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Preconceito afeta seriamente a saúde mental de negros trans

Entender e apoiar os jovens que enfrentam diferentes tipos de preconceito faz toda a diferença - iStock
Entender e apoiar os jovens que enfrentam diferentes tipos de preconceito faz toda a diferença - iStock

Mais da metade dos jovens negros transexuais e não binários dizem ter considerado seriamente o suicídio no último ano, e mais de 20% afirmam ter tentado acabar com a própria vida. Estes são os resultados alarmantes de um estudo publicado esta semana nos EUA pelo Projeto Trevor, uma organização de prevenção ao suicídio de jovens LGBTQIA+ naquele país.

Jovens negros LGBTQIA+ experimentam taxas elevadas de discriminação relacionada tanto à  raça e etnia quanto à identidade e orientação sexual, de acordo com o relatório, que analisou respostas de mais de 28 mil adolescentes e jovens adultos LGBTQIA+ que residem nos EUA.

Outros resultados da pesquisa

Mais de dois terços, ou 70%, dos jovens negros cisgêneros lésbicas, gays, bissexuais ou queer relatou ter experimentado pelo menos uma forma de discriminação relacionada à raça, orientação sexual ou identidade ou expressão de gênero no último ano.

Além disso, 83% dos jovens negros transgêneros, não binários ou em questionamento relataram o mesmo.

Mais de 72% dos jovens trans negros pesquisados pelo Projeto Trevor afirmou ter experimentado dois ou mais tipos de discriminação no último ano, assim como 58% dos negros cisgêneros LGBTQIA+.

Aqueles que disseram ter experimentado discriminação relacionada à sua identidade ou expressão de gênero no último ano apresentaram o dobro de probabilidade de relatar uma tentativa de suicídio no último ano, de acordo com o relatório.

A discriminação racial não foi associada de forma independente às tentativas de suicídio, mas os múltiplos tipos de discriminação, estes sim, foram associados a essa tendência, especialmente entre jovens negros trans, não binários e em questionamento.

Diferentes tipos de preconceito

O diretor do Projeto Trevor Derrick Matthews chamou as descobertas do grupo de "preocupantes" e acrescentou que elas destacam a importância de se abordar os desafios de saúde mental e prevenção ao suicídio a partir de uma perspectiva que leve em conta essa intersecção. 

"Ser um jovem LGBTQ+ vem com seu próprio conjunto de desafios sistêmicos, mas não devemos isolar os esforços para enfrentar esses desafios entre os jovens que possuem múltiplas identidades marginalizadas", diz o diretor. "É imperativo incluir a discriminação racial vivenciada por jovens LGBTQ+ negros nesse trabalho também."

Apoio faz toda a diferença

Um resultado encorajador é que mais da metade dos jovens LGBTQIA+ negros que informaram ao Projeto Trevor ter experienciado discriminação com base em sua orientação sexual ou identidade de gênero recebeu apoio de amigos, membros da família, um profissional de saúde mental ou um parceiro romântico.

Sistemas de apoio sólidos e ambientes de afirmação de identidade podem atuar como fatores protetores contra depressão, ansiedade e suicídio entre jovens LGBTQIA+, como mostram pesquisas anteriores.

Aproximadamente metade dos jovens de 13 a 24 anos transexuais e não binários pesquisados pelo Projeto Trevor no ano passado afirmou que sua identidade de gênero era reconhecida na escola, e mais de um terço disse ter esse reconhecimento em casa.

Aqueles que relataram ter acesso a espaços de afirmação – incluindo espaços online – apresentaram taxas mais baixas de tentativa de suicídio do que aqueles que não o fizeram.

No mesmo relatório, mais de 50% dos jovens LGBTQIA+ disse que seria útil para as pessoas do seu convívio saberem mais sobre o racismo, e 45% disseram que gostariam que seus entes queridos aprendessem mais sobre essa intersecção. 

Não deixe de buscar ajuda

Se você não está bem, procure quem possa te ajudar e fale sobre o que você está sentindo.

Existem alguns serviços muito bacanas com os quais você pode contar caso precise de ajuda. Um deles é o CVV (Centro de Valorização à Vida), que você pode acessar ligando no 188 ou pelo site (cvv.org.br).

Inclusive há um chat que pode ser usado para se conectar com alguém. Outro site que oferece esse tipo de serviço é o Mapa da Saúde Mental (mapasaudemental.com.br), com várias opções de ajuda.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin