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Peixes contaminados com mercúrio: o que provocam e como evitar o risco

Quando o peixe é enlatado com água, se houver metais como o mercúrio, eles ficam depositados na carne - iStock
Quando o peixe é enlatado com água, se houver metais como o mercúrio, eles ficam depositados na carne - iStock

Um estudo recente, feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelou que peixes consumidos em centros urbanos da Amazônia estão contaminados com mercúrio. Amostras de todos os seis estados amazônicos continuam níveis acima do limite aceitável, ou seja, maior ou igual a 0,5 microgramas por grama. 

O mercúrio é um metal que, quando ingerido pelas pessoas, pode causar problemas neurológicos, cardiovasculares e renais. A ingestão excessiva por gestantes, por exemplo, pode gerar complicações graves, como abortamento e malformação neurológica no bebê.

Prefira atum enlatado em óleo

O risco é alto com o consumo de peixes frescos contaminados, mas enlatados como sardinha e atum também podem apresentar risco se forem conservados em água, segundo a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Isso porque os metais pesados têm afinidade pela gordura.

“O atum em óleo pode ser uma boa opção, pois quando o peixe é enlatado com água, se houver metais como o mercúrio, eles ficam depositados na carne. A opção em óleo é a ideal, já que as eventuais toxinas estarão no óleo, que deve ser descartado antes do consumo da carne”, explica a médica.

Uma portaria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabelece as quantidades máximas de mercúrio por quilo de peixe predador e não predador. “Se essas concentrações máximas não forem respeitadas ou não forem fiscalizadas, o consumo desses pescados pode causar malefícios à saúde da população que os consome com frequência”, alerta Marcella.

Risco também para os rins e o coração

O mercúrio também está associado a lesão e morte celular no coração e nos rins. “Existe uma doença chamada glomerulopatia membranosa, que é a perda de proteína em excesso pelos rins associada à intoxicação por mercúrio”, adverte a médica nefrologista Caroline Reigada, especialista em medicina interna pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Caroline conta que o primeiro episódio de intoxicação de mãe para filho por mercúrio relatado na literatura foi em 1952, na Suécia, em uma família que havia consumido farinha de grãos tratados inadvertidamente com metilmercúrio. Pela contaminação, duas crianças nasceram com deficiências intelectuais e problemas motores graves.

Outro caso que teve destaque, na mesma década, foi o de Minamata, uma cidade japonesa que, devido a resíduos industriais de mercúrio jogados na água, peixes foram contaminados e começaram a nascer crianças com distúrbios neurológicos em consequência das mães que se contaminaram durante a gestação.  

Distúrbios neurológicos

Crianças infectadas podem ter problemas visuais, dificuldade para articular as palavras, diminuição auditiva, com consequente diminuição do desenvolvimento psicomotor. “No adulto, isso pode ser confundido com sintomas de Parkinson e Alzheimer; pode dar também dificuldades de coordenação, distúrbios visuais e auditivos”, descreve Caroline.

No sistema cardiovascular, segundo ela, existe uma maior incidência por infarto e doença coronariana em pacientes que foram contaminados por peixes que tinham alta concentração de mercúrio.

“É importante ressaltar que esse é um contaminante ambiental e está associado a desfecho na saúde a longo prazo; quando afeta crianças, a longo prazo elas podem ter dificuldade de aprendizado e baixo QI”, diz a nefrologista.

Sintomas mais leves de intoxicação

Para quem consome muitos pescados e é exposto a concentrações maiores de mercúrio, Marcella Garcez destaca que a exposição ao mercúrio pode levar a intoxicação, que pode ter sintomas desde leves, como tremores, sonolências, náuseas, dores de cabeça, fraqueza muscular e queixas de memória.

“Em casos de intoxicação por mercúrio em concentrações maiores em pessoas que têm uma saúde mais debilitada, isso pode levar ao mal funcionamento de rins, fígado e pulmão e sistema nervoso particularmente, que pode agravar problemas de saúde já existentes ou desencadear alterações ou doenças crônicas de saúde degenerativas, particularmente neurológicas, que podem inclusive colocar a vida em risco”, finaliza.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin