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Ejaculação precoce tem a ver com autocontrole?

Estudo mostra que a impulsividade pode contribuir para a gravidade da disfunção - iStock
Estudo mostra que a impulsividade pode contribuir para a gravidade da disfunção - iStock

A ejaculação precoce é a disfunção sexual relatada com maior frequência entre os homens. Definida como a ejaculação que ocorre antes do desejado — geralmente dentro de um minuto após a penetração vaginal, a condição é muito comum em jovens, mas também pode afetar os mais velhos.

Embora os tratamentos e as explicações para a ejaculação precoce possam variar, pesquisadores têm apontado fatores psicológicos, neurobiológicos ou relacionais como os principais responsáveis pela disfunção.

O papel da impulsividade

Um estudo publicado este ano sugere que homens com ejaculação precoce ao longo da vida tendem a apresentar maiores níveis de impulsividade. Isso indica que dificuldades de autocontrole podem contribuir para a gravidade da condição.

As descobertas, publicadas no The Journal of Sexual Medicine, também mostram que depressão e ansiedade são mais prevalentes entre os indivíduos afetados, destacando as complexas dimensões psicológicas dessa disfunção sexual.

A equipe de pesquisa focou em uma amostra de 80 homens heterossexuais com idades entre 18 e 45 anos na Turquia. Metade apresentava ejaculação precoce ao longo da vida, enquanto o grupo controle de 40 homens não apresentava histórico de disfunção sexual ou transtorno psiquiátrico. Todos estavam em relacionamentos sexuais regulares há pelo menos seis meses e mantinham relações vaginais pelo menos uma vez por semana.

Os tempos de ejaculação foram medidos pelos participantes e suas parceiras usando cronômetros durante as relações sexuais, um método escolhido para minimizar o viés e a subjetividade. E todos os homens completaram uma bateria de avaliações psicológicas para medir diferentes aspectos da impulsividade, depressão e ansiedade.

Os pesquisadores descobriram que os homens com sintomas mais graves de ejaculação precoce também tiveram pontuações mais altas em todas as medidas de impulsividade. Eles exibiram maiores níveis de urgência, pior planejamento, maior busca por sensações e menor perseverança em comparação ao grupo controle. Da mesma forma, revelaram níveis mais altos de impulsividade motora, impulsividade atencional e planejamento deficiente.

Ansiedade e depressão 

Os níveis de ansiedade e depressão também foram mais elevados entre os homens com ejaculação precoce. Em média, eles pontuaram cerca de seis vezes mais em medidas de depressão e quase cinco vezes mais em ansiedade em comparação ao grupo controle.

Embora o estudo não tenha conseguido determinar se esses sintomas psicológicos causam a ejaculação precoce ou resultam dela, os dados sugerem uma forte conexão entre os dois.

Os que apresentavam os tempos mais curtos de ejaculação tendiam a obter as pontuações mais altas nas medidas de impulsividade, especialmente nas áreas de urgência e impulsividade motora.

Esses indivíduos também demonstraram maior busca por sensações e menor persistência, sugerindo uma possível relação entre baixo autocontrole e ejaculação extremamente rápida. Já os níveis de depressão e ansiedade não variaram muito de acordo com o tempo de ejaculação.

Nova abordagem terapêutica? 

Os autores observam que esses resultados reforçam um crescente corpo de pesquisas que relacionam a ejaculação precoce não apenas a fatores neurobiológicos e hormonais, mas também a traços comportamentais como a impulsividade.

Se confirmadas, essas descobertas abrem caminho para novas possibilidades terapêuticas. Tradicionalmente, a ejaculação precoce tem sido tratada com técnicas comportamentais ou medicamentos que afetam os níveis de serotonina.

Mas se a impulsividade for mesmo um fator-chave da condição, abordagens terapêuticas que melhorem a autorregulação — como a terapia cognitivo-comportamental ou treinamentos baseados em mindfulness — podem oferecer benefícios adicionais.

Referência

Impulse control and its association with ejaculation time in men with premature ejaculation”. Tarık Sağlam, Uğur Takım, Yasin Kavla, Demirhan Örsan Demir, and Şenol Turan. The Journal of Sexual Medicine (2025).

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin