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Uso de mídia social aumenta risco de transtornos alimentares

Pesquisadores concluíram que a conexão entre mídias sociais e transtornos alimentares é alarmante - iStock
Pesquisadores concluíram que a conexão entre mídias sociais e transtornos alimentares é alarmante - iStock

Pesquisas recentes revelam que 91% dos adolescentes do Reino Unido e dos EUA usam mídias sociais e mais de 50% verificam suas contas pelo menos uma vez por hora, comportamentos que não devem ser muito diferentes no Brasil.

Diante deste cenário, pesquisadores decidiram avaliar a influência desse uso de mídias sociais nas preocupações que os jovens têm com a própria imagem corporal, comportamento alimentar desordenado e, como consequência, transtornos alimentares.

Uma equipe do Instituto para Saúde Global, da Universidade College London, compilou e analisou dados de 50 estudos realizados em 17 países, envolvendo jovens de 10 a 24 anos de idade.

Doença pode ser fatal

Transtornos alimentares podem, muitas vezes, ser doenças fatais. Com uma porcentagem tão esmagadora de adolescentes jovens que interagem com mídias sociais, os riscos podem ter consequências para toda uma geração, caso sejam ignorados.

Compreender os fatores que contribuem para a patologia permite que pesquisadores, pais, educadores, formuladores de políticas públicas e profissionais de saúde possam agir de forma proativa e preventiva. Isso é fundamental, porque as pessoas afetadas demoram para buscar ajuda, segundo outros estudos

O relatório, publicado na revista PLOS Global Public Health, conclui que sim, o uso de mídias sociais leva jovens a terem preocupações excessivas com a imagem corporal, transtornos alimentares e outros problemas de saúde mental.

Os pesquisadores verificaram que exposições frequentes a certas tendências de mídia social, como conteúdos que estimulam transtornos alimentares, ou que são focados em atividades relacionadas a aparência física, fortalecem a relação com essas doenças de forma alarmante.

Usuários com IMC (Índice de Massa Corporal) mais alto, do sexo feminino e com preocupações pré-existentes com a imagem corporal também aumentaram a relação com a patologia.

Por outro lado, altos níveis de educação digital, ou seja, o entendimento de como funcionam as mídias sociais e de seus riscos, além da apreciação do próprio corpo, foram considerados fatores de proteção. Essas informações são valiosas para se pensar em mecanismos de defesa contra essa influência perigosa.

Confira: 

O que mostram os estudos

  • Três estudos indicaram que as plataformas mais focadas em aparência, como Instagram e Snapchat, estão significativamente associadas a preocupações com a imagem corporal, transtornos alimentares, ansiedade e sintomas depressivos.
  • As conexões entre o uso de mídias sociais e a insatisfação com a autoimagem corporal, o que inclui vergonha do próprio corpo, baixa autoestima e ansiedade relacionada ao corpo, foram demonstradas em 33 estudos. Cinco deles sugeriram que a insatisfação com a imagem corporal precedeu algum tipo de transtorno alimentar subsequente.
  • Atividades relacionadas à aparência, como enviar "selfies", manipular e editar fotos para depois publicar foram associadas de forma consistente à insatisfação com a imagem corporal e ao risco de transtorno alimentar em 17 estudos.
  • Associações significativas entre o uso de mídia social e comportamentos alimentares desordenados, como compulsão alimentar, purgação, uso de laxantes e adoção de dieta radical, foram observadas em 11 estudos.
  • Sete estudos investigaram a relação entre o tempo gasto em mídias sociais e a autoimagem corporal ou ocorrência de transtornos alimentares, e corroboraram a relação entre frequência mais alta e maior risco.

Hashtags de risco

Oito estudos investigaram o impacto de uma tendência específica, chamada #fitspiration, com resultados mistos: 50% apoiaram a relação com a patologia, 25% apoiaram parcialmente e 25% refutaram a relação.

A pesquisa descobriu que, enquanto para alguns o #fitspiration inspirou uma alimentação mais saudável e a prática de exercícios, outros se sentiram pressionados a se exercitar excessivamente, o que acabou gerando, também, compulsão alimentar e transtornos alimentares. Um estudo que usou diferentes métodos, no Instagram, concluiu que 17,7% dos seguidores apresentaram risco de desenvolver um transtorno alimentar.

Três estudos exploraram outra tendência ainda mais cruel, o #thinspiration, sendo que um deles concluiu que a hashtag promoveu a fome como uma escolha de estilo de vida, em vez de um sintoma de doença mental. As postagens forneciam orientação para comportamentos pouco saudáveis, associados a transtornos alimentares, e até dicas sobre como escondê-los de outras pessoas! Um estudo transversal descobriu que 96% dos participantes incluídos seguiram o ideal de magreza nas mídias sociais, dos quais 86% preencheram os critérios para um transtorno alimentar clínico ou subclínico.

Por fim, os pesquisadores também identificaram vários fatores adicionais em torno do problema, como o fato de que os pais de hoje em dia cresceram em ambientes de mídia regulamentados. Assim, eles podem presumir que as mídias sociais atual seguem diretrizes semelhantes, o que não é verdade.

Se você não tem filhos, mas percebe uma pressão para ser "fit" ao utilizar as mídias sociais, que tal controlar melhor o tempo de uso e questionar mais aquilo que você encontra na internet? Sua saúde mental é mais importante do que ter um corpo perfeito, ou seguir uma dieta "limpa". 

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin