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Rinite prejudica qualidade de vida, mas já existe vacina

A rinite alérgica é a forma mais comum; ela é induzida pela inalação de partículas alergênicas - iStock
A rinite alérgica é a forma mais comum; ela é induzida pela inalação de partículas alergênicas - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 15/07/2021, às 10h00

A rinite é um processo inflamatório da mucosa nasal e tem como sintomas espirros frequentes, prurido nasal e/ou ocular, coriza e obstrução nasal. Ela pode ainda provocar sangramentos nasais, coceira, lacrimejamento ocular, tosse, roncos, coceira na garganta e ouvidos, voz anasalada, estalido nos ouvidos, diminuição do olfato e associação com dermatite atópica e asma.

A presença desses sintomas pode contribuir para a perturbação do sono, fadiga, dores de cabeça, irritabilidade, alterações cognitivas, interferindo nas atividades diárias de lazer, escola ou trabalho, prejudicando a qualidade de vida. A rinite pode ser aguda ou crônica, alérgica ou não. Aguda é quando a sintomatologia possui uma duração inferior a quatro semanas, crônica é quando a perturbação inflamatória da mucosa nasal possui uma duração superior a 12 semanas.

“Considerando a duração dos sintomas ao longo dos dias e semanas, a rinite é classificada em intermitente ou persistente e, de acordo com o grau de incômodo que os sintomas possam causar, é dividida em leve, moderada ou grave. É categorizada como intermitente se os sintomas alérgicos e irritativos se apresentarem por menos de quatro semanas por episódio ou menos de quatro dias por semana”, explica o otorrinolaringologista Marcelo Mello, atual coordenador do pronto-socorro de otorrinolaringologia do Hospital Cema.

Ele conta que, na forma persistente, tais sintomas ficam por mais de quatro dias na semana e por mais de quatro semanas por episódio. Na forma leve, os sintomas estão presentes, porém não são perturbadores do cotidiano. Enquanto que no grau moderado ou grave, impactam negativamente as atividades diárias e esportivas, desencadeando distúrbios do sono e ocasionando baixo rendimento na escola ou no trabalho.

A rinite alérgica é a forma mais comum. Ela é induzida pela inalação de partículas alergênicas nos indivíduos predispostos. A não alérgica possui grande diversidade, pois nesse grupo encontram-se a versão induzida por drogas, a do idoso, a hormonal, a da gestação, a ocupacional, a idiopática e a associada à alimentação.

Ácaros e fungos

Várias substâncias têm potencial para causar alergia, como a poeira de casa, pólens e outros irritantes da mucosa nasal. No Brasil, a forma de rinite alérgica que predomina é a causada pelos ácaros, sendo que os doentes sofrem mais na época do inverno, pois nesse período são usados cobertores e roupas que ficaram guardados por muito tempo, e podem estar cheios não só de ácaros como de fungos.

“Já no verão, o que ocorre é uma maior exposição a mudanças bruscas de temperatura, quando as pessoas procuram ambientes fechados com ar-condicionado. No entanto, o problema está presente ao longo de todo o ano, pois outros fatores também atuam como desencadeantes de sintomas da rinite, como as alterações no clima e a inalação de irritantes inespecíficos (odores fortes, gás de cozinha, fumaça de cigarro, poluentes atmosféricos e ocupacionais).

A rinite alérgica tem características hereditárias, entretanto, pode se manifestar em uma pessoa que não nasceu alérgica, mas possui um sistema imunológico que desenvolve uma resposta exagerada quando entra em contato com algum alérgeno. Os mais comuns, como citado, são os ácaros. Além deles, a poeira, pelos de animais, mofo, perfume, produtos de limpeza, tinta, fumaça de cigarro, entre outros.

Como o ácaro é o principal vilão, pois se prolifera na poeira doméstica, especialmente nos lençóis e travesseiros, tapetes, colchões, cobertores, carpetes, cortinas e bichos de pelúcia, o melhor é manter o ambiente bem ventilado, cuidadosamente limpo e, de preferência, ensolarado.

Descongestionantes nasais

Medicamentos descongestionantes nasais de uso tópico à base de substâncias vasoconstritoras (nafazolina, fenoxazolina, oximetazolina, xilometazolina) são utilizados no tratamento de rinites. Eles podem ser adquiridos sem a necessidade de receita médica, pois são considerados seguros, desde que utilizados conforme as orientações descritas nas bulas”, adverte Mello.

Isso porque eles podem causar problemas de saúde devido ao uso inadequado e excessivo. Mello explica que dentre as possíveis reações adversas estão a rinite medicamentosa ou congestão nasal de rebote – quando o paciente passa a ter congestão nasal provocada pelo próprio medicamento. Outra reação comum é a taquifilaxia (diminuição consideravelmente rápida da resposta ao medicamento), também chamada de dessensibilização, ou seja, quando o organismo deixa de responder às doses usuais recomendadas na bula.

“Nos dois casos, costuma ocorrer uma necessidade de uso de uma dose maior, e mais aplicações por dia, fato que contraria a indicação aprovada como segura ao paciente e publicada na bula. Essa prática só tende a agravar o problema da congestão nasal, ao invés de curá-la. Outras reações adversas relatadas são taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos), bradicardia (desaceleração dos batimentos cardíacos), cefaleia, sedação, sonolência, convulsão, agitação e isquemia cerebral. O tempo de tratamento máximo com descongestionantes nasais vasoconstritores é de até sete dias. Pacientes com doença cardíaca, hipertensão, doença de tireoide, diabetes, rinite crônica, glaucoma ou dificuldade em urinar devido ao aumento do tamanho da glândula da próstata não devem utilizá-lo”, afirma o médico.

Nos primeiros meses da pandemia do novo coronavírus, muita gente se perguntou se uma pessoa com rinite, por ser considerada uma doença respiratória crônica, teria um risco aumentado para Sars-Cov2. E a resposta é não. Pessoas que têm rinite não são grupo de risco para Covid 19, nem em infectividade nem em maior gravidade.

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A vacina, chamada de imunoterapia específica, visa reduzir a sensibilização do indivíduo a determinados alérgenos -iStock

Tratamentos e vacina

O tratamento mais comum é o controle ambiental, que visa a minimizar a exposição do indivíduo aos agentes alérgenos. Pode-se usar medicamentos por via oral ou sprays nasais com propriedades descongestionantes e antialérgicas. Porém, quando nada disso funciona mais, a indicação pode ser a vacina.

“A vacina, chamada de imunoterapia específica, visa reduzir a sensibilização do indivíduo a determinados alérgenos e tem se mostrado eficaz em longo prazo. Fundamenta-se na administração de diversas doses, gradativas e cada vez mais concentradas de extratos de alérgenos, aplicadas em intervalos regulares durante um longo período, que pode variar de um a cinco anos, até encontrar a tolerância clínica desses causadores de alergias em pacientes hipersensíveis, de forma a reduzir a sintomatologia após a exposição a determinado alérgeno. Os efeitos ocorrem aos poucos, conforme as vacinas vão sendo aplicadas, observando-se uma redução gradual dos sintomas”, explica Mello.

Ele conta que, apesar de todos os avanços na compreensão da imunopatogenia e fisiopatologia das doenças alérgicas respiratórias, e do desenvolvimento de drogas eficazes para o controle da inflamação da via aérea e dos sintomas a ela associados, até a atualidade, a imunoterapia ainda é, junto com as medidas de higiene ambiental, a única estratégia terapêutica capaz de modificar a evolução natural da doença alérgica ao induzir a sua melhora, até mesmo a remissão, e ao prevenir o seu agravamento, assim como o surgimento de novas sensibilizações, com efeitos duradouros mesmo após a sua suspensão.

A imunoterapia é recomendada no tratamento de adultos e crianças (> 5 anos) com rinite alérgica intermitente moderada a grave e em todas as formas persistentes. Deve ser usada somente quando outras terapias forem ineficazes.

Ele acrescenta que, segundo a Organização Mundial da Saúde, considera-se como critério de melhora pela imunoterapia específica quando o paciente fica um ano sem crises de rinite alérgica; sendo assim, estudos recentes comprovaram 80% de remissão. Os 20% restantes melhoraram muito, tornando as crises muito espaçadas. Estudos demonstraram redução significativa dos escores de sintomas nasais e oculares, da necessidade de medicamentos e melhora da qualidade de vida nesses pacientes.

"As vacinas sublinguais em gotas ou comprimidos são tão eficazes quanto as injetáveis e mais seguras, pois causam menos reações. A vantagem sobre as injetáveis está no conforto e por permitirem ser administradas em domicílio, não havendo necessidade de deslocamento do paciente", explica o otorrinolaringologista.

Cirurgia

Além da vacinação, uma alternativa para aqueles que não estão conseguindo se livrar da rinite é verificar com o médico se pode se tratar de um caso cirúrgico. Esse tratamento é indicado quando há alterações anatômicas do nariz e é indicado para pacientes com obstrução nasal refratária – que não responde às medicações recomendadas – ao tratamento médico e que apresentam hipertrofia dos cornetos nasais.

Com o procedimento, há uma melhora na respiração e na qualidade de vida, consequentemente, assim como melhor distribuição dos medicamentos tópicos na cavidade nasal. Segundo Mello, em todos os casos, o mais importante é buscar um otorrinolaringologista, pois quanto mais precoce é o diagnóstico, mais qualidade de vida se proporciona àqueles que sofrem com essa doença.

Ele também enfatiza que, em todos os casos de sintomas nasais que não melhoram após um tratamento inicial, é indispensável a avaliação otorrinolaringológica, na qual o exame do nariz é associado a exames endoscópicos nasais e de imagem, como a tomografia computadorizada, para a elucidação diagnóstica. A correta avaliação da cavidade nasal tornará possível a identificação de alterações estruturais, sendo o tratamento dirigido para a correção da causa.

“O tratamento cirúrgico visa corrigir as alterações anatômicas nasossinusais associadas, especialmente para pacientes com obstrução nasal refratária e que apresentam hipertrofia da concha inferior – quando ela possui um tamanho que dificulta o funcionamento nasal adequado. Os benefícios relatados indicam potencial melhoria da respiração e consequente melhoria na qualidade de vida, assim como a melhor distribuição dos medicamentos tópicos na cavidade nasal”, finaliza Mello.

Cuidados que as pessoas que têm rinite devem tomar:

  • Capriche na limpeza da casa para diminuir a proliferação dos ácaros;
  • Mantenha ambientes arejados e expostos ao sol durante a maior parte do tempo;
  • Não use vassouras e espanadores; prefira os aspiradores com filtro e use um pano úmido para remover o pó dos móveis e do chão;
  • Evite bichos de pelúcia; opte por brinquedos de plástico;
  • Procure acostumar os animais de estimação a não subirem nos sofás e nas camas;
  • Use soro fisiológico para limpar e hidratar o nariz;
  • Se, por acaso, algum alimento for responsável por desencadear as crises, elimine-o da dieta;
  • Troque e lave a roupa de cama com água quente pelo menos a cada duas semanas ou passe-a com ferro quente;
  • O travesseiro deve ser colocado no sol várias vezes por semana e trocado por um novo com frequência;
  • Umidificadores de ar, especialmente em dias com umidade relativa do ar mais baixa, podem ajudar. Mas, é preciso ficar atento para não deixá-lo ligado por períodos longos, uma vez que o excesso de umidade pode colaborar com a proliferação de fungos e bactérias;
  • Não esqueça da hidratação, ou seja, de ingerir bastante água;
  • Não use remédio sem receita, procure sempre um médico.

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