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Ômega-3 pode favorecer funções cerebrais na meia-idade

Ácidos graxos do tipo ômega-3 são abundantes em peixes como sardinha, salmão, arenque e atum - iStock
Ácidos graxos do tipo ômega-3 são abundantes em peixes como sardinha, salmão, arenque e atum - iStock

Pessoas de meia-idade que têm níveis superiores de ômega-3 no sangue podem ter melhor estrutura cerebral e capacidade cognitiva em relação a quem não consome quantidades suficientes desse tipo de gordura. A afirmação é de autores de um estudo publicado no periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia.

Os cientistas já sabem há algum tempo que os ácidos graxos do tipo ômega-3, abundantes em peixes como sardinha, salmão, arenque e atum, são importantes para o cérebro e podem adiar prejuízos nas funções cognitivas, como memória, raciocínio e aprendizado, durante o envelhecimento.

“A nova contribuição do estudo é que, mesmo em idades mais jovens, se você tem uma dieta que inclui alguns ácidos graxos ômega-3, já está protegendo seu cérebro para a maioria dos indicadores de envelhecimento do cérebro que costumam acontecer mais na meia-idade", afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Diferentes tipos de ômega-3

Existem três tipos de ácidos graxos do tipo ômega-3: o ácido alfa-linolênico (ALA), o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosahexaenoico (DHA). Ainda não existem recomendações oficiais de consumo para o EPA e o DHA, mas para o ALA, elas variam de 1,1 g a 1,6 g ao dia.

Apesar da indicação de que o DHA e o EPA são importantes para proteger a saúde do cérebro, ainda é preciso saber mais sobre seus mecanismos de ação. Segundo a médica, uma das teorias é que esses ácidos têm propriedades anti-inflamatórias.

Mais de 2.100 participantes 

O trabalho, coordenado por uma equipe da Universidade do Texas, nos EUA, contou com 2.183 homens e mulheres com idade média de 46 anos. Foram excluídas pessoas com demência ou histórico de AVC (acidente vascular cerebral).

Os pesquisadores analisaram a composição de ácidos graxos de amostras de sangue dos participantes, avaliações neurológicas e também exames de ressonância magnética, para que fossem observados fatores como o volume de massa branca e cinzenta em regiões do cérebro como o hipocampo, que tem papel importante no aprendizado e memória.

Cerca de 25% dos voluntários tinham níveis baixos de ácidos graxos ômega-3 no sangue, ou inferiores a 4%. Os participantes com níveis altos tinham, em média, 5,2%.

Confira:

Resultados principais

Ao comparar os resultados de ressonância magnética e as avaliações neurológicas, os pesquisadores viram que níveis mais elevados de ômega-3 estavam associados a um volume de hipocampo maior, e a melhores resultados nos testes de raciocínio abstrato. Essas pessoas também tinham maiores volumes de massa cinzenta em geral, melhores resultados de leitura e raciocínio lógico ligeiramente superior.

Já as pessoas com níveis mais baixos de ômega-3 eram mais propensas a não ter diploma universitário, a ter diabetes e serem fumantes.

Os pesquisadores também avaliaram as concentrações dos ácidos graxos em pessoas com a variação genética APOE4, associada a risco mais elevado de doenças cardiovasculares e quadros demenciais, como o alzheimer. Nesses voluntários, os que tinham maiores níveis de ômega-3 tinham menos doenças nos pequenos vasos sanguíneos.

“É encorajador que o DHA e o EPA também protejam a saúde cerebral dos portadores de APOE4, modulando a suscetibilidade genética para diminuir o risco de demência e problemas cardiovasculares”, comenta Marcella.

Os autores do estudo observam que é necessário fazer mais pesquisas. Mas eles acreditam que talvez seja preciso garantir maiores níveis de consumo de gorduras do tipo ômega-3 mais cedo na vida, para que as pessoas tenham benefícios da função cognitiva durante o envelhecimento.

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Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin