Doutor Jairo
Testeira
Colunas / José Roberto Miney » Sexo

“Pegging”: quando a mulher é o ‘homem’ na cama

Troca de papéis na cama pode ser excitante para muitas pessoas - iStock
Troca de papéis na cama pode ser excitante para muitas pessoas - iStock

José Roberto Miney Publicado em 05/09/2021, às 17h18

Na consulta, o proctologista diz ao paciente:

– Hummm, estou vendo uma veiazinha saltada aqui na entradinha de seu ânus...

– Entradinha, NÃO!!, doutor. Aqui só tem saidinha!!

É uma anedota, claro, mas ela ilustra muito bem o quanto a região anal é um território proibido e, para a grande maioria dos homens heterossexuais, intocável.

Fio terra, beijo grego, são quase apenas palavras e se referem, no mais das vezes, à prática dos outros. O estímulo anal no parceiro masculino fica reservado à intimidade secreta dos casais e guardado a sete chaves.

No entanto, algo parece estar mudando aqui debaixo da linha do Equador – já que, como diz a música, nestas terras onde canta o sabiá não existe pecado... Hoje já se pode ler na internet matérias sobre o assunto, mesmo no site de Jairo Bouer.

Parece que a porta dos segredos masculinos, lentamente, está se abrindo... (Opa!)

Mas, afinal, o que é pegging?

Pegging é quando a mulher usa um brinquedo sexual – constituído por um pênis artificial atado a cintas que permitem prendê-lo ao corpo (“strap-on”) – e penetra seu parceiro analmente.

Trata-se de uma troca de papéis, nem é preciso dizer. Mas que atração isso exerce sobre as pessoas? Kimberley McBride, PhD e professora associada de Saúde Pública na Universidade de Toledo, conversou com o site Women’s Health a respeito.

Segundo os papéis de gênero tradicionais, a mulher é considerada a parceira receptora, enquanto o homem é o parceiro de inserção. (Como a tradição muda com o tempo, hoje em dia não é difícil ver a mulher ser referida como “portadora de vagina” e o homem, como “portador de pênis”.)

No pegging, mudar o roteiro pode atrair aqueles que acham erótico quebrar as normas sociais, afirma McBride. Mas, quem sabe, talvez essa não seja a única razão...

Uma delas, pode ser a próstata, para muitos, o “ponto G” masculino. Do tamanho de uma noz, situa-se entre a base do pênis e reto do homem. Quando estimulada pela inserção do pênis (natural ou artificial), junto com as terminações nervosas do ânus e do reto, pode levar a uma irrupção de orgasmos. Segundo McBride, eles podem ser percebidos como mais intensos...

Por outro lado, Joe Kort, PhD, terapeuta sexual certificado em Royal Oak, Michigan, consultado pelo site, diz que, para muitas mulheres, a experiência pode ser muito prazerosa, graças a estimulação do clitóris que o brinquedo sexual proporciona durante o ato.

Contudo, não se pode esquecer o grande papel que a mente desempenha durante qualquer prática sexual para atingir o clímax. Assim, no pegging, muitas mulheres podem ficar excitadas com a ideia e o ato de ser dominante, ou em outras palavras, sentir-se alfa diante do homem enquanto o penetra, diz Kort.

“Boiolice”? Discutindo a homohisteria de homens heterossexuais

Um estudo publicado no periódico Sexualities examina a prática e a percepção do erotismo anal receptivo entre 170 homens heterossexuais de graduação em uma universidade dos Estados Unidos. Para tanto, analisa os estigmas sociais sobre o prazer anal desses homens por meio do conceito de homohisteria, que descreve um mito cultural de que a transgressão de gênero lança suspeita homossexual em homens heterossexuais. Para o erotismo anal masculino, isso significa que apenas homens gays ou desviantes de gênero podem desfrutar de prazer anal. 

No entanto, os autores sugerem que a diminuição da homohisteria começou a erodir essa "proibição" cultural da estimulação anal em homens heterossexuais. Os dados se referem a homens heterossexuais em idade universitária, que se identificam questionando narrativas culturais que confundem receptividade anal com homossexualidade. Dos entrevistados, 24% receberam, pelo menos uma vez, prazer anal

Os resultados sugerem que os tabus culturais em torno do prazer anal dos homens podem estar mudando para os mais jovens e as fronteiras da identidade heterossexual podem estar se expandindo. Contudo, afirmam os pesquisadores, são necessárias mais pesquisas para esclarecer como as normas eróticas anais estão mudando entre os homens de diferentes grupos raciais, geográficos, socioeconômicos e demográficos etários, e para determinar como essas mudanças podem promover visões mais pluralistas e inclusivas de gênero e sexualidade.

Confira:

Se tem vontade, por que não?

Cada vez mais se fala no direito ao próprio corpo e aos prazeres que ele pode proporcionar. É um movimento de libertação e de empoderamento de cada um, além e acima das convenções. O importante é entender seu desejo, desde que ele não cause danos nem a si mesm@, nem a terceiros.

Então, se você, seja “portadora de vagina” ou “portador de pênis”, já andou pensando no assunto e achou aquela breve cena de “Deadpool”, em que a parceira pratica pegging com ele, inspiradora, veja estas dicas.

1. Conversar é fundamental

Não dá para imaginar duas pessoas prestes a se envolver em uma atividade sexual que partem vapt-vupt para o pegging. Mesmo em situações de sexo pago é necessário um combinado prévio. Até em encontros resultantes de aplicativos de pegação, esse combinado foi feito com algumas conversas antes, mesmo que on-line.

Já quando se trata de uma relação já existente, o processo precisa de amadurecimento e conversas. Infelizmente, não existe uma receita pronta para isso, já que cada caso é um caso.

Se umas das partes não tiver certeza da reação da outra, uma sugestão é apresentar a ideia de forma hipotética e observar a reação para ver se há interesse. Como sugere McBride, você pode dizer que estava conversando com um@ amig@ a respeito, ou que leu um artigo sobre o assunto.

2. A ideia pode ser rejeitada

E, se for, está tudo bem. Mas isso não significa que a conversa precisa parar por aí. Como sugere Kort pode-se falar sobre diferentes maneiras de simular sexo anal sem penetração, por exemplo.

Mas, acima de tudo, é igualmente importante respeitar os limites sexuais de cada um. Se uma das partes realmente não tiver interesse, não há por que forçar. Contudo, McBride é insistente e diz que sempre há a possibilidade de reintroduzir o assunto em outra ocasião.

3. Mande os estereótipos às favas

Ok, mandar às favas hoje em dia é totalmente “cringe”, mas a ideia é essa. O importante é ter em mente essa máxima: “Sexo anal não é sobre orientação sexual. É sobre prazer sexual.”

Deixe de lado quaisquer noções sobre sua sexualidade ou a da outra parte que possam surgir na cabeça e atrapalhar a diversão de ambos. Se suas preocupações realmente pesam, é o caso, como sempre, de uma conversa aberta e franca a respeito.

4. Devagar, devagar...

Como o tecido do ânus e do reto são mais frágeis, ele pode ser ferido durante a penetração, é importante garantir ambas as partes estão confortáveis (fisicamente ou não). Investir em preliminares é uma ideia. Estimulação oral ou manual, depois penetração com um dedo ou objeto menor (como um pequeno plug anal) para melhor acostumar o parceiro receptor às sensações e ajudá-lo a aprender a relaxar os músculos dessa área.

5. Tá limpo?

Depois de fazer o “número dois”, o número um é a limpeza. Lave a área e arredores com água morna e sabão. Evite produtos adstringentes porque podem ressecar a região, tornando-a mais vulnerável a IST.

O mesmo vale para os brinquedos sexuais que participaram do pegging: água morna e sabão neutro. Uma dica é cobrir o dildo com um preservativo para facilitar a limpeza. Deve-se evitar aqueles feitos de materiais porosos, que podem abrigar bactérias.

6. Lubrificar sempre

O ânus não tem uma lubrificação natural, por isso é preciso lubrificar adequadamente o brinquedo sexual que será inserido. Os mais apropriados são aqueles à base de água.

Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo.

Veja também: