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"É só estresse" ou é a menopausa chegando?

Problemas para dormir podem surgir bem antes de a menopausa chegar - iStock
Problemas para dormir podem surgir bem antes de a menopausa chegar - iStock

Você sabia que existem mais de 40 sintomas listados decorrentes da queda hormonal vivenciada no climatério e na menopausa? Além do famoso fogacho, aquelas ondas de calor que podem causar extremo incômodo durante o dia ou prejudicar o sono, queda de libido e ressecamento da pele, há muitas outras manifestações possíveis, nem sempre associadas pela mulher ao período. Até porque esses sintomas podem começar muito antes de a menopausa, propriamente dita, acontecer (ou seja, quando a mulher completa 12 meses consecutivos sem menstruar). E isso também faz com que as queixas sejam negligenciadas ou confundidas com outras questões, depois de receberem um rótulo do tipo “é estresse” ou “é coisa da idade”.

“Estamos falando mais abertamente sobre o assunto, porém a falta de informação ainda é enorme sobre esta fase da vida”, comenta Márcia Cunha, psicanalista e fundadora da femtech Plenapausa. A mulher que está informada tende a levar os sintomas para o médico mais cedo, o que pode trazer muitas vantagens em termos de saúde e qualidade de vida.

Para a maioria das mulheres, a menopausa ocorre em torno dos 50-51 anos, sendo que o climatério começa já a partir dos 40-45 anos. Mas é preciso levar em conta que algumas mulheres podem deixar de menstruar ainda na faixa dos 40 anos de idade.

Segundo a ginecologista Natacha Machado, a menopausa precoce, com menos de 30 anos de idade, ainda é algo incomum. Mas a exposição das pessoas aos chamados xenoestrogênios, substâncias presentes em diferentes produtos e no meio ambiente que interferem na nossa resposta hormonal, também tem colaborado tanto para a puberdade precoce quanto para a chegada mais cedo da menopausa.

Mais sintomas do que você imagina

Veja, a seguir, alguns dos principais sintomas vivenciados pela mulher no climatério:

  • ressecamento e afinamento do cabelo,
  • ressecamento da pele e das mucosas (olho, boca e vagina)
  • desconforto no sexo (devido ao ressecamento vaginal)
  • diminuição da libido
  • atrofia urogenital
  • infecções urinárias de repetição
  • incontinência urinária
  • dor de cabeça
  • zumbido no ouvido
  • mudanças de humor
  • maior tendência a depressão e crises de ansiedade
  • irritabilidade
  • intolerância
  • alteração na concentração/foco/memória
  • lapsos de memória ou apagões
  • alterações importantes do sono, como dificuldade de iniciar o sono, despertar no meio da noite ou acordar cedo demais
  • fadiga crônica, cansaço desproporcional
  • mudança na composição corporal (flacidez, perda da massa magra e ganho de gordura abdominal)
  • calorão/fogacho (alteração de até 4º na temperatura do corpo), causando suor, desconforto e rubor facial
  • irregularidade menstrual 
  • dores musculares e articulares
  • sensação de rigidez matinal
  • formigamento

“O ideal é que essa mulher seja tratada logo no início do climatério, ou seja, onde essas alterações clínicas começam a aparecer”, afirma a ginecologista Natacha Machado. “Definitivamente não se espera a menopausa chegar se a paciente já apresentou os sintomas antes e o tratamento uma vez iniciado deve ser mantido, levando em consideração que não existe um prazo limite para terminar o tratamento, sendo a paciente reavaliada anualmente”, continua.

Quem não deve fazer a terapia hormonal? 

Quais são as contraindicações para a terapia de reposição hormonal? E quais as opções para essas mulheres? A ginecologista explica que as únicas contraindicações absolutas são no caso de doenças que respondem a hormônios, como câncer de mama (com histórico pessoal), câncer de ovário ou tumor hormônio-independente.

“Em casos de quadro clínico agudo, essa mulher deve esperar estabilizar para iniciar a reposição, como por exemplo: alterações do fígado, pressão arterial, glicemia, nestes casos a mulher precisa estar estabilizada, mas não é uma contraindicação absoluta”, avisa a médica.

“Quanto a histórico pessoal de trombose, essa mulher vai precisar ser avaliada sobre possíveis outros fatores de risco, visto que o hormônio por si só não é uma contraindicação, mas ela precisa ser avaliada individualmente. Todo o resto, como infarto, AVC, histórico familiar de câncer deve ser avaliado de forma individual, ou seja, são contraindicações relativas e não absolutas", acrescenta. 

Uma vez que essa mulher não possa ou não queira fazer reposição hormonal o direito e a necessidade de tratamento permanecem. Além de atividades físicas regulares, alimentação equilibrada e atenção à saúde mental, podem ser indicados fitoterápicos, alguns tipos de antidepressivos e, mais recentemente, o uso de canabinoides, de acordo com a ginecologista.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin