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Entenda o caminho da dupla maternidade

É importante alinhar expectativas, tanto em relação ao tempo de tratamento, quanto ao resultado - iStock
É importante alinhar expectativas, tanto em relação ao tempo de tratamento, quanto ao resultado - iStock

Patrícia Carvalho* Publicado em 28/07/2022, às 10h00

A cada dia que passa vejo mais casais de mulheres desejando ter uma família com filhos. E isso é bom demais. Sinal de que mais informação tem sido difundida e que mais exemplos de dupla maternidade têm nos inspirado. Mas na prática, sabemos como esse processo pode acontecer?

Este texto vem para mostrar o passo a passo para conquistar seu beta positivo!

O primeiro passo é: uma conversa franca entre as duas futuras mães. O que esperam dessa gestação? Como enxergam a dupla maternidade? Quem gostaria de gestar? Como se sente a futura mãe não gestante?

Normalizar esse assunto entre o casal é se abastecer de verdades para lidar com a vida fora do padrão heteronormativo no qual fomos todos criados.

Estabelecido o desejo, é hora de procurar uma clínica de reprodução assistida, de preferência que tenha experiência com casais homoafetivos. Nesse momento, serão solicitados os primeiros exames para avaliar as condições de saúde das duas mulheres. Isso porque, ainda que só uma vá gestar fisicamente esse bebê, existe a possibilidade de uma gestação compartilhada ou método ROPA (Reception of Oocytes from Partner), ou seja, uma parceira receber e gestar com óvulo da outra. Após o resultado desses exames é então definido quem de fato vai gestar, se vai ser feita a gestação compartilhada (por desejo ou necessidade) e quais serão os próximos passos.

Dos métodos de concepção assistida mais conhecidos temos: a fertilização em vitro (FIV) e a inseminação artificial. A principal diferença entre eles é que na FIV o espermatozoide é colocado direto em contato com o óvulo (ou até inserido dentro dele) para que a fecundação ocorra fora do corpo da mulher. O embrião fruto desse processo é então, num dado momento, colocado dentro do útero da mulher. A taxa de sucesso (bebê nascido vivo após a transferência de um embrião) gira em torno de 60%.

Já na inseminação artificial, o sêmen (material contendo milhões de espermatozóides) é colocado dentro do útero no período fértil da mulher e então espera-se que ele encontre o óvulo e o fecunde. A taxa de sucesso gira em torno de 20% para cada tentativa. Ambos os procedimentos necessitam de menor ou maior estímulo para produção de óvulos. Processo que leva de 10 a 15 dias e envolve a administração de hormônios para estimulação dos ovários. 

Algumas mulheres optam pela inseminação por ser um procedimento mais simples, com estímulo ovariano mais leve. Outras já preferem a FIV pois, além da taxa de sucesso ser maior, ainda há a possibilidade, para aquelas que têm uma boa reserva ovariana (o que também é possível descobrir através dos exames solicitados no início do processo), a doação de óvulos para mulheres que precisam. O que além de ser um ato de generosidade admirável, pode ajudar nos custos com o processo.

Por falar em custos, eles não costumam ser baixos. E por isso vemos ainda muitas mulheres optando pela inseminação caseira como forma possível para conseguir a sua gestação. Sabemos que se trata da realidade de parte dos casais de mulheres. E seria muito interessante que quem vá passar por esse procedimento tenha o acompanhamento de uma ginecologista para solicitar os exames iniciais e sorologias para segurança do processo.

E por fim, para os processos de reprodução assistida, como se faz com o doador de sêmen? É possível conseguir através de bancos especializados. Há bancos nacionais, que fornecem informações limitadas, mas as necessárias, para toda a segurança e eficácia do processo. Há bancos internacionais, que detém uma gama enorme de informações sobre o doador, desde características físicas, hobbies e histórico de saúde familiar. Há, claro, uma diferença importante de valor entre eles. Mas como benefício adicional, o banco internacional fornece a opção da criança poder localizar o doador no futuro, se for seu desejo. Para algumas famílias, essa possibilidade faz sentido.

É importante alinhar expectativas para esse processo. Tanto em relação ao tempo de tratamento, quanto ao resultado. Vejo com frequência mulheres que se frustram logo na primeira tentativa, uma vez que por serem saudáveis, imaginavam que teriam mais chances de conseguir logo de cara a gestação. Mas a realidade é que essa taxa de sucesso conhecida já considera mulheres saudáveis. O processo não é perfeito, envolve fatores os quais ainda não temos completo controle. Ele pode ser demorado e bem extenuante, mas se for parte do seu desejo, vale muito a pena.

*Patrícia Carvalho é ginecologista