
Redação Publicado em 16/12/2025, às 10h00
Um composto químico natural presente no chocolate amargo pode desempenhar um papel na desaceleração de certos sinais do envelhecimento biológico.
Pesquisadores do King’s College London, no Reino Unido, identificaram a teobromina, um composto vegetal encontrado no cacau, como um possível contribuinte para esse efeito.
O estudo, publicado recentemente no periódico Aging, analisou a quantidade de teobromina no sangue dos participantes e comparou esses níveis com marcadores de envelhecimento biológico medidos em amostras de sangue.
A idade biológica reflete o quão bem o corpo de uma pessoa está funcionando, em vez do número de anos que ela viveu. Essa medida se baseia na metilação do DNA, um conjunto de pequenas marcas químicas no DNA que se alteram à medida que envelhecemos.
A equipe de pesquisa examinou dados de dois grupos europeus, incluindo 509 pessoas de um estudo chamado TwinsUK, com gêmeos, e outros 1.160 de um estudo chamado KORA.
As análises mostraram que indivíduos com maiores quantidades de teobromina na corrente sanguínea tendiam a apresentar uma idade biológica que parecia mais jovem do que sua idade cronológica.
A professora Jordana Bell, autora sênior e professora de epigenômica no King’s College London, afirmou:
“Nosso estudo encontra associações entre um componente-chave do chocolate amargo e a manutenção da juventude por mais tempo. Embora não estejamos dizendo que as pessoas devam comer mais chocolate amargo, essa pesquisa pode nos ajudar a entender como alimentos do dia a dia podem conter pistas para vidas mais longas e saudáveis.”
A equipe também investigou se outros metabólitos do cacau ou do café apresentavam padrões semelhantes. Os resultados sugeriram que a teobromina foi o único composto com essa associação específica.
Para estimar a idade biológica, os pesquisadores utilizaram duas abordagens. Um método examinou alterações no DNA que refletem o ritmo do envelhecimento. O segundo mediu o comprimento dos telômeros, que são estruturas protetoras nas extremidades dos cromossomos. Os telômeros encurtam naturalmente com a idade e estão ligados a riscos de saúde relacionados ao envelhecimento.
Muitos compostos vegetais presentes nos alimentos podem influenciar a forma como os genes funcionam, ligando-os ou desligando-os. Esses compostos, conhecidos como alcaloides, podem interagir com sistemas celulares que regulam a atividade genética e contribuir para a saúde a longo prazo.
A teobromina é um desses alcaloides. Embora seja amplamente conhecida por ser tóxica para cães, ela tem sido associada a possíveis benefícios em humanos, incluindo a redução do risco de doenças cardíacas. Apesar disso, até agora recebeu relativamente pouca atenção científica.
O médico Ramy Saad, pesquisador principal do King’s College London e também afiliado à University College London fez o seguinte comentário:
“Esta é uma descoberta muito empolgante, e as próximas questões importantes são o que está por trás dessa associação e como podemos explorar melhor as interações entre metabólitos da dieta e o nosso epigenoma. Essa abordagem pode nos levar a descobertas importantes sobre o envelhecimento e além, em doenças comuns e raras.”
A equipe, que inclui a professora Ana Rodriguez-Mateos, do King’s College London, está agora investigando se o efeito da teobromina ocorre de forma isolada ou se ela atua em conjunto com outros componentes bem conhecidos do chocolate amargo, como os polifenóis, reconhecidos por seus efeitos positivos na saúde.
Embora os resultados sejam encorajadores, os pesquisadores alertam que aumentar o consumo de chocolate amargo não é automaticamente benéfico. Essa guloseima também contém açúcar, gordura e outros ingredientes, e mais estudos são necessários para compreender plenamente como a teobromina interage com o organismo e de que forma pode influenciar o envelhecimento.