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Emagrecimento: ingerir mais proteínas pode impedir recuperação do peso

Estudos mostram que mais de 50% da perda de peso é recuperada em dois anos e que mais de 80% é recuperada em cinco anos - iStock
Estudos mostram que mais de 50% da perda de peso é recuperada em dois anos e que mais de 80% é recuperada em cinco anos - iStock

Redação Publicado em 14/12/2022, às 12h00

Um estudo recente investigou as causas da recuperação do peso após a perda devido a uma dieta. Os achados mostraram que dietas ricas em proteínas ajudam a promover o controle de peso, reduzindo os níveis de uma bactéria intestinal específica ligada à absorção intestinal de gordura. Os pesquisadores observaram que a redução dos níveis de bactérias intestinais específicas, por meio de uma dieta rica em proteínas ou antibióticos, pode promover a perda de peso sustentada após a restrição alimentar. O estudo foi publicado na Nature Metabolism.

Como é sabido, a obesidade tem vários efeitos sobre a saúde, incluindo aumento do risco cardiovascular e de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), 42% dos adultos nos Estados Unidos com 20 anos ou mais são obesos. Além do mais, 73,6% de adultos na mesma faixa etária vivem com obesidade ou excesso de peso. No Brasil, segundo o estudo realizado pelo Atlas Mundial da Obesidade em 2022 e divulgado pela Federação Mundial da Obesidade, é esperado que o país viva com 29,7% da população adulta com obesidade até 2030. Deste total, 33,2% serão mulheres e 25,8% serão homens.

Perder peso é o principal objetivo dos tratamentos da obesidade. No entanto, revisões recentes da literatura relatam que, após a perda inicial, a recuperação do peso é típica. Além disso, uma meta-análise de 2001 de dietas para perda de peso descobriu que mais de 50% da perda é recuperada em dois anos e que mais de 80% do peso perdido é recuperado em cinco anos.

Compreender como prevenir a recuperação do peso após a restrição alimentar pode abrir caminho para melhores planos de tratamento da obesidade. Recentemente, os pesquisadores estudaram os efeitos de dietas com níveis variados de proteína nos níveis de gordura em camundongos após restrição alimentar.

Tonia Vinton, professora assistente de medicina interna especializada em obesidade no Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas, não envolvida no estudo, disse ao Medical News Today que este estudo sugere que, após um curto período de restrição alimentar – como jejum intermitente ou tentativas de dieta de baixa caloria –, uma dieta rica em proteínas pode impedir a recuperação de peso, aumentando as bactérias intestinais Lactobacillus, que limitam a absorção intestinal de lipídios.

Como a dieta leva à recuperação do peso

Pesquisas anteriores, de 2018, sugerem que algumas dietas podem promover a recuperação do peso alterando a composição das bactérias intestinais. Para o presente estudo, os pesquisadores investigaram como a restrição alimentar seguida de alimentação ilimitada afetou a massa gorda. Eles descobriram que a realimentação após a restrição alimentar levava a um rápido acúmulo de gordura.

A partir de experimentos posteriores, eles observaram que o aumento nos níveis de gordura ocorreu devido ao aumento da absorção de gordura nos intestinos, em oposição ao aumento da ingestão de alimentos. Em seguida, os pesquisadores analisaram amostras de sangue de camundongos antes, durante e após a restrição alimentar de curto prazo para identificar maneiras potenciais de sustentar a perda de peso. Eles descobriram que certos aminoácidos no sangue aumentaram durante e após a restrição alimentar.

Efeitos da ingestão de proteínas no controle de peso

Para entender como os níveis de proteína podem influenciar a absorção de gordura pós-dieta, os pesquisadores alimentaram camundongos com uma dieta rica em proteínas, uma dieta normal em proteínas ou uma dieta pobre em proteínas após uma restrição alimentar de curto prazo. Eles descobriram que as ricas em proteínas eram mais eficazes na prevenção da rápida recuperação do peso e também mantinham parcialmente a perda de peso depois disso. Para entender isso melhor, analisaram os efeitos no gasto de energia. Camundongos alimentados com proteínas normais tiveram maior gasto de energia do que aqueles com dieta rica em proteínas, indicando que os benefícios de uma dieta rica em proteínas vieram de outro lugar.

A partir de testes adicionais, descobriram que dietas ricas em proteínas diminuíram a absorção intestinal de gordura. Em seguida, analisaram amostras fecais de camundongos alimentados com altas quantidades de proteína e quantidades normais de proteína após restrição alimentar. Eles descobriram que ratos em dietas normais tinham níveis mais altos de bactériasLactobacillus do que aqueles em dietas ricas em proteínas.

Para ver se os níveis de Lactobacillus influenciaram a recuperação do peso, os pesquisadores trataram camundongos com penicilina por uma semana antes de colocá-los em dietas restritivas. Descobriram que a penicilina reduziu Lactobacillus sem afetar outras bactérias e reduziu significativamente a absorção intestinal de gordura posteriormente. Os pesquisadores concluíram que direcionar Lactobacillus após a restrição alimentar com uma dieta rica em proteínas ou antibióticos pode prevenir a obesidade após a dieta.

Limitações dos modelos de ratos

Tonia disse que a estratégia de proteína usada no estudo pode parecer atraente para aqueles que querem perder peso, mas observou que os dados ainda são limitados para apoiar a abordagem. Quando perguntado sobre as limitações do estudo, John Thyfault, Professor de Biologia Celular e Fisiologia no Centro Médico da Universidade de Kansas, não envolvido no estudo, disse à MNT: “O papel dos ácidos biliares reduzidos e o papel do aumento da espécie da microbiota Lactobacillus para alterar a digestão e absorção de lipídios são interessantes, mas precisariam ser validados em seres humanos. Além disso, usar um probiótico para fulminar Lactobacillus é uma abordagem não direcionada que pode afetar uma série de outros mecanismos”.

Porém, os resultados podem ser ainda mais limitados, pois os camundongos estudados não eram modelos de obesidade. Idealmente, modelos de camundongos obesos no início e subsequentemente submetidos à restrição alimentar e à realimentação seriam avaliados. Além disso, o estudo não levou em consideração o comportamento humano, que difere dos  camundongos. Comportamentos como desejos, saciedade e fome desempenham um papel importante na perda e na recuperação do peso. Quando as pessoas perseguem metas de perda de peso, também aumentam os exercícios, por exemplo. E isso não foi levado em consideração, no entanto o tipo de exercício também é crítico em uma jornada de perda de peso.

Dicas para um controle de peso saudável

Para manter o peso após uma dieta, o recomendado é que os pacientes consumam níveis suficientes de proteína. Essa ingestão suficiente ajuda a preservar a massa corporal magra durante a fase ativa da perda de peso. A preservação da massa corporal magra promove a saúde geral e a qualidade de vida, principalmente à medida que envelhecemos.

Krista Varady, professora de nutrição na Universidade de Illinois, em Chicago, não envolvida no estudo, listou cinco pontos para manter o peso a longo prazo:

  • Comer alimentos menos processados;
  • Consumir mais frutas e vegetais;
  • Caminhar pelo menos 8.000 passos por dia;
  • Conhecer as necessidades calóricas e rastrear calorias usando um aplicativo;
  • Cozinhar em casa em vez de comer em restaurantes.

O recomendado é que os pacientes abordem a obesidade como uma condição médica crônica em vez de um obstáculo temporário à vida. Hábitos de estilo de vida, como aumentar os níveis de exercício e fazer uma refeição bem balanceada, rica em proteínas e fibras, são cruciais para manter a perda de peso.

Fonte: Medical News Today

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