25,9% dos idosos do grupo controle de terapia de educação do sono, enquanto a doença foi observada em apenas 12,2% no grupo que recebeu a TCC-I, uma redução de 51% no risco. 

Outro dado importante: a melhora contínua da insônia durante o estudo foi mais provável entre os participantes do grupo TCC-I do que o de educação do sono. Entre aqueles que receberam a Terapia Cognitivo-Comportamental e tiveram um retrocesso da insônia, a probabilidade de depressão foi reduzida em 83%. 

Em contrapartida, a depressão ocorreu em mais de 27% dos idosos do grupo de educação do sono que não apresentaram remissão da insônia, enquanto menos de 5% daqueles do grupo TCC-I – que observaram uma melhora no sono – sofreram com a doença.

Para os pesquisadores, as descobertas sugerem que o tratamento com TCC-I proporciona um benefício significativo na prevenção de incidentes e transtornos depressivos recorrentes em idosos com insônia que tratam a própria insônia, um fator de risco já conhecido para a depressão e que pode ser modificado.

Ainda segundo a equipe, tratar a insônia – juntamente com a prevenção da depressão – pode ter enormes implicações na saúde pública quando o assunto é a redução dos riscos à saúde, do suicídio e do declínio cognitivo dos idosos.

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