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Ter alta renda aumenta chances de encontrar parceiro romântico

Pesquisadores querem saber se pessoas com mais recursos financeiros estão mais satisfeitas com a vida de solteiro - iStock
Pesquisadores querem saber se pessoas com mais recursos financeiros estão mais satisfeitas com a vida de solteiro - iStock

Redação Publicado em 25/07/2025, às 10h00

Dizem que o dinheiro não traz felicidade, mas na vida dos solteiros, ele pode aumentar o desejo — e a probabilidade — de entrar em um relacionamento. Um novo estudo publicado no Journal of Marriage and Family descobriu que adultos solteiros com renda mais alta eram mais propensos a dizer que queriam um parceiro, se sentiam mais preparados para namorar e eram mais propensos a iniciar um relacionamento no próximo ano. No entanto, a renda não foi associada a uma maior satisfação em ser solteiro.

A vida de solteiro se tornou mais comum nos últimos anos, com quase metade dos adultos americanos se identificando como solteiros e famílias unipessoais, agora o tipo de família mais comum no Canadá. No Brasil, o número de pessoas solteiras supera o de casadas, com mais de 81 milhões de solteiros contra 63 milhões de casados, de acordo com dados do IBGE. Apesar dessa tendência, grande parte das pesquisas sobre finanças e relacionamentos tem se concentrado em casais — particularmente em como a renda se relaciona com casamento, conflitos e divórcio. Mas pouco se sabe sobre como o dinheiro molda a vida e as atitudes de pessoas que não estão atualmente em um relacionamento.

Pesquisadores da Universidade de Toronto e da Universidade Carleton, ambas no Canadá, queriam entender se pessoas solteiras com mais recursos financeiros estão mais satisfeitas com a vida de solteiro — ou mais interessadas em buscar um relacionamento romântico. Eles estavam especialmente interessados em saber se uma renda mais alta poderia sinalizar uma espécie de prontidão para um relacionamento. Estudos anteriores sugerem que as pessoas frequentemente desejam alcançar alguma estabilidade financeira antes de se comprometerem com um relacionamento de longo prazo, mas não está claro como isso se reflete entre aqueles que estão solteiros.

A pesquisa incluiu dois grandes estudos — um realizado nos Estados Unidos e outro na Alemanha — cada um projetado para explorar a relação entre renda e atitudes em relação a relacionamentos em pessoas solteiras. Os estudos foram longitudinais, o que significa que acompanharam os participantes ao longo do tempo para verificar como seu status de relacionamento mudou.

Desejo por um parceiro

O Estudo 1 incluiu 638 adultos solteiros residentes nos EUA, com idades entre 25 e 35 anos. Os participantes foram recrutados online e relataram sua renda anual, satisfação com a vida de solteiro, desejo por um parceiro romântico e o quanto se sentiam preparados para iniciar um relacionamento. Eles também indicaram se pretendiam encontrar um parceiro nos próximos seis meses. Cerca de 60% dos participantes responderam a uma pesquisa de acompanhamento seis meses depois, relatando se haviam iniciado um relacionamento romântico durante esse período.

O Estudo 2 utilizou mais de uma década de dados do Painel Familiar Alemão, que incluiu 2.774 indivíduos solteiros que relataram sua renda, atitudes em relação a relacionamentos e status ao longo de vários anos. Este estudo permitiu aos pesquisadores examinar como tanto a renda atual quanto as mudanças recentes na renda se relacionavam com os resultados do relacionamento um ano depois. Também proporcionou uma oportunidade de testar se essas ligações eram diferentes para homens e mulheres.

Em ambos os estudos, renda mais alta não foi associada a maior satisfação com a vida de solteiro. Pessoas com mais dinheiro não relataram aproveitar mais a vida de solteiro do que aquelas com menor renda. No entanto, a renda foi fortemente associada a um maior desejo por um relacionamento romântico, sentimentos mais fortes de prontidão para namorar e maior intenção de iniciar um relacionamento em um futuro próximo.

Na amostra dos EUA, adultos solteiros com renda mais alta eram mais propensos a dizer que queriam um parceiro e sentiam que era o momento certo para um relacionamento. Eles também demonstraram maior intenção de começar a namorar nos seis meses seguintes. Quando entrevistados novamente seis meses depois, aqueles com renda mais alta eram significativamente mais propensos a ter se envolvido em um relacionamento.

A amostra alemã repetiu esses achados. Participantes com renda mais alta eram mais propensos a expressar o desejo por um parceiro, e a renda previa as chances de estar em um relacionamento um ano depois. Esse efeito foi mais forte para os homens do que para as mulheres, embora a diferença de gênero tenha sido modesta no geral.

Cálculos racionais

O professor de psicologia na Universidade de Toronto, no Canadá, Geoff MacDonald, afirmou que acredita que os jovens estão fazendo cálculos racionais em condições econômicas instávei: “Acho que as pessoas entendem que não conseguirão desfrutar de um relacionamento se trabalharem 80 horas por semana ou se não tiverem certeza de onde morarão no ano que vem.”

Curiosamente, mudanças recentes na renda — se um participante ganhava mais ou menos do que no ano anterior — tiveram pouco efeito sobre se eles queriam um relacionamento ou se realmente encontraram um. O que importava mais era o nível de renda atual. Isso sugere que a estabilidade financeira, em vez de melhora ou declínio financeiro de curto prazo, desempenha um papel mais importante na formação das intenções e resultados dos relacionamentos.

A satisfação com a vida de solteiro geralmente não teve relação com a renda em ambos os estudos. Isso se manteve mesmo após levar em conta o estresse financeiro subjetivo, sentimentos de privação ou preocupações com dinheiro. Pessoas com renda mais alta podem ter tido mais recursos e opções, mas isso não pareceu se traduzir em maior felicidade em ser solteiro.

Outros fatores

Embora o estudo forneça evidências de uma conexão entre renda e intenções de relacionamento, ele não prova que o dinheiro faz com que as pessoas queiram ou iniciem relacionamentos. Outros fatores — como traços de personalidade, objetivos de vida ou valores culturais — também podem desempenhar um papel. Os pesquisadores se concentraram na renda objetiva, que é apenas uma parte do status socioeconômico. Trabalhos futuros podem examinar como outros aspectos, como nível educacional, classe social percebida ou estabilidade no emprego, influenciam a prontidão para relacionamentos.

Outra limitação é que ambos os estudos foram conduzidos em países ocidentais com culturas relativamente individualistas. Em culturas onde o casamento está mais intimamente ligado às expectativas familiares ou aos arranjos econômicos, a ligação entre renda e parceria pode ser mais forte — ou assumir formas completamente diferentes. As normas e os papéis de gênero também variam entre as sociedades, e pesquisas futuras podem explorar como a renda afeta homens e mulheres de forma diferente em contextos com menor igualdade de gênero.

Também há questões sem resposta sobre quais tipos de recursos materiais sinalizam a prontidão para relacionamentos. É uma renda estável? Ter um apartamento próprio? Ter um carro? Estudos futuros podem examinar mais de perto esses fatores de "infraestrutura de relacionamento". Os pesquisadores também podem explorar se uma renda maior leva a uma maior confiança ou a um senso mais forte de autonomia na busca romântica.

Fonte: PsyPost