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Covid-19: vacinação deve priorizar pessoas com transtorno mental grave

Estudo diz que pacientes com doença mental grave devem receber a vacina da Covid-19 logo - iStock
Estudo diz que pacientes com doença mental grave devem receber a vacina da Covid-19 logo - iStock

Redação Publicado em 11/02/2021, às 12h53

Transtornos psiquiátricos, especialmente os graves, estão associados a um risco aumentado de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) relacionada à Covid-19. Por isso, pessoas com essas condições devem ser priorizadas nas estratégias de vacinas, alerta um artigo publicado na edição mais recente da revista The Lancet Psychiatry.

Pesquisadores da Universidade Católica de Leuven e da Universidade da Antuérpia, na Bélgica, apresentam dados de diversos estudos recentes que demonstram o alto índice de mortes e complicações pelo Sars-CoV-2 entre indivíduos com doença mental grave. O termo refere-se à esquizofrenia, o transtorno bipolar e o transtorno depressivo maior, mas também pode ser aplicado a qualquer transtorno que envolva um forte comprometimento funcional.

De acordo com a Pesquisa Mundial de Saúde Mental, a prevalência de transtornos mentais graves é estimada entre 0,4% e 7,7%.  No entanto, como a pandemia afetou a prevalência de transtornos psiquiátricos mais severos ainda é algo que está em estudo.

Por que o risco é maior?

Pessoas com doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), diabetes, doença renal crônica, imunodeficiência e câncer têm sido apontadas como as que devem ser priorizadas na vacinação contra a Covid-19, já que apresentam risco maior de morrer ou sofrer com sequelas da doença.

Mas os pesquisadores reforçam a importância de se incluir pessoas com doença mental grave nessa categoria. Vários estudos encontraram uma associação significativa entre a existência de transtorno psiquiátrico e o aumento nos riscos de infecção, hospitalização, morbidade e mortalidade relacionadas à Covid-19.

Indivíduos com doença mental grave têm uma taxa de mortalidade de duas a três vezes maior do que a população em geral. Isso porque essas pessoas têm maior probabilidade de sofrer de obesidade ou doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e doenças do trato respiratório, todos fatores de risco para complicações pelo Sars-CoV-2.

Além disso, a prevalência de tabagismo é até duas a três vezes maior em pessoas com doença mental grave do que em pessoas sem doença psiquiátrica. O novo coronavírus usa o receptor da enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) para obter acesso às células e causar infecção. E fumantes têm maior expressão de ACE2 nas células epiteliais dos pulmões, em comparação com ex-fumantes e não tabagistas.

Estresse e problemas de sono

Além do risco aumentado por causa da alta prevalência de doenças associadas a complicações por Covid-19, os pesquisadores avaliam que ainda existe um risco adicional. Pesquisas mostram que pacientes com doença mental grave têm a função imunológica alterada pela presença de um estado pró-inflamatório.

Um dos fatores associados a alterações na imunidade é a presença de traumas ou adversidades na infância, algo que também aumenta a probabilidade de ter uma doença mental grave. Estresse crônico, que tem um papel importante no início de doenças graves e prejudiciais transtornos psiquiátricos, é outro fator que prejudica a regulação do sistema imunológico.

Estresse crônico e problemas de sono, que são comuns em muitos transtornos psiquiátricos, também estão frequentemente associados a um sistema imunológico desregulado e aumento do risco de infecção aguda.

Além disso, a exclusão social e a solidão estão associadas ao aumento da inflamação e à desregulação da imunidade antiviral, outro fator ligado à doença mental grave. Essas alterações imunológicas podem predispor essas pessoas a uma infecção por Sars-CoV-2 mais grave e com pior evolução.

Resposta à vacinação

Embora a necessidade de vacinação seja clara, a revisão da Lancet ainda chama atenção para o fato de que, segundo diversos estudos, adultos com doença mental grave tendem a ter uma resposta imunológica reduzida a diferentes imunizantes, como o da gripe e da hepatite B, por exemplo. Os pesquisadores também lembram que não há pesquisas que avaliem como os psicotrópicos afetam a resposta à vacinação.  

Como garantir acesso?

O estudo relata que pacientes com doenças mentais graves muitas vezes enfrentam barreiras à imunização, incluindo falta de conhecimento, problemas de acessibilidade, temores sobre a imunização e, ainda, falta de orientação por parte dos profissionais de saúde mental.

Por outro lado, um estudo demonstra que pacientes com depressão e ansiedade têm maior tendência a se vacinar contra a gripe, provavelmente porque visitam o médico com frequência maior que indivíduos sem essas condições.

Os autores do estudo concluem que os psiquiatras podem atenuar alguns desses obstáculos, caso recebam as orientações necessárias para auxiliar seus pacientes.