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Saúde mental das profissionais brasileiras não vai bem, aponta pesquisa

Mais de 60% delas se sentem deprimidas e dormem mal em função do trabalho - iStock
Mais de 60% delas se sentem deprimidas e dormem mal em função do trabalho - iStock

Redação Publicado em 17/02/2022, às 13h00

Mais de 60% das mulheres brasileiras se sentem preocupadas ou deprimidas em relação ao trabalho, e dormem mal por causa dele. A pesquisa, quantitativa, foi realizada com 673 mulheres que atuam no mercado de trabalho brasileiro por uma startup. 

Nas entrevistas, elas foram solicitadas a avaliar suas vidas em vários setores: situação no trabalho, confiança e saúde mental, relacionamentos, saúde física e padrão de vida. As informações foram cruzadas com 12 indicadores de perfis, como faixas etária e salarial, tempo de empresa, área de atuação, tamanho da companhia, cargo e estado, entre outros.

Elas estão sobrecarregadas

Os resultados mostraram que o bem-estar corporativo das mulheres no Brasil ainda está longe do ideal. O índice geral da pesquisa consolidada foi de 57%, mas algumas esferas revelaram números preocupantes. Para os pesquisadores, o índice é muito baixo e deveria estar entre as três principais prioridades de qualquer empresa que pretende ser sustentável nos médio e longo prazos.

“Embora boa parte das empresas tenha se movimentado durante a pandemia para tentar minimizar esse quadro, muitas delas acabaram sobrecarregando ainda mais a rotina de suas funcionárias com workshops e atividades extras”, aponta Tatiana Sadala, da startup Todas Group, uma das responsáveis pela pesquisa.

Outra descoberta que chama a atenção: apenas 45% das entrevistadas têm confiança de que podem conquistar tudo que desejam na empresa na qual atuam e 51% conseguem equilibrar vida pessoal e profissional. Este é outro dado preocupante, já que mostra que metade das mulheres não dá conta de tudo que precisa fazer.

Falta de apoio genuíno às lideranças femininas

Apesar de 74% das participantes terem declarado que sentem orgulho da empresa na qual atuam e acreditam na possibilidade de crescimento, apenas 56% se dizem realizadas. Fatores de atenção – para as empresas – são que 49% das entrevistadas se disseram preocupadas com a coerência entre a divulgação das ações de diversidade e a prática, e 53% alegaram não acreditar no apoio genuíno das empresas no desenvolvimento da liderança feminina.

Falando em relacionamentos, 70% das mulheres ouvidas disseram que os chefes e colegas de trabalho fazem bem a elas, deixando a saúde social em dia, enquanto 64% se sentem parte de grupos e seguras para opinar com seus colegas. No entanto, metade delas alegou sentir falta de lideranças femininas reais por perto para aprenderem.

Os pesquisadores apontam que a pandemia de Covid-19 acabou levando a maioria das pessoas a refletir sobre hábitos, rotinas e valores que boa parte estava, provavelmente, conduzindo no piloto automático. A necessidade de rever tudo que era feito – e como era feito – até então suscitou questionamentos em diversas áreas. A jornada dupla das mulheres – agora dentro de casa – expôs uma sobrecarga que todos já sabiam existir, mas fingiam não ver.

Preservando a saúde mental

Na opinião da equipe de pesquisa, as empresas precisaram pensar em métodos capazes de preservar a saúde mental de suas colaboradoras, sob o risco de comprometer ainda mais suas operações. Muitas lançaram mão de aplicativos especializados no tema, enquanto outras tentaram flexibilizar a carga horária e a rotina de atividades.

Quase dois anos depois do início da pandemia, a pergunta que fica é se essas medidas realmente funcionaram. Os pesquisadores dizem que é preciso ter em mente que o bem-estar é formado por vários fatores subjetivos, como relações pessoais e o estado de saúde, entre outros. Mensurar isso depende da criação e análise de parâmetros para cada um deles.

A Todas Group, com base no resultado da pesquisa, criou um Índice Geral de Bem-Estar com parâmetros bem definidos para cada esfera, que serve de base de comparação para qualquer empresa interessada na implementação de políticas que realmente atendam às necessidades de suas colaboradoras.

Corpo e mente

Porém, não é apenas a saúde mental que preocupa. O aspecto físico também não vai bem. Apesar de 63% das entrevistadas dizerem que se alimentam de forma saudável independentemente do apoio da empresa, 62% dormem mal por conta do trabalho, 58% sentem que a empresa atrapalha a rotina de atividade física, 61% estão sem disposição e energia para trabalhar e 50% têm dificuldade de concentração.

Fechando a pesquisa, o parâmetro relacionado ao padrão de vida revelou que 82% das mulheres sentem orgulho do que conquistaram no trabalho atual, o que é um ótimo indicador de bem-estar, no entanto, somente 29% delas estão satisfeitas com o que conquistaram na empresa na qual atuam atualmente.

Para a especialista em bem-estar, Viviane Leite, os pontos apresentados precisam ser investigados pelas empresas, uma vez que comprometem uma série de coisas, como a autoconfiança e a segurança psicológica no trabalho. Ela lembra, ainda, de outros problemas que interferem de forma direta na produtividade e, consequentemente, na performance dos negócios, como turnover, absenteísmo e a Síndrome de Burnout, que a partir deste ano será considerada uma doença ocupacional pelo Organização Mundial da Saúde (OMS).

Tatiana lembra que, além disso, as empresas que conseguirem, de fato, oferecer condições capazes de levar bem-estar às colaboradoras terão uma grande vantagem competitiva na atração dos melhores talentos, principalmente em posições sêniores, um problema que, a cada dia que passa, fica maior.

Confira abaixo o infográfico da pesquisa:

Porém, Viviane Leite, especialista em bem-estar ressalta que a reflexão precisa ser dupla, ou seja, feita também pelas mulheres, por meio da ampliação do autocuidado, de forma que elas ajudem a estabelecer melhores condições para o próprio desenvolvimento e a mitigar aquilo que atrapalha a sua performance na companhia.

“Historicamente, as mulheres vêm ganhando espaço no mercado de trabalho, apesar das referências ainda serem poucas quando comparadas às dos homens. Por isso, essa conquista precisa vir acompanhada de programas de suporte específicos para elas, com abrangência profissional e pessoal, assim estarão mais fortalecidas e capazes de formarem novas referências para as próximas gerações”, encerra Viviane.

A pesquisa foi realizada pela startup Todas Group (edtech brasileira totalmente dedicada às mulheres), com o apoio de Viviane Leite, especialista em bem-estar, e da consultoria de pesquisa Inside Insights.

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