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Estresse financeiro: especialistas dão dicas de como lidar

O medo de não conseguir pagar as contas ou atender às necessidades básicas pode pesar muito - iStock
O medo de não conseguir pagar as contas ou atender às necessidades básicas pode pesar muito - iStock

Redação Publicado em 28/04/2022, às 10h00

Se você está se sentindo estressado por causa de dinheiro, você não está sozinho. A maioria dos adultos se preocupa com isso em algum momento da vida. O estresse financeiro acontece quando as preocupações com as finanças são consistentes e angustiantes. Gerenciar as finanças pode parecer algo muito pesado, principalmente se seu dinheiro tem de ser muito esticado para cobrir despesas domésticas, médicas ou estudantis, por exemplo.

Uma pesquisa com consumidores realizada em janeiro de 2022 para a Bankrate, fornecedora de guias e recursos financeiros para consumidores nos Estados Unidos, descobriu que apenas 44% dos americanos poderiam cobrir uma despesa não planejada de mil dólares, como conserto de carro ou conta médica de emergência, sem precisar pedir dinheiro emprestado. Por aqui, de acordo com o Índice de Saúde Financeira do Brasileiro, uma iniciativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com o Banco Central lançada em 2021, as finanças causam estresse em 58,4% dos brasileiros.

Para os especialistas Bankrate, não poupar para emergências e aposentadoria são os maiores arrependimentos financeiros dos adultos norte-americanos. Também citam a inflação, que é atualmente uma das principais preocupações, e tem o maior impacto sobre as pessoas com menos recursos econômicos e flexibilidade. Em março de 2022, outra pesquisa do mesmo Bankrate descobriu que cerca de 3 em cada 4 (74%) adultos dos EUA dizem que a inflação os está prejudicando financeiramente. O que também pode ser verdade por aqui no Brasil, onde a média de inflação dos últimos 12 meses foi de 11,30%, o maior valor desde 2003. Resultado: estamos mais estressados com coisas que não podemos controlar, e as finanças fazem parte dessa lista.

Quais são os sintomas do estresse financeiro?

O estresse financeiro pode ter sintomas mentais e físicos. O medo de não conseguir pagar as contas ou atender às necessidades básicas pode pesar muito nas pessoas, potencialmente levando a problemas para dormir, aumento da ansiedade, relacionamentos tensos e depressão. Quando seus pensamentos estão constantemente em como ganhar mais dinheiro ou como ganhar o que você precisa para cobrir suas despesas, é sempre um sinal revelador de estresse financeiro.

Sinais e sintomas de estresse incluem:
-dificuldade em focar;
-sentir-se constantemente frustrado ou irritado;
-dores de cabeça;
-frequência cardíaca rápida;
-pressão alta;
-problemas digestivos;
-músculos tensos;
-problemas para dormir;
-sistema imunológico baixo;
-aumento no consumo de álcool.

Se você fica acordado à noite regularmente, se preocupando em como pagar as contas, é provavel que seja um sinal de estresse financeiro. Uma pesquisa de 2020 da Bankrate descobriu que 47% dos adultos dos Estados Unidos relataram perder o sono, pelo menos ocasionalmente, por causa de um problema de dinheiro. Dos pesquisados, 23% disseram que não conseguiam dormir por causa das despesas do dia a dia. Quando você não consegue ter um sono de qualidade com regularidade, isso pode ter efeitos físicos. A falta de sono prejudica ainda mais a função imunológica, reduzindo a capacidade do corpo de se recuperar dos efeitos do estresse.

Como o estresse financeiro afeta a saúde mental?

Segundo especialistas, dinheiro pode representar segurança, proteção, conforto e até paz. Para aqueles que vivem constantemente apenas com o suficiente ou nem isso, os pensamentos sobre suprir as necessidades básicas podem consumir tudo, levando à preocupação crônica, ansiedade, medo e angústia geral.

O estresse, incluindo aquele causado por questões financeiras, pode ter efeitos negativos a longo prazo na saúde mental, especialmente para aqueles que já tinham esses problemas. Por exemplo, pode desencadear mania ou depressão em pessoas com transtorno bipolar. A pesquisa também sugere que pode haver uma conexão entre estar estressado por causa de dinheiro e ter depressão.

Uma revisão de 2022 de 40 estudos que examinaram a ligação entre estresse financeiro e depressão em adultos concluiu que existe uma associação entre os problemas. O estresse financeiro pode até ter um impacto negativo nos relacionamentos. Pressões econômicas – como baixa renda, perda de emprego, problemas para pagar as contas ou encontrar moradia acessível – podem aumentar o conflito e a tensão entre os casais, de acordo com um estudo de 2021.

Dicas para controlar o estresse

Embora você não consiga controlar sua situação financeira, ainda há coisas que você pode tentar para reduzir o estresse. Considere estas dicas:
-dar um passeio ao ar livre;
-fazer algum exercício;
-praticar técnicas de respiração;
-reduzir o tempo de tela;
-praticar a autocompaixão;
-meditar;
-escrever em um diário;
-ouvir músicas que animem.

Psicólogos dizem que é preciso encorajar as pessoas a não esquecerem que elas também merecem experimentar prazer, alegria e felicidade. E que elas podem encontrar maneiras gratuitas ou de baixo custo de fazer isso – passear na natureza, ir à praia, visitar museus e eventos gratuitos – também são importantes para deixar o copo meio cheio.

Desafiar a maneira como se pensa sobre dinheiro também pode ajudar a reduzir alguns dos fortes sentimentos de estresse financeiro. Farnoosh Torabi, editora geral da CNET Money e apresentadora do podcast “So Money”, nos Estados Unidos, disse ao site PsychCentral que nós damos muito poder ao dinheiro em nossas vidas. Ela quis passar uma mensagem afirmando que não é para ligarmos nosso patrimônio líquido ao nosso valor próprio. Ela acredita que isso pode ser problemático porque pode levar à vergonha.

“Às vezes a pessoa não está onde quer estar. Isso pode levar a se sentir inferior, e isso mantém você acordado à noite.”

Depois de entrevistar pessoas que perderam tudo em um incêndio ou tiveram suas economias roubadas, Farnoosh diz que reconheceu um padrão. O que ela se lembra de ouvir em todas as suas histórias é “olha, eu tive que parar de pensar no que eu não tinha, e tive que começar a pensar no que eu tinha”. Para ela, quando as coisas parecem completamente fora de controle, o aspecto que você pode controlar é onde focar sua atenção. Você pode optar por atribuir valor a outras coisas além do dinheiro, como o modo como gasta seu tempo, as pessoas em sua vida etc.

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Para economizar ou reduzir dívidas, você deve ganhar mais dinheiro do que gastar - iStock

Como assumir o controle de suas finanças

Nós tendemos a ver o dinheiro em termos de números, o que é uma grande parte disso. Em um nível fundamental, para economizar ou reduzir dívidas, você deve ganhar mais dinheiro do que gastar. Mas grande parte da maneira como você gerencia as finanças individuais pode vir de como você foi ensinado a ver o dinheiro quando era jovem.

Farnoosh recomenda fazer a si mesmo as seguintes perguntas para ajudar a desvendar a maneira como você foi ensinado a pensar sobre dinheiro com base em suas experiências de infância:

  • Quais foram algumas das lições que aprendi na infância sobre dinheiro?
  • O que me lembro sobre dinheiro quando criança?
  • Quais foram alguns dos conselhos comuns que recebi?
  • O que eu vi como modelo para mim?

Farnoosh diz que este exercício não é para culpar, mas para ajudar a identificar padrões e determinar quais lições financeiras você aprendeu quando criança e que podem estar contribuindo para seus padrões de pensamento e comportamentos atuais. Você também pode explorar esses pensamentos com um terapeuta.

Dicas para reduzir dívidas e administrar valores

Acompanhe seus gastos

Para fazer um planejamento financeiro e descobrir quais recursos estão disponíveis para sua situação, saiba como você está gastando. Você pode acompanhar seus gastos observando quanto vai para contas, pagamentos de dívidas e despesas necessárias. Então veja quanto vai para outras coisas. Aplicativos gratuitos podem fazer isso por você sincronizando com sua conta bancária e cartões de crédito.  Uma planilha também pode ser usada para fazer sua lista.

Depois de acompanhar seus gastos por um mês ou dois, você terá uma noção melhor de como seus gastos se ajustam com sua renda. Há várias razões pelas quais as pessoas podem estar vivendo de salário em salário. Para algumas, é porque a renda não é suficiente para cobrir as despesas. Outras podem ter uma renda maior, mas gastam mais do que recebem. É mais fácil fazer um plano quando você sabe onde estão receitas e gastos.

Consolide e negocie dívidas

A dívida pode ser uma grande fonte de estresse financeiro. Você pode não conseguir se livrar dela, mas saber o quanto você tem e colocar um plano em prática para reduzi-la pode ajudar a diminuir os sentimentos de estresse e ansiedade. Especialistas recomendam uma combinação de encontrar mais dinheiro para diminuir a dívida e reduzir a taxa de juros.

Às vezes, os credores ou agências de cobrança estão dispostos a se contentar com um valor menor se você negociar. Se não tiver certeza por onde começar, procure aconselhamento de crédito sem fins lucrativos por meio de grupos. No Brasil, a Serasa preparou um curso gratuito e completo para pessoas organizarem as finanças.

Defina metas financeiras

Depois de conhecer suas dívidas, hábitos de consumo e renda, você pode definir algumas metas financeiras. Pense no que você mais gostaria de realizar financeiramente. O que ajudaria a aliviar o estresse do dinheiro? Por exemplo, seu objetivo pode ser construir um fundo de emergência ou pagar dívidas que têm juros altos. Ou economizar seu dinheiro e dormir à noite, pois se algo acontecer, agora você tem algo para cobrir.

Especialistas em finanças recomendam economizar 10% da renda para aposentadoria ou emergências, mas reconhecem que esse número pode ser demais para alguns. Nesse caso, cada um deve estabelecer a própria meta de poupança com base em receitas e despesas e decidir como chegar lá. Criar um plano para atingir metas financeiras pode ajudar a começar a recuperar um pouco do controle e a progredir.

Farnoosh recomenda compartilhar suas metas de economia com pessoas que pensam como você para ajudar a criar responsabilidade e suporte. Ela diz que, quando compartilhamos metas com outras pessoas, não apenas temos mais probabilidade de alcançá-las, mas podemos até superá-las.

Explore outras fontes de renda

Se você não está arrecadando o suficiente para cobrir despesas ou pagar dívidas, considere procurar maneiras de ganhar dinheiro extra. Aqui estão algumas ideias:

  • Experimente trabalhos freelance, pagos de acordo com atribuições e tarefas de curto prazo ou um temporário como uma segunda fonte de renda;
  • Venda itens não utilizados ou indesejados online;
  • Realize serviços pagos para amigos e vizinhos.

Economias automatizadas

Outra dica de especialistas financeiros: uma das melhores maneiras de garantir que você está economizando dinheiro é automatizá-lo. Você pode fazer isso definindo uma contribuição regular para uma conta à parte ou definindo um valor para transferir automaticamente de sua conta corrente para sua conta poupança a cada semana ou mês. Alguns aplicativos fazem isso com base na situação financeira. Se não conseguir economizar muito durante o ano, ainda poderá usar o 13°, ou o reembolso do imposto de renda, por exemplo, em uma conta poupança em vez de gastá-los.

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