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Saúde LGBTQIA+: entenda os impactos do consumo excessivo de álcool

O médico Vinícius Lacerda conversa com Jairo Bouer sobre os riscos do uso abusivo de álcool - Reprodução/YouTube
O médico Vinícius Lacerda conversa com Jairo Bouer sobre os riscos do uso abusivo de álcool - Reprodução/YouTube

Álcool, idade e gênero são o tema de uma série de entrevistas esta semana para o Dose de Responsabilidade. E um dos convidados para discutir o tema é o cirurgião do aparelho digestivo Vinícius Lacerda, médico especialista em saúde LGBTQIA+. Essa população pode ser mais vulnerável aos transtornos por uso de substâncias, o que tem muito a ver com o estresse gerado pelo preconceito da sociedade.

Vinícius esclarece que o conceito de “estresse de minorias” não se aplica apenas à população LGBTQIA+, mas também a envolve. Ele explica que pessoas que enfrentam preconceito, estigmatização e exclusão social têm uma tendência maior a sofrer de depressão e ansiedade, e o abuso de álcool e outras drogas é uma tentativa de obter alívio para frustrações e sofrimento:

“Alguns estudos trazem resultados divergentes, mas a maioria sugere que há um risco maior de consumo de álcool entre gays, lésbicas, bissexuais e transgênero”, diz.

Álcool e gerenciamento de risco

O psiquiatra Jairo Bouer ressalta que o abuso de álcool pode levar as pessoas, em geral, a se descuidarem mais no sexo, como, por exemplo, esquecerem de usar camisinha, ou terem uma menor adesão ao tratamento preventivo do HIV. E isso aumenta o risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como ilustra Vinícius:

O álcool é uma droga que, quando você começa a ingerir, você fica mais desinibido, e isso faz com que você tenha maior libido, e com que pessoas mais tímidas tenham mais coragem de abordar um parceiro. E usar o álcool no contexto do sexo pode fazer com que a pessoa tenha práticas que ela talvez não tivesse, como o sexo desprotegido, ou ter mais parceiros. E pode influenciar na tomada de medicamentos preventivos, como, por exemplo, a profilaxia pré-exposição ao HIV ou pós-exposição.”

“Uma coisa muito comum, também, é que a pessoa às vezes acorda, e não sabe o que aconteceu devido ao álcool”, acrescenta o médico, lembrando que a bebida causa amnésia em doses mais elevadas. É muito importante que, em casos desse tipo, a pessoa busque a profilaxia pós-exposição em até 72 horas.

Entre pessoas que vivem com o HIV, o consumo abusivo frequente de álcool ainda pode fazer com que elas tenham menor adesão ao tratamento antirretroviral, o faltem às consultas e não façam os exames. Ou seja: o impacto do álcool na prevenção de ISTs pode ocorrer tanto pelo consumo excessivo agudo e crônico.

Álcool e performance sexual

Jairo Bouer comenta que existe, no geral, uma tentativa de muita gente a reduzir a ansiedade e tentar melhorar a performance no sexo com o uso do álcool. Ele pergunta se na população LGBTQIA+ esse aspecto também é comum, e o cirurgião responde que sim. Muitas vezes, por causa do preconceito, é comum que gays, por exemplo, tentem ser o melhor aluno, ou, para serem aceitos num grupo, ou em festas, acabem fazendo uso de álcool e outras substâncias.

Com relação à performance sexual, Vinícius relata que também é comum o uso do álcool para conseguir ter uma relação anal passiva: “Pessoas que têm dificuldade em relaxar o ânus muitas vezes tomam drinques ou usam outras drogas para poder conseguir relaxar”, conta.

O problema, segundo ele, é quando se começa a abusar do álcool para conseguir isso, e o efeito é justamente o oposto: “O álcool pode ter diversos efeitos, como, por exemplo, disfunção erétil ou retardo na ejaculação”. Sem contar todos os efeitos do excesso de bebida alcoólica no sistema gastrointestinal, nos nossos hormônios, e até nos tratamentos hormonais da população transgênero. 

Para saber mais sobre álcool, saúde e comportamento, confira o site DrinqIQ.

Confira a entrevista completa: 

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin