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Covid: atividade física regular melhora resposta à vacina, diz estudo

Quem faz pelo menos 150 minutos de atividade física por semana pode ter mais benefícios com a vacina - iStock
Quem faz pelo menos 150 minutos de atividade física por semana pode ter mais benefícios com a vacina - iStock

Redação Publicado em 11/08/2021, às 14h00

Fazer exercícios físicos regularmente não é só uma forma de manter o corpo forte e o estresse distante. O hábito pode turbinar nossa resposta às vacinas contra a Covid-19, segundo pesquisadores brasileiros.

Uma equipe da Universidade de São Paulo (USP) chegou a essa conclusão após analisar os efeitos da atividade física na resposta iunológica de mais de 1.095 voluntários, imunizados com a CoronaVac, e que tiveram amostras de sangue coletadas entre 28 e 69 dias após a segunda dose.

As informações são de reportagem de Karina Toledo, da Agência Fapesp

Duas horas e meia por semana

O benefício foi constatado principalmente entre os participantes fisicamente ativos. Entram nessa categoria aqueles que praticam pelo menos 150 minutos de atividades físicas por semana e não passam mais de oito horas por dia sentados ou deitados, algo que caracteriza um comportamento sedentário.

Foram levadas em conta não apenas atividades físicas tradicionais (como caminhada, corrida, natação e dança), mas também exercícios realizados em momentos de lazer (como jardinagem e passeios com o cachorro), deslocamentos (ir a pé ou de bicicleta para o trabalho ou escola) e até o trabalho doméstico ou laboral (como limpar a casa, carregar peso, realizar consertos etc).

Em segundo lugar no “ranking” de melhores respostas vacinais aparecem os indivíduos ativos, mas também sedentários – aqueles que passam o dia todo sentados diante do computador, por exemplo, mas ainda assim praticam 150 minutos de atividades físicas por semana. Os inativos e sedentários foram os que apresentaram pior desempenho, ou seja, uma resposta mais baixa após terem sido vacinados.

Anticorpos contra a Covid

Vários testes de laboratório foram realizadas para determinar como cada pessoa reagiu à imunização, como a produção total de anticorpos contra o Sars-CoV-2 (IgG total) e a quantidade específica de anticorpos neutralizantes (NAb), estes capazes de impedir a entrada do vírus nas células.

Os voluntários que apresentaram no teste de IgG total ao menos 15 unidades arbitrárias de anticorpos por mililitro de sangue são os que atingiram o que os cientistas chamam de “soroconversão”. Para o teste de anticorpos neutralizantes, foi considerada positiva a resposta que envolvia ao menos 30% de inibição na ligação entre o vírus da Covid e o receptor ACE2, presente em algumas células humanas, processo que viabiliza a infecção.

Pessoas com doenças autoimunes

Um detalhe importante é que pesquisa incluiu mais de 800 pessoas com doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus (ou seja, a maioria da amostra). Por utilizarem medicamentos que interferem no sistema imunológico, elas podem ter uma resposta mais fraca às vacinas, como mostrou um trabalho anterior da mesma equipe.

A boa notícia é que, até mesmo entre esses indivíduos, a atividade física regular trouxe melhora na resposta à vacina. De acordo com o principal autor Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), para cada dez pessoas inativas que se soroconvertem após a imunização completa, existem 14 fisicamente ativas que têm o mesmo resultado (uma chance 1,4 maior).

Participantes com doença autoimune não tiveram melhora estatisticamente relevante em relação aos anticorpos neutralizantes, mas apresentaram aumento de 32% na quantidade de anticorpos em duas regiões da chamada “proteína spike”, usada pelo vírus para se conectar ao receptor ACE2 e entrar na célula.

Já para pessoas sem doença autoimune, a probabilidade de atingir a soroconversão foi 9,9 vezes maior, e foi observado um aumento de 26% na quantidade de anticorpos contra a proteína spike. Como esses indivíduos foram minoria, os resultados de anticorpos neutralizantes também não tiveram relevância estatística.

50 minutos ou mais

As respostas mais consistentes foram vistas entre os pacientes que realizavam 50 minutos ou mais de atividade física diariamente. Não é pouco, mas ganhar mais proteção contra o coronavírus pode ser um estímulo e tanto para quem está parado. Vale acrescentar que ser ativo fisicamente também dimiui o risco de agravamento da Covid-19. Em função de tudo isso, é fundamental que se criem políticas públicas para estimular a prática de exercícios.

Os autores do trabalho lembram, ainda, que há outros estudos mostrando que se exercitar também melhora as respostas às vacinas contra a gripe, o vírus da varicela-zoster e a doença pneumocócica. O estudo está na plataforma Research Square, para processo de revisão por pares.