A musculação é frequentemente associada ao ganho de força e massa muscular, mas seus benefícios vão além da estética ou do desempenho físico.
A influência dos treinos de força sobre os níveis de testosterona, hormônio essencial para diversas funções do organismo, é real. Mas até que ponto a musculação pode, de fato, impactar a libido? A resposta envolve ciência, hormônios e uma boa dose de equilíbrio.
A testosterona é o principal hormônio sexual masculino, sendo produzida principalmente nos testículos. Ela está relacionada ao desenvolvimento de características físicas como aumento da massa muscular, densidade óssea e pelos corporais. Também é responsável por regular o humor, a energia, a disposição e, sobretudo, a libido — ou seja, o desejo sexual.
Embora presente em níveis mais altos nos homens, a testosterona também existe no corpo feminino e é igualmente importante para o bem-estar geral. Sua produção natural pode ser influenciada por diversos fatores, como idade, genética, estilo de vida, alimentação e, principalmente, a prática de exercícios físicos.
Quando os níveis de testosterona estão dentro da faixa ideal, os benefícios são amplos: mais energia, melhor disposição, humor estável, maior capacidade de recuperação muscular e um desejo sexual mais ativo. Já a deficiência do hormônio pode resultar em sintomas como fadiga, perda de massa muscular, desmotivação e queda na libido.
Estudos científicos apontam que os exercícios de força, como a musculação, têm o potencial de elevar temporariamente os níveis de testosterona. Uma meta-análise que reuniu 48 estudos sobre o tema concluiu que treinos de intensidade moderada a alta resultam em um aumento tanto da testosterona total quanto da testosterona livre — esta última sendo a forma biologicamente ativa do hormônio, ou seja, aquela que realmente exerce efeitos diretos no organismo.
Os maiores aumentos foram observados após treinos que envolvem grandes grupos musculares, como agachamento, levantamento terra e supino. Nesses casos, o pico hormonal costuma acontecer entre 15 e 30 minutos após o treino, voltando gradualmente ao nível basal em seguida.
Outro estudo analisou os efeitos do treinamento de resistência em homens jovens e idosos. O resultado mostrou que ambos os grupos experimentaram aumentos significativos nos níveis de testosterona, embora o impacto tenha sido mais expressivo nos mais jovens. Isso indica que a musculação pode ser benéfica também para homens mais velhos, ajudando a minimizar a queda natural do hormônio com o envelhecimento.
Apesar do efeito passageiro, a prática contínua de musculação tende a tornar o organismo mais responsivo ao estímulo físico, o que pode melhorar a eficiência da produção hormonal ao longo do tempo. Isso significa que, embora o aumento não seja permanente após cada sessão, a regularidade dos treinos pode, sim, contribuir para um perfil hormonal mais equilibrado.
A ligação entre testosterona e libido é direta. Quando os níveis do hormônio estão equilibrados, a tendência é que o desejo sexual também se mantenha saudável. Isso vale tanto para homens quanto para mulheres, embora os efeitos sejam mais perceptíveis no público masculino.
A elevação temporária da testosterona provocada pela musculação pode intensificar esse desejo, melhorar a qualidade das ereções e aumentar a disposição sexual. Em longo prazo, os treinos também impactam positivamente a autoestima, a imagem corporal e o bem-estar mental — fatores que influenciam diretamente a vida sexual.
Além disso, a prática regular de exercícios reduz o estresse, melhora a circulação sanguínea e regula o sono, o que contribui para um equilíbrio hormonal mais estável e uma libido mais ativa.
Para que os treinos de força tenham um impacto real e consistente sobre os níveis de testosterona e, por consequência, na libido, é importante adotar uma abordagem completa e sustentável. Veja algumas estratégias recomendadas:
Exercícios compostos que envolvem grandes grupos musculares — como agachamento, levantamento terra e supino — são os mais eficazes para estimular a produção de testosterona. O ideal é trabalhar com cargas progressivas e volume de treino adequado ao seu condicionamento.
O excesso de exercício sem o devido descanso pode causar um aumento nos níveis de cortisol, hormônio do estresse que inibe a produção de testosterona. Respeite os períodos de recuperação entre as sessões de treino.
Nutrientes como zinco, magnésio e vitamina D são fundamentais para a produção hormonal. Inclua alimentos ricos em proteínas magras, gorduras boas (como abacate, azeite e oleaginosas) e carboidratos complexos na dieta.
O sono é um dos momentos mais importantes para a regulação hormonal. Dormir entre 7 e 9 horas por noite contribui para o equilíbrio da testosterona e melhora o desempenho físico e sexual.
Altos níveis de estresse crônico são prejudiciais ao sistema endócrino. Técnicas como meditação, respiração consciente e prática de hobbies ajudam a manter o equilíbrio emocional e hormonal.
É importante destacar que, embora a musculação possa ajudar a aumentar a testosterona e melhorar a libido, nem todos os casos de baixa hormonal serão resolvidos apenas com exercícios físicos.
Homens (ou mulheres) que apresentam queda persistente na libido, fadiga intensa ou outros sintomas hormonais devem buscar avaliação médica. Exames laboratoriais e o acompanhamento de um endocrinologista ou urologista são fundamentais para identificar possíveis deficiências e orientar o tratamento adequado.
A musculação, quando praticada com regularidade, intensidade adequada e dentro de um estilo de vida saudável, tem o potencial de melhorar os níveis de testosterona — ainda que de forma temporária — e promover benefícios diretos na libido. Os treinos de força não apenas fortalecem o corpo, mas também contribuem para a saúde hormonal e sexual.
Contudo, os resultados mais duradouros vêm da constância. Adotar um plano de treino estruturado, aliado a bons hábitos de sono, alimentação e controle do estresse, é o caminho mais eficaz para manter a testosterona em níveis ideais e desfrutar de uma vida sexual mais ativa, saudável e satisfatória.
Fausto Fagioli Fonseca
Formado em jornalismo e pós-graduado em jornalismo esportivo, atua na área de esportes e saúde desde 2008. @faustoffonseca