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Erotomania: a fixação de que algum famoso te ama

Na maioria das vezes, o objeto da paixão é alguém considerado de status social mais elevado - iStock
Na maioria das vezes, o objeto da paixão é alguém considerado de status social mais elevado - iStock

Você já ouviu falar em erotomania? Esse termo é usado para descrever uma espécie de delírio, quando uma pessoa se convence de que outra está apaixonada por ela, apesar das evidências em contrário. Esse tipo de fantasia com frequência envolve uma celebridade ou alguém muito conhecido.

Em geral, quem desenvolve essa obsessão tem dificuldade de encarar os fatos. No entanto, é possível tratar ou controlar essa condição, segundo especialistas. 

Definição de erotomania

Em 1921, o psiquiatra francês Gaëtan Gatian de Clérambault descreveu uma síndrome que ele batizou de psicose passional. Mais tarde, os sintomas foram chamados de Síndrome de Clérambault, ou erotomania.

Trata-se de um tipo de ilusão, definida na psicologia como uma crença firme que não muda mesmo quando são apresentadas evidências que as contradizem. Mesmo que não seja uma condição por si só, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição (DSM-5) tem a erotomania como um sintoma do transtorno delirante.

Os desvarios no transtorno delirante podem ter muitos temas. No caso da erotomania, o delírio normalmente se apresenta como uma fixação em alguém junto com a crença de que essa pessoa está apaixonada por você. Esse alguém pode ser qualquer pessoa, mas na maioria das vezes é uma figura pública, uma pessoa famosa ou alguém considerado de status social mais elevado.

Essa pessoa pode ser alguém que você conhece, mas também pode ser um estranho ou alguém com quem você teve contato limitado ou que comunicou que não retribui seus sentimentos românticos. Outras condições de saúde mental que podem ter delírios erotomaníacos como sintoma incluem:
-transtorno bipolar
-transtorno de personalidade borderline
-doenças cerebrais (comprometimento cognitivo)
-esquizofrenia e transtorno esquizoafetivo
-transtorno depressivo maior (TDM)

Algumas pessoas que têm comportamentos de perseguição são diagnosticadas com erotomania. No entanto, nem todo mundo que faz isso vive com erotomania, e nem todo mundo com erotomania pratica perseguição.

Os delírios erotomaníacos podem se manifestar de diferentes maneiras, por exemplo:
-Uma pessoa acredita que um âncora de um noticiário local está dizendo certas coisas na TV para chamar sua atenção.
-Alguém ouve mensagens secretas dirigidas a ele nas letras de seus músicos favoritos.
-Uma pessoa passa seu tempo livre descobrindo tudo o que pode sobre um ator, cantor ou figura política famosa que ela acredita que a ama.

Erotomania primária

É um subtipo de transtorno delirante. Em suma envolve:
-nenhum outro diagnóstico de saúde mental
-início rápido dos sintomas
-sintomas que duram muito tempo
-dificuldade em responder ao tratamento

Erotomania secundária

É considerada um sintoma de outras condições de saúde mental além do transtorno delirante. Em suma, envolve:
-comorbidades (outras condições) presentes
-início lento e gradual dos sintomas
-sintomas que se apresentam em episódios
-manejo eficaz com psicoterapia e medicamentos

Sinais de erotomania

Nem todos vivenciam a erotomania da mesma forma ou com a mesma intensidade. Seus sinais podem ser emocionais ou comportamentais ou ambos.

Sinais emocionais
-saudade da outra pessoa
-sentimentos de solidão e vazio
-sentimentos de culpa e vergonha
-negação das expressões de rejeição ou desinteresse de alguém
-ter a sensação de que não pode aceitar um “não” como resposta

“Você também pode sentir ciúme e suspeita de que a outra pessoa está sendo infiel. Além disso, há uma perda de interesse na maioria das atividades”, disse Brian Wind, psicólogo clínico em Brentwood, Tennessee, à Psych Central. “

Sinais comportamentais

-ficar com raiva de pessoas que não acreditam em você
-gastar tempo com a ilusão, mesmo quando ela está impactando negativamente a vida profissional, doméstica ou escolar
-tentar decodificar mensagens secretas dirigidas a você por meio da mídia, legendas, escolhas de guarda-roupa, posturas, letras ou telepaticamente (delírios de referência)
-ligar, escrever ou enviar mensagens repetidamente para alguém
-abordar furtivamente alguém online ou pessoalmente
-prejudicar quem atrapalha seu caminho para chegar a pessoa
-comportamentos agressivos em relação à pessoa (mais comumente em homens)

O que a erotomania não é

Às vezes, uma paixão é apenas uma paixão, principalmente entre os mais jovens. Você pode escrever uma carta de fã para sua celebridade favorita ou dar um beijo de boa noite no pôster em sua parede. Se o conheceu pessoalmente e ele não retribuiu seus sentimentos, você pode sentir mágoa, mas pode seguir em frente. Neste caso, a pesquisa sugere que não se trata de um caso de erotomania, a menos que:
-você acredita que ele está apaixonado por você, apesar da rejeição
-você faz da busca de informações sobre a pessoa uma prioridade em sua vida
-você faz de tudo para se conectar com ele

A erotomania está ligada à esquizofrenia?

A erotomania pode ocorrer por si só (primária) ou como sintoma de outros transtornos mentais (secundária). Às vezes, isso inclui a esquizofrenia, mas não em todos os casos. A erotomania nem sempre é um sintoma de esquizofrenia porque aqueles com esse diagnóstico podem ter diferentes tipos de delírios ou nenhum.

A erotomania é um episódio psicótico?

A psicose, ou ruptura com a realidade, geralmente é um sintoma de um problema de saúde mental que pode durar de algumas horas a algumas semanas. Pode incluir falsas crenças ou delírios, incluindo aqueles sobre alguém estar apaixonado por você. “A erotomania que ocorre apenas em episódios curtos pode ser semelhante a um episódio psicótico […] mas nem sempre é a mesma coisa”, diz Wind. Se você vive com erotomania primária que apresenta um padrão crônico de pensamento e comportamento, isso é diferente de um estado temporário de psicose.

A erotomania pode ser tratada?

Se você estiver aberto a isso, a erotomania pode ser gerenciada com apoio profissional, que geralmente inclui uma combinação de diferentes abordagens.

Psicoterapia: a psicoterapia pode ser parte integrante do seu plano de tratamento para controlar a erotomania. Pesquisas mais antigas sugerem que a terapia cognitivo-comportamental (TCC), especificamente, pode ser eficaz. Este método pode ajudá-lo a desenvolver uma visão mais profunda sobre seus padrões, fortalecer suas habilidades de enfrentamento e identificar os sinais que orientam seu comportamento.

Medicamentos: pesquisas mostram que a medicação pode ser útil na redução dos sintomas de delírios em algumas pessoas. Somente um profissional de saúde mental pode determinar se este é o melhor tipo de tratamento para você. Se o fizer, algumas opções que ele pode considerar incluem antipsicóticos, antidepressivos e medicamentos ansiolíticos.

Programas de hospitalização: em alguns casos, as pessoas com erotomania sentem vontade de prejudicar a si mesmas ou aos outros. Neste caso, um programa de hospitalização pode ser uma boa opção. “Aqueles que vivem com delírios podem não os reconhecer e se tornarem um perigo para si próprios ou para os outros. É quando é necessário internar a pessoa para que receba os cuidados necessários”, finaliza Makin.

Fonte: Psych Central

Cármen Guaresemin

Cármen Guaresemin

Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão.  @Carmen_Gua