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Riscos do uso de maconha são maiores para os jovens

Especialistas acreditam que o cérebro dos jovens os torna mais vulneráveis ao transtorno por uso de maconha - iStock
Especialistas acreditam que o cérebro dos jovens os torna mais vulneráveis ao transtorno por uso de maconha - iStock

Todo mundo sabe que o uso de maconha deve ser evitado pelos adolescentes. É por isso que, mesmo em partes do mundo em que o uso recreativo da droga é legalizado, ele permanece contraindicado para jovens.

Vários estudos revelam maiores impactos negativos no uso da maconha para os jovens, e existem várias hipóteses para explicar essa vulnerabilidade, como o fato de que o cérebro dos adolescentes ainda está em desenvolvimento.

No entanto, alguns especialistas ponderam que o risco maior se deve ao fato de que os adolescentes, em geral, utilizam a droga com mais frequência ou com maiores concentrações de princípios ativos.

No entanto, pesquisadores da Universidade de Bath, Kings College London e University College London, no Reino Unido, concluíram que quantidade e potência mais alta não explicam a vulnerabilidade mais alta dos jovens ao transtorno por uso da substância.

"Nossa análise mostra que os adolescentes pontuaram consistentemente mais alto em uma medida de sintomas de transtorno de uso de cannabis ao longo de um período de 12 meses, em comparação com adultos", afirmou a principal autora, Rachel Lees.

Os resultados foram publicados no periódico European Archives of Psychiatry and Clinical Neuroscience.

O que é o transtorno por uso de maconha? 

A maioria das pessoas que usam maconha não experimentará danos sérios a longo prazo. No entanto, cerca de um quarto dos usuários desenvolverá um transtorno por uso de maconha, sendo os adolescentes os mais vulneráveis.

Os sintomas do transtorno por uso de maconha incluem:

  • Tentativas malsucedidas de reduzir ou parar de usar.
  • O uso da substância interfere nas obrigações diárias.
  • Piora da saúde mental ou física.
  • Usar a substância em situações fisicamente perigosas.
  • Experimentar desejo, tolerância e sintomas de abstinência.

"Já sabíamos, a partir de pesquisas anteriores, que pessoas com até 25 anos têm taxas mais altas de transtorno de uso de cannabis do que os adultos, mas até agora não sabíamos se isso era porque os jovens estavam simplesmente usando mais ou usavam uma maconha mais forte do que os adultos. Agora sabemos que não é o caso", disse Lees.

Adultos e adolescentes usuários

O estudo avaliou 70 adultos (com idades entre 26 e 29 anos) e 76 adolescentes (com idades entre 16 e 17 anos). Todos usavam maconha frequentemente e foram avaliados a cada três meses ao longo de um ano.

No início do estudo, os dois grupos usavam maconha no mesmo número de dias por semana. Os pesquisadores acompanharam detalhadamente os tipos da substância usados pelos participantes, para avaliar a força da droga (com base em seu teor de THC, o principal componente psicoativo na planta).

Os participantes também foram avaliados quanto aos seus sintomas de transtorno de uso de maconha. Ao longo dos 12 meses do estudo, os adolescentes pontuaram consistentemente mais alto do que os adultos, indicando que enfrentavam mais dificuldades com a cannabis. E esse efeito não foi associado ao uso mais frequente ou de teores mais altos de THC.

Mais problemas com o uso

Os pesquisadores descobriram que 70% dos adolescentes relataram não ter cumprido o que era esperado deles por causa do uso da substância, enquanto apenas 20% dos adultos relataram terem experimentado o mesmo.

Além disso, 80% dos adolescentes relataram dedicar muito tempo para obter, usar ou se recuperar do uso de maconha, em comparação com 50% dos adultos.

Especialistas especulam que o cérebro dos adolescentes apresenta maior neuroplasticidade, ou seja, uma capacidade maior de se moldar a novas situações, o que poderia torná-los mais suscetíveis aos efeitos das substâncias psicoativas e a sintomas de dependência

É preciso conhecer os riscos

A equipe espera que essas descobertas aumentem a consciência entre os jovens sobre os riscos potenciais do uso da maconha, incentivando-os a considerar maneiras de mitigar esses riscos, como parar ou reduzir o uso.

Os pesquisadores também acreditam que é necessário gerar diretrizes para o uso mais seguro da maconha com base nos níveis de consumo, da mesma forma que existem diretrizes para reduzir os riscos do uso de álcool.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin