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A jornada da tentante: conheça o caminho até a reprodução assistida

Ao buscar um especialista em reprodução assistida, o casal passa por exames mais específicos - iStock
Ao buscar um especialista em reprodução assistida, o casal passa por exames mais específicos - iStock

“Tentante” se transformou em um termo muito popular entre os casais que estão querendo engravidar. Para além da semântica, ser tentante significa estar completamente dedicada ao processo de engravidar e construir uma família. Não é uma jornada fácil. O que parece simples, bastaria “não se preocupar que engravida” ou “parar a pílula que já dá certo”, muitas vezes acaba por transformar-se em um processo demorado, com grandes decepções psicológicas, desgaste do relacionamento e gastos financeiros imprevisíveis. No entanto, o objetivo é muito nobre. Trazer uma nova vida ao mundo e construir uma família são desejos bastante dignos e vale o esforço para se chegar até lá.

A jornada da tentante começa logo que se casa ou quando se está em um relacionamento estável. Sempre alguém da família pergunta: “e quando vocês vão ter um filho?”, “quero um neto”, “não vá ser mãe velha” e outras situações mais ou menos constrangedoras. Nesse momento, provavelmente, a tentante já não está mais usando qualquer método contraceptivo e vem tentando engravidar há poucos meses. Raramente procura um médico nesta etapa da jornada, afinal, “engravidar é fácil. É só relaxar e tentar”.

Quando a gravidez não vem

Alguns meses (ou anos...) se passam e a gravidez não veio. Nesse momento a tentante decide procurar um médico ginecologista. Seu marido ou companheiro raramente pensa que o problema pode ser com ele e não vai atrás de um urologista. Nossa sociedade ainda é muito machista e gravidez é “problema da mulher”.

Após algumas consultas e retornos ao ginecologista, a tentante faz alguns exames gerais, começa a tomar ácido fólico para prevenir malformações no bebê e continua tentando... mas a gravidez insiste em não vir.

É hora de novo retorno ao ginecologista e decide-se por usar medicamentos para induzir a ovulação. O patamar sobe e agora a tentante está oficialmente em um tratamento para engravidar. O casal é chamado de “infértil”, um termo que traz muita tristeza, desapontamento e decepção, mas nunca deixa de acreditar.

Após duas ou três tentativas com os medicamentos para induzir a ovulação, algumas tentantes finalmente conseguem seu objetivo: estão grávidas! Porém, essa não é a realidade da maioria.     

Tratamentos: por onde começar

O ginecologista avalia novamente os exames e os resultados dos tratamentos até aqui e decide que não é possível mais continuar nos tratamentos mais simples, que chamamos de “baixa complexidade”. Então encaminha a tentante para procurar um especialista em Reprodução Humana. Mais um patamar é subido. A tentante agora muito provavelmente tem algo mais complicado de se resolver e vai precisar de ajuda do especialista. Pode não parecer, mas muito tempo se passou e a tentante já está há mais de 3 anos “tentando”. Chega ao especialista em reprodução humana muito desgastada, mas também com muita esperança.

Novas rodadas de exames são feitos, dessa vez o casal é investigado mais a fundo. Alguns exames são bem caros, não tem cobertura pelos planos de saúde e poucos médicos ou laboratórios são aptos para a sua realização. Os resultados não demoram e aquilo que se previa acaba por confirmar-se: será preciso uma fertilização in vitro. A tentante deverá fazer um tratamento de alta complexidade. Aqui as intervenções médicas já são maiores, com hormônios injetáveis, acompanhamentos com ultrassom, pequenas cirurgias e muita ansiedade.

Acolhimento é fundamental

A tentante, nesse momento, precisa de muita coisa, mais principalmente de acolhimento. Precisa de um ombro amigo, um parceiro de tratamento que seja compreensível e solidário nesta jornada. A clínica e o médico especialista em reprodução assistida também precisam estar juntos ao casal. Acolher e cuidar são quase mantras hoje em dia e realmente fazem toda diferença.

Nem sempre o tratamento de fertilização in vitro tem sucesso na primeira tentativa e muita coisa pode ser necessária: acupuntura, acompanhamento com psicólogos, nutricionistas, meditação, atividade física... enfim, aquele quartinho no apartamento que foi reservado para o bebê parece que nunca estará cheio de vida, com o chorinho que queremos tanto ouvir.

Saiba, tentante, que o momento mais perto do resultado é quanto mais longe você caminhou nessa jornada. Sua hora também vai chegar e de tentante você pode se transformar em “conquistante”. Como vimos, a jornada pode ser bem longa e cheia de percalços. Mas, como eu já dito, o resultado final é tão nobre que o esforço terá valido a pena. E muito.

Dr. Fernando Prado

Dr. Fernando Prado

Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, é membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo