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Você se sente mais jovem do que realmente é?

Sentir-se mais jovem tem sido associado a diversos benefícios, como melhor saúde física e mental - iStock
Sentir-se mais jovem tem sido associado a diversos benefícios, como melhor saúde física e mental - iStock

Você se sente mais jovem do que diz a sua idade? Você não está sozinh@. Pesquisas mostram que a maioria dos adultos de meia-idade e idosos se sente mais jovem do que realmente é, e esse fenômeno tem sido chamado de “viés de idade subjetiva”.

Segundo pesquisadores, esse efeito tem aumentado. Ou seja: indivíduos de gerações mais recentes tendem a apresentar um viés de idade subjetiva maior em comparação com aqueles de coortes anteriores. As descobertas foram publicadas no periódico Psychological Science.

Sentir-se mais jovem tem sido associado a diversos benefícios, como melhor saúde física e mental, maior bem-estar e menor risco de mortalidade. Portanto, essa percepção pode contribuir para um envelhecimento saudável e uma melhor qualidade de vida.

Quantos anos você sente que tem? 

O pesquisador Markus Wettstein, da Universidade Humboldt de Berlim, comenta que a idade subjetiva é um tópico popular nas pesquisas sobre envelhecimento. Mas havia poucos dados sobre tendências históricas, ou seja, até que ponto os avanços da medicina, e o próprio fato de as pessoas viverem mais hoje em dia, podem interferir nesse tipo de percepção.

Para descobrir, Wettstein e sua equipe analisaram uma amostra com 14.929 indivíduos, integrantes de uma pesquisa realizada entre 1996 e 2020 na Alemanha. A idade subjetiva foi avaliada por meio da pergunta "Quantos anos você sente que tem?"

As respostas dos participantes foram padronizadas por idade, a fim de que os pesquisadores obtessem um escore de discrepância proporcional, indicando a diferença entre a idade subjetiva (quanto as pessoas sentiam ter) e a idade cronológica (quanto elas realmente tinham).

Em média, os participantes se sentiam 11,5% mais jovens do que sua idade real. Ao longo do estudo, houve uma redução significativa no escore de discrepância de idade subjetiva: as pessoas se sentiam relativamente menos jovens em cerca de 3% a cada 10 anos.

Essas descobertas sugerem que as pessoas tendem a se sentir mais jovens do que sua idade real, mas essa sensação diminui ao longo da vida. 

As pessoas se sentem ainda mais jovens hoje

Os pesquisadores perceberam que o ano de nascimento teve um efeito significativo na idade subjetiva. Participantes nascidos posteriormente se sentiam 2% mais jovens a cada década de nascimento, e sua idade subjetiva permanecia mais estável ao longo do tempo. Essa tendência foi observada em todos os grupos etários, incluindo idades muito avançadas, o que contrariou as expectativas iniciais.

Em outras palavras, grupos de pessoas nascidas há menos tempo se sentem mais jovens do que há 10 ou 20 anos, mesmo quando os pesquisadores ajustaram fatores como saúde, educação e aspectos psicológicos e sociais.

O estudo tem algumas limitações, como possíveis questões culturais e o fato de incluir pessoas de um único país. Por isso, mais pesquisas desse tipo precisam ser feitas. 

Será que é sempre bom sentir-se mais jovem? 

Também é preciso analisar o que está por trás desse viés, já que, em alguns contextos, sentir-se mais jovem pode parecer imaturo. Além disso, é possível que esse fenômeno tenha a ver com os estereótipos existentes sobre o envelhecimento.

"O chamado efeito de dissociação por grupo etário postula que as pessoas se sentem mais jovens para se distanciar psicologicamente do grupo de idosos. Estereótipos negativos em relação à idade estão associados a riscos à saúde, são prejudiciais de muitas maneiras. Portanto, é uma tarefa importante para a ciência, a sociedade e a mídia corrigir estereótipos de idade excessivamente negativos, exagerados e unilaterais", conclui Wettstein.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin