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Entenda como o racismo afeta a saúde física e mental

A discriminação cotidiana afeta as respostas do organismo ao estresse, levando à inflamação - iStock
A discriminação cotidiana afeta as respostas do organismo ao estresse, levando à inflamação - iStock

Cada vez mais estudos evidenciam que o racismo é um problema grave de saúde pública, uma vez que enfrentar a discriminação é algo que torna as pessoas mais vulneráveis a diversas doenças. 

Pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles, que têm estudado os impactos do racismo estrutural na saúde da população norte-americana há muitos anos, explicam que a discriminação cotidiana afeta as respostas do organismo ao estresse, que por sua vez levam a um estado de inflamação sistêmica e consequências adversas à saúde como um todo.

Como o racismo afeta a saúde

Eles também relatam que essas experiências afetam a conectividade nas regiões frontais do cérebro, responsáveis por funções como raciocínio, atenção e memória. E até mesmo o sistema gastrointestinal é afetado, uma vez que a inflamação passa a atuar na comunicação entre o cérebro e o intestino, levando a modificações na microbiota que deixam o organismo mais propenso a certas condições de saúde. 

Um estudo recente feito nos EUA, por exemplo, mostrou que mulheres pretas com 20 anos ou mais têm um risco 26% maior de sofrer com doença coronariana, em comparação com mulheres brancas, e também morrem mais em consequência disso.

De acordo com a American Heart Association (Associação Norte-Americana para o estudo do Coração), ser vítima de racismo aumenta a pressão arterial, o nível de inflamação e o risco de doenças como obesidade e diabetes. Todas essas condições, juntas, são uma forte ameaça ao coração.

Além disso, a discriminação tem um efeito indireto também, ao reduzir o acesso a serviços de saúde e programas de prevenção e tratamento.

Algumas doenças associadas à discriminação 

Uma revisão de pesquisas publicada em 2019 encontrou associações positivas entre relatos de discriminação racial e muitas condições de saúde física e mental, como as que você vê abaixo:

  • doença cardiovascular
  • calcificação da artéria coronária
  • transtornos de saúde mental (por exemplo, depressão, transtornos de ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, transtornos alimentares e psicose)
  • obesidade
  • hipertensão (pressão alta)
  • uso e abuso de álcool
  • envolver-se em comportamentos de alto risco
  • sono pior
  • inflamação
  • desregulação do cortisol (um hormônio que regula os níveis de estresse no corpo)

Impacto é percebido cedo

Um estudo qualitativo publicado na JAMA Network Open, em 2020, dá uma ideia do quanto o problema é percebido desde cedo, e cria feridas de difícil cicatrização. Ao ouvir grupos de adolescentes falarem sobre o tema, pesquisadores perceberam os sentimentos de desamparo dos entrevistados quando expostos ao racismo proveniente da internet.

As consequências de todo esse processo a gente vê nas estatísticas sobre transtornos mentais e suicídio entre jovens. Segundo cartilha publicada no ano passado pelo Ministério da Saúde, no Brasil, a cada 10 adolescentes que tiram a própria vida, seis são negros. Em 2016, adolescentes negros de 10 a 19 anos apresentaram um risco 67% maior de suicídio em relação a brancos da mesma faixa etária.

Nos EUA, segundo dados publicados no periódico Pediatrics, as taxas de suicídio vêm crescendo entre meninos negros de 5 a 12 anos – o risco, nessa faixa etária, é o dobro daquele observado em brancos. 

Como se proteger do racismo?

De acordo com a American Psychological Association (APA), falar sobre as experiências pode ajudar uma pessoa a processar sentimentos de angústia após uma situação traumática ligada ao racismo.

Da mesma forma, sentimentos de pertencimento e coesão social podem agir como um colchão contra emoções negativas, por isso se envolver em grupos de ajuda mútua ou ativismo pode ser um fator de proteção.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin