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Terapias contra ansiedade têm efeito mais amplo que se imaginava

A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) ajuda a alterar pensamentos excessivamente negativos - iStock
A Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) ajuda a alterar pensamentos excessivamente negativos - iStock

Redação Publicado em 28/02/2021, às 11h00

Estudos que vêm sendo realizados pela Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia (NTNU) apontam a eficácia de dois tipos de terapia para pessoas com transtorno de ansiedade. Porém, uma nova descoberta da equipe revela que essas técnicas têm um efeito mais amplo que se imaginava, podendo até melhorar certos traços de personalidade que predispõem ao transtorno. 

Traços de personalidade

Os indivíduos submetidos ao tratamento passaram por testes de personalidade baseados na teoria dos "grande cinco" traços principais: neuroticismo (tendência a reações emocionais), extroversão (gostar de estar com as pessoas e falar com elas), abertura para experiências (curiosidade, vontade de se aventurar), agradabilidade (tendência a ser amável, ou buscar harmonia social) e conscienciosidade (tendência a ter disciplina e cumprir objetivos e obrigações). Cada pessoa (personalidade) possui gradações diferentes de cada uma dessas características.

Segundo os pesquisadores, pessoas que sofrem com ansiedade tendem a pontuar mais em neuroticismo, e menos em extroversão e abertura para experiências. De maneira geral, os especialistas entendem que a personalidade é algo relativamente estável. Mas o estudo atual apontou mudanças dramáticas. 

Terapias eficazes 

A equipe avaliou dois tipos de tratamento: a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Metacognitiva (TMC). Para começo de conversa, vale explicar que cognição é a nossa capacidade de processar informações e transformá-las em aprendizado. Isso envolve emoções, capacidade de compreensão, raciocínio e memória, entre outras coisas. 

A TCC é uma linha de terapia que tem como objetivo ajudar a pessoa a identificar as próprias crenças e padrões de pensamento automático que levam a comportamentos considerados disfuncionais (que trazem danos à pessoa). A partir dessa consciência, a pessoa aprende a questionar e modificar esses padrões.

Já a terapia metacognitiva, criada há menos tempo, é focada nas crenças que a pessoa tem sobre seus próprios processos de cognição. Assim, em vez de tentar mudar uma reação de medo, por exemplo, a ideia é tentar mudar o que a pessoa acredita ser o deflagrador dessa reação. 

Descobertas

Participaram do estudo 60 pacientes, que foram divididos em dois grupos: um recebeu o tratamento da TCC e o outro a TMC. Foram realizadas apenas doze sessões em cada grupo, o que indica que não é preciso um tratamento longo.

Os resultados mostram que ambas as terapias foram capazes de diminuir traços de neuroticismo nos pacientes após o tratamento. Isso significa que eles se tornaram menos propensos a ter recaídas, uma vez que esse traço de personalidade predispõe a transtornos de ansiedade. 

Além disso pacientes do estudo passaram a buscar mais o engajamento em situações sociais, tornaram-se mais extrovertidos, amigáveis, calorosos, interessados no próximo, e ainda pareceram mais abertos a novas experiências e atividades. 

As mudanças de personalidade encontradas no estudo foram duas vezes mais intensas que as relatadas em pesquisas anteriores. Nelas, no entanto, não tinha sido possível identificar que diferentes métodos de terapia resultaram em diferentes graus de mudança. No estudo atual, a abordagem metacognitiva apresentou maior efeito, tanto nos sintomas do transtorno de ansiedade, quanto na personalidade dos pacientes. 

De acordo com os pesquisadores, quanto mais eficaz for a estratégia de tratamento, mais a personalidade tende a mudar. Eles defendem que estudos futuros também incluam formas de medir a personalidade, para que se investigue melhor o papel da mudança de certos traços na eficácia do tratamento.

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