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Sem esperança? Tente mudar: estudos mostram que otimistas vivem mais

Pessoas com crenças positivas seriam mais propensos a ter hábitos mais saudáveis - iStock
Pessoas com crenças positivas seriam mais propensos a ter hábitos mais saudáveis - iStock

Redação Publicado em 22/06/2021, às 15h00

Sim, está difícil ser otimista atualmente, ainda mais no Brasil, com tantos problemas e poucas soluções. Porém, vale a pena se esforçar: estudos mostram que os otimistas vivem mais. Além disso, ter uma crença positiva sobre a vida e o futuro melhora o humor, e isso também tem impacto importante sobre a saúde e a longevidade. Confira, a seguir, algumas lições sobre essa qualidade, suas vantagens e como exercitá-la. 

1- Somos otimistas pela maior parte da vida

Diz o ditado que a meia-idade é a "idade de ouro", aquela na qual as pessoas são mais otimistas e felizes. Para conferir a veracidade disso, pesquisadores da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, conduziram um grande estudo para determinar como o otimismo evolui ao longo da vida.

A pesquisa, publicada no Journal of Research in Personality, entrevistou 75.000 americanos, alemães e holandeses, com idades entre 16 e 101 anos. Foram analisados eventos da vida, como casamento, divórcio, um novo emprego, aposentadoria, mudanças na saúde e perda de parceiro, pai ou filho.

Os resultados mostraram que o otimismo tende a aumentar cada vez mais, a partir dos 15 anos até a faixa dos 60 ou 70 anos de idade, quando, então, ocorre um declínio. Mesmo em situações bastante complicadas, a maioria das pessoas olha para a vida e o amanhã de uma maneira positiva. 

2-Acontecimentos ruins não alteram o otimismo

Os pesquisadores se surpreenderam ao descobrir que mesmo eventos difíceis, como mortes e divórcio, não mudam a perspectiva de uma pessoa em relação ao futuro. Para os pesquisadores, isso mostra que muitas pessoas provavelmente aderem ao mantra 'a vida é curta' e buscam se concentrar no que traz alegria e equilíbrio emocional. 

"Há uma grande parte da vida durante a qual você fica sempre ansioso pelas coisas e pelo futuro. Parte disso tem a ver com experimentar o sucesso tanto no trabalho quanto na vida. Você encontra um emprego, conhece seu companheiro, atinge seus objetivos e assim por diante. Você se torna mais autônomo e tem um certo controle sobre seu futuro; você tende a esperar que as coisas acabem bem", afirma William Chopik, professor assistente de psicologia da Universidade Estadual de Michigan e autor principal. 

3-O segredo é ser resiliente

Entre os idosos, a pesquisa apontou um declínio do otimismo provavelmente motivado por preocupações relacionadas à saúde e por saber que a maior parte da vida ficou para trás. Embora a velhice não seja sinônimo de pessimismo, há uma mudança perceptível, ainda que essa seja uma fase em que as pessoas possam parar de trabalhar e se dedicar mais a hobbies, por exemplo. 

Chopik afirmou que uma das conclusões mais profundas do estudo foi mostrar a importância da resiliência: "Muitas vezes pensamos que as coisas realmente tristes ou trágicas que acontecem na vida nos alteram completamente como pessoas, mas esse realmente não é o caso. Você não muda fundamentalmente como resultado de coisas terríveis; as pessoas diagnosticadas com uma doença ou aquelas que passam por outra crise ainda se sentem positivas sobre o futuro e o que a vida lhes reserva do outro lado".

4-Quer viver bastante? Seja mais otimista

Um outro estudo, publicado em 2019, mostrou que ser otimista aumenta as chances de uma pessoa passar dos 85 anos de idade. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Boston, nos EUA, definiram como otimismo a expectativa geral de que coisas boas vão acontecer, ou a crença de que o futuro será favorável porque somos capazes de controlar certos desfechos.

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Segundo a pesquisa, as pessoas não perdem o otimismo mesmo depois de acontecimentos trágicos - iStock

Ao contrário da maioria dos estudos científicos, que buscam fatores biológicos (como medidas de saúde) associados a expectativas de vida mais positivas, este pesquisou fatores psicossociais. Foram analisados dados de 69.744 mulheres, acompanhadas por dez anos, e de 1.429 homens, avaliados ao longo de 30 anos, com questionários sobre comportamentos relacionados à saúde e crenças em relação à vida e ao futuro.

Os resultados, publicados no periódico PNAS, mostraram que homens e mulheres com níveis mais altos de otimismo no início do acompanhamento viveram de 11% a 15% mais que aqueles mais pessimistas. Além disso, os participantes classificados como otimistas tiveram uma probabilidade cerca de 50% a 70% maior de viver até os 85 anos ou além disso.

5-Crenças positivas = hábitos saudáveis

A relação entre o otimismo e a longevidade se manteve mesmo quando os pesquisadores ajustaram os resultados para levar em consideração fatores como idade, educação, doenças crônicas, dieta, uso de álcool, tabagismo e frequência de consultas médicas. O estudo não se concentrou nos mecanismos que levariam os otimistas a viver mais, mas a principal hipótese dos autores é que indivíduos com crenças positivas seriam mais propensos a ter hábitos mais saudáveis, como não fumar e fazer exercícios.

Outro ponto considerado pelos pesquisadores é que o otimismo talvez leve as pessoas a regular melhor as próprias emoções e ser menos reativas. Quando algo de ruim acontece na vida do pessimista, ele pode ter uma tendência maior a "chutar o pau da barraca" e fazer algo que prejudique a saúde, como se embebedar, por exemplo. Já aquela pessoa mais positiva se recuperaria mais rápido do estresse por acreditar que é possível reverter a situação.

6. Como aprender a ver o copo meio cheio

Os dados acima indicam que o otimismo é recurso psicológico promotor de saúde e longevidade. Mas será que uma pessoa consegue deixar de ser pessimista? Existem algumas intervenções que, segundo os pesquisadores, podem ajudar nisso, como meditação, exercícios de gratidão e a terapia cognitivo-comportamental, que trabalha as crenças e atitudes das pessoas. Ainda é preciso pesquisar melhor se essas técnicas têm efeito duradouro. De qualquer forma, cuidar dos pensamentos pode ser tão importante quanto cuidar do corpo.