Estudo também mostra que uso frequente de redes sociais também está ligado à condição
Tatiana Pronin Publicado em 01/07/2025, às 10h00
Você já ouviu falar em “dependência amorosa”? O amor é sempre visto como uma força poderosa e positiva, mas, em alguns casos, pode se tornar um tipo de obsessão, que traz muito sofrimento para a pessoa e, muitas vezes, para quem é alvo desse sentimento avassalador.
Dependência amorosa é um termo usado para descrever um padrão de pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos direcionados a um parceiro romântico, geralmente acompanhados por instabilidade emocional, ansiedade na ausência do parceiro e um foco excessivo em manter o relacionamento.
Indivíduos com esse padrão podem apresentar sintomas semelhantes aos observados na dependência de substâncias, como oscilações de humor, perda de controle e desejo intenso. Apesar do sofrimento emocional frequentemente associado a esses sintomas, a dependência amorosa tem recebido pouca atenção por parte de profissionais de saúde.
Um estudo recente traz algumas informações novas sobre o fenômeno, o que pode levar a tratamentos mais eficazes contra esse tipo de sofrimento no futuro.
Pesquisadores descobriram que pessoas com sintomas de dependência amorosa têm maior probabilidade de relatar problemas de funcionamento cognitivo, ou seja: memória, atenção, planejamento e regulação emocional, tanto na vida cotidiana quanto no trabalho.
Esses efeitos parecem estar intimamente ligados à ansiedade e à depressão, que por sua vez estão associadas a níveis mais altos de dependência amorosa.
O estudo também revela que o uso intenso de redes sociais é um forte indicador de sintomas de dependência amorosa.
As descobertas, publicadas na revista Behavioural Brain Research, oferecem novas perspectivas sobre como a dependência emocional de parceiros românticos pode afetar o desempenho mental e o bem-estar.
Para investigar essas questões, os pesquisadores analisaram dados de 600 adultos italianos que responderam a um questionário online entre julho de 2022 e maio de 2023. Os participantes tinham entre 18 e mais de 50 anos, sendo a maioria entre 26 e 35 anos. Cerca de três quartos eram mulheres e mais de dois terços possuíam diploma universitário.
A pesquisa incluiu uma variedade de medidas psicológicas e cognitivas padronizadas, incluindo avaliações de ansiedade, depressão, resiliência, memória, atenção e uso de redes sociais.
Os participantes foram divididos em três grupos com base no nível de sintomas de dependência amorosa: sem sintomas, sintomas leves a moderados e sintomas graves.
Em comparação com os indivíduos sem sintomas, os grupos com sintomas leves e graves relataram falhas cognitivas mais frequentes, incluindo dificuldades para lembrar informações, manter a concentração e concluir tarefas no trabalho ou em casa. Essas dificuldades subjetivas foram especialmente evidentes no grupo com sintomas graves.
Curiosamente, mesmo aqueles com apenas sintomas leves de dependência amorosa relataram declínios perceptíveis no funcionamento cognitivo percebido. Também relataram níveis mais altos de ansiedade e depressão.
Análises estatísticas revelaram que esses sintomas psicológicos mediavam a ligação entre a dependência amorosa e as queixas cognitivas. Em outras palavras, a dependência amorosa parece contribuir para o sofrimento emocional, que por sua vez faz com que as pessoas se sintam cognitivamente menos capazes.
O estudo também mostrou que pessoas que usavam redes sociais com mais frequência tinham maior probabilidade de apresentar sintomas de dependência amorosa. Isso foi verdadeiro mesmo após o controle de outros fatores, como idade, gênero e escolaridade.
Para testar a precisão dos resultados, os pesquisadores realizaram análises adicionais excluindo participantes com diagnósticos psiquiátricos. Os resultados permaneceram em grande parte os mesmos, sugerindo que os efeitos da dependência amorosa sobre o declínio cognitivo percebido não são apenas reflexo de transtornos clínicos que a pessoa tem.
Os pesquisadores também inverteram a análise para testar se a ansiedade e a depressão poderiam ser a causa da dependência amorosa, mas essa explicação alternativa não foi apoiada pelos dados.
Além dos efeitos cognitivos, o estudo identificou outras diferenças importantes entre os grupos. Pessoas com sintomas mais graves de dependência amorosa tendiam a ter menor nível de escolaridade, menor resiliência e estratégias de enfrentamento menos eficazes. Esses indivíduos também eram mais propensos a fazer uso de medicações psicotrópicas e a relatar histórico de condições psicológicas.
Embora o estudo seja baseado em dados auto-relatados e não possa confirmar relações de causa e efeito, ele levanta preocupações importantes sobre como o apego emocional, os hábitos nas redes sociais e a saúde mental podem interagir para moldar a percepção que as pessoas têm do seu próprio funcionamento cognitivo.
Os autores observam que pessoas que vivenciam dependência amorosa frequentemente descrevem sofrimento emocional intenso, especialmente quando os relacionamentos são marcados por rejeição ou instabilidade. Essa turbulência emocional pode não apenas prejudicar a sensação de bem-estar, mas também interferir na capacidade de funcionar na vida cotidiana.
Do ponto de vista clínico, os resultados sugerem que o tratamento da ansiedade e da depressão em pessoas com dependência amorosa pode ajudar a aliviar as queixas cognitivas que elas experimentam. Essa abordagem pode envolver terapia, medicação ou outras intervenções voltadas à regulação emocional.
O estudo também destaca o papel potencial da educação e da resiliência na proteção contra a dependência amorosa, e sugere que campanhas de alfabetização digital e conscientização podem ser úteis para mitigar seu desenvolvimento, especialmente entre os jovens adultos.
Referência
“Love addiction symptoms and subjective cognitive complaints: The mediator role of depression and anxiety and the impact of social media use”. Gianpaolo Maggi, Chiara Giacobbe, Lorenzo Borrello, Angelo Barone, Clara Mastromarino, Paolo Antonelli, and Gabriella Santangelo. Behavioural Brain Research (2025).
Como saber se sou viciado em sexo? O que é considerado normal?
Ciúme pode virar doença? Como saber se passou do ponto
Você é codependente? Confira 7 comportamentos que confirmam isso
Amor platônico, romântico ou obsessivo: entenda as diferenças