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Mulheres podem se autossexualizar se o parceiro for atraente ou rico

Essas descobertas sugerem que as mulheres podem ponderar tanto as preocupações com a segurança quanto os potenciais benefícios sobre como se apresentar - iStock
Essas descobertas sugerem que as mulheres podem ponderar tanto as preocupações com a segurança quanto os potenciais benefícios sobre como se apresentar - iStock

Redação Publicado em 03/09/2025, às 10h00

Dois estudos realizados na China sugerem que um olhar sexualmente objetificante de um parceiro aumenta a ansiedade relacionada à segurança nas mulheres, independentemente da atratividade ou do status socioeconômico do parceiro. No entanto, essa ansiedade elevada não reduziu a tendência das mulheres à autossexualização quando o parceiro era descrito como atraente ou de alto status socioeconômico. Os resultados foram publicados no Asian Journal of Social Psychology.

Autossexualização refere-se ao ato de se apresentar de maneira sexualmente sugestiva. As mulheres podem se envolver nesse comportamento para obter atenção, aprovação ou vantagens sociais e econômicas. Exemplos de autossexualização incluem usar roupas reveladoras, adotar poses provocativas ou enfatizar a atratividade sexual em imagens de mídias sociais. Enquanto algumas pessoas veem a autossexualização como uma forma de empoderamento e expressão pessoal, outras argumentam que ela pode reforçar a objetificação sexual e estereótipos de gênero prejudiciais.

Pesquisas psicológicas indicam que a autossexualização frequente tende a estar associada a um aumento da auto-objetificação — em que os indivíduos passam a se ver principalmente de uma perspectiva externa ou avaliativa. Essa mentalidade tem sido associada a resultados negativos, como insatisfação corporal, ansiedade relacionada à aparência e desempenho cognitivo prejudicado em determinados contextos.

Influências culturais e midiáticas, particularmente a sexualização generalizada de mulheres na publicidade e no entretenimento, podem aumentar a probabilidade de comportamento autossexualizante. Ainda assim, as motivações individuais variam amplamente, desde a confiança e o prazer pessoal até as pressões sociais internalizadas.

Objetificação sexual

Os autores do estudo, Dingcheng Gu e Lijun Zheng, propuseram-se a examinar como a ansiedade de segurança desencadeada pela objetificação sexual poderia influenciar as escolhas de autossexualização das mulheres em um contexto romântico. Especificamente, queriam saber se a presença de comportamento objetificante impediria as mulheres de se autossexualizarem — e se esse efeito dependeria da atratividade percebida ou do status socioeconômico do homem envolvido na objetificação. Para investigar isso, eles conduziram dois experimentos.

No primeiro, 147 mulheres heterossexuais com idades entre 18 e 25 anos foram recrutadas em uma universidade urbana chinesa. As participantes leram um breve cenário que as convidava a imaginar um encontro às cegas com um homem. O cenário variou em duas dimensões: o homem foi descrito como tendo alto status socioeconômico (por exemplo, alto nível de escolaridade e boa renda) ou baixo status socioeconômico. Além disso, o cenário incluía ou omitia um olhar sexualmente objetificante. Na condição objetificante, as participantes foram informadas: "Enquanto conversam, você percebe que ele parece distraído e sente que ele está observando seu corpo, com o olhar vagando por você."

Após a leitura do cenário, as participantes foram solicitadas a escolher entre dois vestidos que variavam em termos de grau de revelação. Isso serviu como uma medida comportamental de autossexualização, com a seleção do vestido mais revelador interpretada como um grau mais alto de autossexualização. As participantes também preencheram um questionário avaliando seu nível de ansiedade de segurança — ou seja, o quanto se sentiriam preocupadas com sua segurança pessoal na situação imaginada.

Atratividade

O segundo experimento seguiu um delineamento semelhante com um novo grupo de 181 mulheres heterossexuais na mesma faixa etária, recrutadas na mesma universidade. Desta vez, o cenário manipulou a atratividade do homem em vez de seu status socioeconômico.

Em ambos os estudos, imaginar um olhar sexualmente objetificante do homem aumentou de forma confiável a ansiedade de segurança relatada pelas participantes. Esse efeito ocorreu independentemente de o homem ser descrito como atraente ou não, ou de ter status socioeconômico alto ou baixo.

No entanto, a ansiedade por segurança só se traduziu em uma redução na autossexualização quando o homem foi descrito como pouco atraente ou de baixo status socioeconômico. Nessas condições, as mulheres eram mais propensas a escolher roupas menos reveladoras. Em contraste, quando o homem era descrito como atraente ou de alto status, os níveis de autossexualização das mulheres permaneceram elevados — mesmo que elas ainda relatassem sentir ansiedade quanto à sua segurança.

Benefícios ao tomar decisões

De acordo com os autores, essas descobertas sugerem que as mulheres podem ponderar tanto as preocupações com a segurança quanto os potenciais benefícios ao tomar decisões sobre como se apresentar em contextos moldados pela objetificação sexual. Como eles escrevem, "nossas participantes do sexo feminino tenderam a levar em consideração tanto a segurança quanto os recursos ao tomar decisões sobre sua atratividade sexual sob a cultura da objetificação sexual". 

O estudo se soma ao crescente corpo de pesquisas que examinam como as mulheres lidam com a objetificação em contextos sociais e românticos, particularmente ao ponderar incentivos concorrentes, como a prevenção de riscos e o potencial ganho social ou econômico.

Limitações dos estudos

No entanto, os pesquisadores reconhecem diversas limitações. O estudo se baseou em cenários imaginados e medidas de autorrelato, que podem não refletir totalmente o comportamento no mundo real. As participantes podem ter respondido de forma diferente em situações sociais reais. Além disso, como a amostra era composta inteiramente por jovens mulheres chinesas, os resultados podem não ser generalizáveis ​​para outras faixas etárias, culturas ou contextos sociais.

Fonte: PsyPost