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Casagrande vs. Neymar: como o preconceito pode dificultar o tratamento?

Criar um canal de comunicação é fundamental quando o assunto é consumo de drogas - Reprodução / Instagram
Criar um canal de comunicação é fundamental quando o assunto é consumo de drogas - Reprodução / Instagram

Durante uma live, o ex-jogador Walter Casagrande comentou sobre a postura de Neymar fora das quatro linhas e o impacto que isso poderia ter no seu desempenho na Copa do Mundo. Após esse episódio, o jogador da seleção brasileira curtiu um post em um perfil de humor que debochava do fato de Casão ser dependente de drogas.

O comentarista, por sua vez, reagiu à curtida de Neymar e se posicionou através de sua coluna no site UOL. Segundo ele, qualquer tipo de deboche contra dependentes químicos é uma perversidade, visto que o caminho até a abstinência foi difícil e marcado por muitas perdas, dores e sofrimento. 

Ainda no texto, Casagrande contou que não tem nenhuma vergonha de ser um dependente químico e, atualmente, sente-se orgulhoso de todo esforço feito para conquistar a sua recuperação. 

Preconceito atrasa acesso à saúde

O psiquiatra Jairo Bouer, em sua coluna da UOL, comentou que todo esse preconceito com a dependência química dificulta a vida não só de quem é dependente, mas também de todos aqueles que convivem com esse indivíduo (família, amigos). 

A discriminação cria ainda mais barreiras barreiras para que essas pessoas procurem ajuda quando necessário. Assim, se afastam os dependentes do diagnóstico e do tratamento, o que por si só já é bastante complicado”, comentou.

Vale lembrar que a dependência química é uma doença reconhecida desde a década de 1960 e, mesmo atualmente, com todos os recursos possíveis, as chances de recuperação giram em torno dos 20% a 30%. Esses dados enfatizam ainda mais a importância de encorajar os dependentes a buscarem ajuda. Além disso, essa é uma das principais causas de depressão e suicídio.

Para Jairo, todas essas questões seriam melhor discutidas e abordadas se a sociedade compreendesse o quão essencial é o suporte precoce e multifatorial. Nesse sentido, grandes personalidades como Neymar têm um papel fundamental na contribuição para apoio e conscientização sobre a causa.

Confira:

Como ajudar?

A família é um ponto central e uma rede de apoio é importante quando o assunto é dependência química. Por isso, é fundamental que os familiares e os amigos estejam cientes do seu papel para que, dessa forma, o indivíduo consiga começar e seguir com o tratamento. 

Confira algumas dicas:

  • Pesquise e entenda sobre a dependência química: uma família bem informada e consciente do seu papel pode ser ainda mais eficiente na hora de ajudar quem sofre com o problema;
  • Seja franco e exponha seus sentimentos;
  • Coloque limites;
  • Seja empático, mas não deixe de ser firme;
  • Seja a ponte para que a pessoa chegue ao tratamento;
  • Além do dependente químico, é importante que a família também frequente os grupos de autoajuda para saber a melhor forma de lidar com o problema.

O que não fazer?

Assim como existem condutas que podem ajudar o dependente químico a lidar melhor com a situação, aceitar e seguir com o tratamento, também há algumas atitudes que podem ter o efeito reverso.

Para famílias que convivem diariamente com a dependência química, é importante prestar atenção e ter cautela com falas e comportamentos. Confira algumas expressões que devem ser evitadas: 

“Isso é fraqueza, falta de caráter, falta de vontade”: na verdade, a dependência química é uma doença e, portanto, precisa de tratamento;

“Isso não é nada, você é forte e para de consumir quando quiser”: isso só coloca ainda mais pressão sobre a pessoa;

“Você sai dessa sozinho”: a dependência química requer tratamento multidisciplinar de longo prazo; o indivíduo é acompanhado por psiquiatra, terapeuta, frequenta grupos de apoio e conta com a ajuda de uma assistente social. Tudo isso pode ser necessário para a recuperação;

“É uma fase, vai passar”: a dependência química é considerada uma doença crônica e que não tem cura. Dessa forma, a pessoa precisa estar sempre atenta, mesmo quando está há anos sem usar drogas, porque podem haver recaídas. 

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Milena Alvarez

Milena Alvarez

Caiçara e jornalista de saúde há quatro anos. Tem interesse por assuntos relacionados a comportamento, saúde mental, saúde da mulher e maternidade. @milenaralvarez