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Dieta Mediterrânea é eficaz na prevenção de demência e diabetes

Dois estudos recentes importantes mostram que a dieta pode fazer uma grande diferença para a saúde - iStock
Dois estudos recentes importantes mostram que a dieta pode fazer uma grande diferença para a saúde - iStock

Dois estudos importantes publicados recentemente mostram que ter uma dieta saudável é realmente capaz de afastar o risco de doenças bastante temidas pela população, inclusive quando existe uma propensão genética para desenvolvê-las. E, quando se fala em comer saudável, a referência continua sendo a Dieta Mediterrânea.

Um dos trabalhos, publicado na prestigiada Nature, revela que a dieta mediterrânea reduziu o risco de demência em pelo menos 35% em pessoas com duas cópias do gene APOE4, um importante fator de risco para o alzheimer.

A equipe, coordenada por Yuxi Liu, pesquisadora do Brigham and Women’s Hospital e da Harvard Medical School, nos EUA, acompanhou mais de 5.700 pessoas durante 34 anos para chegar à conclusão.

Os participantes eram homens e mulheres entre 55 e 75 anos que faziam parte do Nurses' Health Study (iniciado em 1976 para investigar fatores nutricionais de risco de doenças crônicas em mulheres) e do Health Professionals Follow-Up Study (que acompanha a saúde e dieta de homens desde 1986).

Propensão genética ao alzheimer

Todos os participantes que seguiam uma dieta mediterrânea básica (com pouco álcool, carne vermelha e processada, mas rica em vegetais, frutas, nozes, grãos integrais, legumes, peixes e azeite de oliva) tiveram menor risco de demência. Mas o benefício foi ainda maior para pessoas com o gene APOE4, especialmente aquelas com duas cópias do gene.

Outra grande descoberta do estudo é que pessoas com o gene APOE4 parecem ter perfis metabólicos distintos que respondem de forma marcante aos nutrientes saudáveis da dieta mediterrânea.

Para especialistas, a descoberta muda a noção atual de que ter duas cópias do APOE4 é uma espécie de garantia de que a pessoa vai ter alzheimer.

Outras evidências

Este não é o primeiro estudo a encontrar uma ligação entre a dieta Mediterrânea e outras dietas à base de vegetais com o risco de demência. Um grande estudo com mais de 60.000 pessoas no Reino Unido em 2023 descobriu que aquelas que seguiram a dieta mediterrânea mais à risca tiveram até 23% menos risco de demência em comparação com quem não seguiu bem a dieta.

Outro estudo de 2023, que analisou tecido cerebral, reforçou esses achados. Pessoas que consumiam alimentos das dietas Mediterrânea e MIND (parecida com a Mediterrânea, mas focada na saúde cerebral) tiveram quase 40% menos chances de apresentar os sinais clássicos do alzheimer – as placas de beta-amiloide e emaranhados de tau no cérebro – quando examinadas em autópsia.

E não é só isso: adicionar apenas uma categoria de alimento de qualquer uma das dietas — como comer as quantidades recomendadas de vegetais ou frutas — reduziu o acúmulo de amiloide no cérebro a um nível semelhante ao de alguém cerca de quatro anos mais jovem, mostrou o estudo.

Prevenção do diabetes tipo 2

Outro grande ensaio clínico, que durou seis anos, descobriu que idosos que combinaram a dieta mediterrânea com exercícios regulares tiveram muito menos chances de desenvolver diabetes tipo 2 do que aqueles que apenas mudaram a dieta.

Pesquisadores de Harvard e de 23 hospitais espanhóis estudaram mais de 4.700 adultos de 55 a 75 anos com síndrome metabólica e excesso de peso ao longo do período. Um grupo seguiu a dieta mediterrânea tradicional, rica em frutas, vegetais, nozes e azeite extravirgem, limitando carnes e açúcares adicionados.

O outro grupo seguiu uma dieta semelhante, mas também reduziu em 600 calorias sua ingestão diária e cumpriu recomendações de atividade física que incluíam cerca de 45 minutos de exercícios aeróbicos seis dias por semana, exercícios de equilíbrio e flexibilidade pelo menos três dias por semana e treino de força pelo menos dois dias por semana.

O programa de atividade física incluía atividades aeróbicas, como caminhada rápida ou qualquer atividade equivalente de intensidade moderada (por exemplo, hidroginástica, ciclismo, natação etc). Os nutricionistas adaptaram as recomendações de acordo com a aptidão e as preferências dos participantes.

Aqueles que reduziram calorias e praticaram exercícios apresentaram uma redução significativa de 31% no risco de diabetes tipo 2 — apesar da perda média de peso relativamente pequena, de cerca de três quilos ao longo do estudo.

Os autores sugerem que os possíveis efeitos anti-inflamatórios da dieta podem atuar em conjunto com os efeitos de redução de gordura da menor ingestão calórica e da atividade física para reduzir o risco de diabetes.

Em outras palavras, o estilo de vida é mais importante do que a loteria genética, quando se pensa em prevenção de doenças.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin