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Ter um emprego mentalmente estimulante reduz o risco de demência

Pessoas com profissões como médico e advogado têm um menor risco de desenvolver demência - iStock
Pessoas com profissões como médico e advogado têm um menor risco de desenvolver demência - iStock

Redação Publicado em 20/08/2021, às 10h00

Embora muitas pessoas gostem de reclamar do trabalho, uma pesquisa publicada no British Medical Journal e conduzida por pesquisadores da University College London, da University of Helsinki e da Johns Hopkins University, mostrou que ter um emprego interessante pode, na verdade, reduzir o risco de contrair demência na velhice.

Os pesquisadores afirmam que o estímulo mental pode evitar a perda de memória em cerca de 18 meses.

Acadêmicos examinaram mais de 100.000 participantes e os acompanharam por quase duas décadas. Eles identificaram um terço a menos de casos de demência entre pessoas que tinham empregos envolventes, que contavam com tarefas exigentes e com mais controle — como advogados, médicos e chefes executivos —,  em comparação com adultos em papéis “passivos”, como caixas.

Além disso, aqueles que acharam seu próprio trabalho interessante também tinham níveis mais baixos de proteínas no sangue que foram associados à demência.

Segundo os especialistas, manter o cérebro ativo desafiando a si mesmo regularmente provavelmente reduz o risco de demência, aumentando a capacidade de lidar com a doença.

O estudo analisou empregos que envolvem mais engajamento do que hobbies, coisas que geralmente duram menos de uma hora. Os pesquisadores investigaram a estimulação cognitiva e o risco de demência em 107.896 voluntários, que eram regularmente questionados sobre seu trabalho.

Os trabalhos de voluntários que incluíram funções interessantes eram: oficiais do governo, diretores, médicos e dentistas, enquanto os com baixa estimulação cerebral incluíam caixas de supermercados, motoristas de veículos e operadores de máquinas.

Os voluntários — que tinham idade média em torno de 45 anos — foram acompanhados por 14 a 40 anos.

Os trabalhos foram classificados como cognitivamente estimulantes se incluíssem tarefas exigentes e apresentassem alto controle sobre o trabalho. Ocupações “passivas” não estimulantes incluíam aquelas com baixas demandas e pouco poder de decisão.

Os especialistas identificaram 4,8 casos de demência por 10.000 pessoas/ano entre aquelas com empregos interessantes, o que equivale a 0,8% do grupo. Enquanto isso, houve 7,3 casos por 10.000 pessoas/ano entre aquelas com carreiras enfadonhas (1,2%).

Entre as pessoas com empregos no meio dessas duas categorias, houve 6,8 casos por 10.000 pessoas/ano (1,12%).

A ligação entre o quão interessante era o trabalho de uma pessoa e as taxas de demência não mudou para os diferentes sexos ou idades.

Confira:

O pesquisador principal, professor Mika Kivimaki, da UCL, disse: “Nossas descobertas apoiam a hipótese de que a estimulação mental na idade adulta pode adiar o início da demência. A demencia foi desenvolvida aos 80 anos em quem tinha alta estimulaçao e aos 78 em quem tinha baixa. Isso sugere que o atraso médio no início da doença é de cerca de um ano e meio, mas provavelmente há uma variação considerável no efeito entre as pessoas”.

O estudo também analisou os níveis de proteína no sangue entre outro grupo de voluntários. Acredita-se que essas proteínas impeçam o cérebro de formar novas conexões, aumentando o risco de demência.

Pessoas com empregos interessantes tinham níveis mais baixos de três proteínas consideradas preocupantes. Os cientistas disseram que isso forneceu “pistas possíveis” para os mecanismos biológicos subjacentes em jogo.

Os pesquisadores notaram que o estudo foi apenas observacional, o que significa que não pode estabelecer a causa e que outros fatores podem estar em jogo. No entanto, eles insistiram que era longo e bem projetado, de modo que as descobertas podem ser aplicadas a diferentes populações.

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