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Descubra como o estresse afeta o apetite

Vários estudos sugerem que elevados níveis de estresse podem estar ligados a alterações de apetite - iStock
Vários estudos sugerem que elevados níveis de estresse podem estar ligados a alterações de apetite - iStock

Marcella Garcez* Publicado em 21/07/2022, às 10h00

A Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, classificou o Brasil como o país mais ansioso do mundo. De acordo com os números divulgados, 18,6 milhões de brasileiros sofriam com transtorno de ansiedade, o que representava 9,3% da população. Em março deste ano de 2022, a mesma OMS divulgou um resumo científico, que demonstrou um aumento na prevalência global de ansiedade e depressão da ordem 25%, apenas no primeiro ano de pandemia e destacou que as mulheres e jovens foram mais afetados.

O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) é caracterizado por sentimentos de preocupação excessiva e permanente estado de alerta, que levam as pessoas a vivenciar elevado grau de estresse constantemente; e quando uma pessoa se sente estressada, há a liberação de vários hormônios e neurotransmissores que despertam reações instintivas de luta ou fuga.

Hormônios que mexem com o apetite

Vários estudos sugerem que elevados níveis de estresse podem estar ligados a alterações de apetite. O hormônio corticotrofina, liberado após situações de grande ansiedade, afeta diretamente o sistema digestório e pode suprimir o apetite. O cortisol, outro hormônio que tem seus níveis aumentados em situações de estresse, atinge o aparelho gastrointestinal, onde é capaz de aumentar a produção de suco gástrico para acelerar o processo de digestão, o que pode fazer a pessoa possa ter diarreia, náusea e má digestão.

Porém, muitas pessoas acometidas por estresse e ansiedade constantes podem ter efeito contrário no centro da fome e aumentar o consumo alimentar muito além do necessário. Episódios de estresse e ansiedade podem levar a pessoa a encontrar na comida uma forma de conforto e prazer, que pode resultar em episódios de compulsão alimentar. Este fato ocorre porque as pessoas podem responder de diferentes maneiras aos estímulos hormonais resultantes do estresse.

Outros achados científicos indicam que as mulheres tendem a consumir mais calorias em resposta às situações de estresse e ansiedade, sendo este um dos motivos para terem maior predisposição a ganhos de peso.

O estresse é um fator importante no desenvolvimento do vício e na recaída do vício e pode contribuir para um maior risco de obesidade e outras doenças metabólicas. O estresse incontrolável muda os padrões de alimentação e leva ao consumo de alimentos hiperpalatáveis, que pode desencadear adaptações neurobiológicas, que levam a um comportamento cada vez mais compulsivo.

A obesidade é uma doença crônica resultante de múltiplos fatores de difícil, mas necessário tratamento, que pode ser muito agravada por momentos frequentes de estresse que leva a ansiedade e aumento no consumo de alimentos, particularmente os que trazem conforto emocional e podem possuir qualidades aditivas. Compreender as associações e interações entre o estresse e obesidade é importante no desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento.

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Como enfrentar o problema?

A saída é procurar sair de uma rotina de estresse diário, através da prática de atividades físicas moderadas e prazerosas, atividades introspectivas, como yoga ou meditação, bons hábitos de sono, com momentos de lazer e espiritualidade. Além, é claro, de bons hábitos alimentares.

Naqueles casos nos quais o nível de estresse e de ansiedade são muito elevados e frequentes, com consequências físicas importantes e dificuldades de controle com medidas de estilo de vida, o mais recomendado é buscar o auxílio psicológico e, muitas vezes, psiquiátrico, para obter um tratamento adequado e específico.

Programas de prevenção e tratamento, com profissionais de saúde capacitados, ainda são incipientes, apesar dos dados científicos que associam o estresse ao vício em alimentos. Este é o caminho para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde e, assim, abordar o problema que atinge boa parte da população.

*Marcella Garcez é médica Nutróloga, mestre em ciências da saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran) e docente do Curso Nacional de Nutrologia da Abran. É membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Além disso, é membro da Sociedade Brasileira de Medicina Estética e da Sociedade Brasileira para o Estudo do Envelhecimento. Instagram: @dra.marcellagarcez

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