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Jovens menos favorecidos são alvo fácil de golpes por e-mail

Jovens com dificuldades de aprendizado em países menos desenvolvidos são mais vulneráveis ao phishing - iStock
Jovens com dificuldades de aprendizado em países menos desenvolvidos são mais vulneráveis ao phishing - iStock

Adolescentes em situação de desvantagem socioeconômica correm maior risco de cair em golpes por e-mail e precisam de proteção. É o que aponta um estudo que contou com mais de 170 mil estudantes de 15 anos de idade.

Um em cada cinco jovens de famílias de baixa renda ou de áreas carentes pode se tornar vítima de phishing, um dos tipos mais comuns de goles na internet, mostra, ainda, essa pesquisa, publicada na revista acadêmica British Journal of Educational Studies.

O trabalho contou com jovens de 38 países, como Reino Unido, EUA, Japão, México e Chile. O Brasil não está incluído. Mesmo assim, fica clara a lacuna que existe entre adolescentes de países mais desenvolvidos ou com menores índices de desenvolvimento.

Os jovens mais vulneráveis, segundo os dados, são aqueles com maiores dificuldades de aprendizado. Mas o estudo destaca um dado preocupante: alunos que recebem informações sobre os perigos de fraudes digitais são tão propensos a responder de maneira inadequada a esses e-mails quanto os alunos que não recebem educação específica sobre o assunto.

É preciso fazer muito mais

O autor do estudo, John Jerrim, professor da University College London, sugere que é preciso incentivar as escolas a fornecerem um ensino mais abrangente e de melhor qualidade sobre como reconhecer golpes online, incluindo e-mails de phishing.

"Grupos socioeconomicamente desfavorecidos estão - pelo menos em alguns países - em maior risco de ataques de phishing do que seus colegas mais favorecidos. (...) Infelizmente, as atuais tentativas das escolas em abordar esse problema não parecem ser particularmente eficazes."

Os resultados reforçam que é preciso fazer mais para ajudar os jovens a navegar num mundo online cada vez mais complexo e perigoso. Isso é ainda mais importante para grupos mais vulneráveis, que estão mais propensos a cair em tentativas de golpe.

Phishing é uma das formas mais comuns de fraude

Mais de 3 bilhões de e-mails de spam são enviados todos os dias, segundo o artigo, e o phishing é uma das formas mais comuns de fraude cibernética. Nesse tipo de golpe, a pessoa é induzida a informar dados pessoais, como CPF ou senhas de banco. 

As pesquisas sobre quem é mais suscetível a esse tipo de crime tendem a se concentrar em pessoas mais velhas, não em jovens em idade escolar. E pouco se sabe sobre a eficácia dos métodos de ensino atual, nas escolas, em relação ao tema, de acordo com o artigo.

Responder ao e-mail ou não?  

Os dados para o estudo foram baseados nos jovens que participaram do Programa de Avaliação Internacional (Pisa) de 2018, uma pesquisa trienal realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O programa avalia o que os estudantes dos países da OCDE sabem sobre leitura, ciências e matemática. Os alunos participantes fazem um teste de habilidade de duas horas e, em seguida, respondem a um questionário.

O Pisa de 2018 perguntou aos alunos como eles responderiam a um cenário fictício em que uma empresa de telefonia móvel os informava por e-mail que eles haviam ganhado um smartphone. O remetente pedia que eles clicassem em um link e preenchessem seus dados para reivindicar o suposto prêmio.

As possíveis respostas incluíam responder ao e-mail para solicitar mais detalhes, verificar o endereço de e-mail do remetente, clicar no link e preencher o formulário o mais rápido possível. O estudo se concentrou nas respostas que citavam a terceira opção e perguntou aos alunos se eles haviam sido ensinados a detectar e-mails de phishing ou spam.

Diferenças marcantes entre os países

Os resultados mostram que os adolescentes japoneses são os menos propensos (4%) a responder ao e-mail em comparação com qualquer outro lugar do mundo. A proporção na Dinamarca, Suécia e Finlândia que respondeu foi significativamente menor (6 a 7%) do que em outros países desenvolvidos. A taxa no Reino Unido foi de 9%.

Já adolescentes no México (30%) e no Chile (27%) foram os que apresentaram maior risco de cair nos golpes – quase um quarto estava propenso a responder.

Não foi encontrada diferença de gênero, ou seja, os meninos são tão propensos a responder quanto as meninas. No entanto, os adolescentes de origens socioeconômicas desfavorecidas são significativamente mais propensos a clicar no link, de acordo com os resultados.

A maior diferença foi baseada nas habilidades de aprendizado, sendo que um quarto dos alunos com baixo desempenho respondeu que clicar era a resposta apropriada, em comparação com apenas 5% dos que tinham as melhores pontuações em leitura.

Instruções nas escolas são insuficientes

O estudo também investigou se os alunos que recebem instruções nas escolas sobre os perigos de e-mails de phishing correm menos riscos de serem enganados. Não houve nenhuma “evidência clara" de que os alunos orientados sobre esses golpes estavam mais protegidos.

As limitações do estudo incluem o fato de que ele se baseia em respostas a perguntas de pesquisa, ou seja, não captura necessariamente como os adolescentes agiriam na vida real. Mesmo assim, os resultados são preocupantes e reforçam a ideia de que educação digital é algo urgente, ainda mais para jovens menos favorecidos economicamente.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin