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Mindfulness pode mudar a impulsividade no abuso de substâncias

Mindfulness pode, indiretamente, ajudar a reconhecer, a aceitar e a deixar de lado o sofrimento físico e emocional - iStock
Mindfulness pode, indiretamente, ajudar a reconhecer, a aceitar e a deixar de lado o sofrimento físico e emocional - iStock

Redação Publicado em 12/08/2022, às 14h30

Uma nova pesquisa desenvolvida pela psicóloga Ana Paula Donate, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), observou os efeitos da chamada Prevenção de Recaída Baseada em Mindfulness (MBRP) sobre a impulsividade de pessoas em tratamento contra o transtorno por uso de substâncias.

O que é Mindfulness e para que serve?

OMindfulnessé uma expressão em inglês cujo significado é relativo à “atenção plena”, ao momento presente e sem julgamentos. Com origem no Budismo, a prática é uma habilidade que pode ser desenvolvida através da meditação. Existem diversos protocolos de Mindfulness, entre eles o MBRP, desenvolvido especialmente para pessoas que lidam com o transtorno por uso de substâncias.

Acredita-se que a meditação para dependência pode funcionar como uma estratégia comportamental que contribui para o desenvolvimento de funções cognitivas mediadas pelo córtex pré-frontal. Essa área, segundo alguns estudos, é prejudicada pelo uso crônico de substâncias, contribuindo para a permanência do comportamento compulsivo e impulsivo.

Assim, pesquisadores mostraram que, à medida que essa parte da cognição é restabelecida através das práticas de meditação, existe um aumento da conectividade dos sistemas envolvidos no processamento da recompensa e do comportamento, conhecidos como “top-down” do córtex pré-frontal e “bottom-up” dos circuitos límbicos-estriatais, respectivamente. 

Ana Paula explica ainda que a conexão entre esses dois sistemas oferece assistência para a mudança do padrão automatizado dos comportamentos em direção ao uso de substância, como reavaliação da recompensa, reatividade a pistas, assim como reorganização das funções executivas e, portanto, controle da impulsividade.

Formas de praticar 

Há diferentes estudos sobre Mindfulness, tanto baseados em grupos clínicos como em não clínicos. Essas análises mostraram que a prática pode ajudar na redução do estresse, da ansiedade e da depressão.

Quando falamos em meditação, há dois tipos: informais e formais. O primeiro envolve exercícios que podem ser feitos durante atividades rotineiras, como lavar as mãos, comer ou caminhar, sem necessariamente estar em postura específica, como acontece nas práticas formais. 

Em geral, fazer o Mindfulness envolve prestar atenção nas etapas que compõem determinada ação ou atividade, bem como escolher ter uma atitude de abertura para observar e ter consciência sobre as próprias sensações, pensamentos e emoções que podem surgir pelo caminho.  

Confira:

Com meditação vs. sem meditação

A pesquisa contou com a participação de pessoas com transtorno por uso de substância, incluindo álcool, cocaína, maconha e crack, durante o tratamento em uma comunidade terapêutica na cidade de Campinas (SP).

Antes do início do estudo, os participantes foram entrevistados com objetivo de verificar se todos atendiam aos critérios necessários, como: estar, pelo menos, 15 dias sem o consumo de substância, falar português e não apresentar quadro neurológico grave. Após essa etapa, foram selecionados 86 indivíduos, sendo que 45 receberam a intervenção de meditação.

Foram feitas, ao menos, cinco práticas diferentes de meditação formal (sons, pensamentos e respiração, por exemplo). Tudo foi conduzido durante oito semanas consecutivas, com encontros de duas horas de duração, uma vez por semana.  

Enquanto metade do grupo recebeu a intervenção da meditação, a outra parte formou o grupo controle, que passou por atividades que incluíam técnicas dos 12 passos de prevenção de recaída, geralmente oferecidas em comunidades terapêuticas no Brasil.

Os achados revelaram uma pequena diminuição da impulsividade entre as pessoas que receberam a meditação. De acordo com a pesquisadora, o estudo abre portas para a discussão sobre a necessidade de adaptações do protocolo para essa determinada população, como fazer algo que seja contínuo (que permita que novos integrantes participem mesmo após o início do grupo) e com sessões menores. 

Além disso, Ana Paula comenta que, do ponto de vista prático, os resultados da pesquisa parecem fazer sentido, mas, para saber se as áreas neurobiológica, cognitiva e comportamental também terão impacto na impulsividade, é preciso mais estudos sobre o assunto.  

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